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Censo 2022: Jovens e do sexo masculino são maioria entre indígenas e quilombolas

Segundo dados do IBGE, no caso dos indígenas, 56,1% têm menos de 30 anos. Já 48,44% dos quilombolas, 29 anos ou menos

Antonio Cruz/Agência Brasil
Antonio Cruz/Agência Brasil
Apesar do perfil jovem, indígenas e quilombolas têm queda na população, associada à possível redução na fecundidade

São Paulo – As populações indígenas e quilombolas possuem perfil mais jovem do que o observado na população total do Brasil. Entre os dois grupos, homens estão em proporção bem mais elevada do que a média geral do país. É o que revela dados do Censo de 2022, divulgados nesta sexta-feira (3) pelo IBGE que, pela primeira vez traz as estatísticas sobre idade e sexo dessas populações tradicionais.

No caso dos povos originários, 56,1% dos povos originários têm menos de 30 anos. Quando considerados apenas os residentes em Terras Indígenas, esse percentual sobe para 68,9%. No ano passado, os dados do Censo já haviam identificado a presença de 1.694.836 indígenas vivendo dentro das fronteiras brasileiras. O que representa 0,83% de todos os residentes no país. Desse total, 36,73% vivem dentro de seus territórios.

Os dados também mostraram que essas populações estão distribuídas por 4.833 municípios em todas as regiões do país. Duas delas, no entanto, registram maior concentração de indígenas: a Região Norte, com 44% deles, e a Região Nordeste, com 31%. Ao detalhar os dados do recenseamento demográfico, o IBGE registrou ainda que a idade mediana dos indígenas indica uma proporção maior de jovens do que na população geral.

Perfil dos indígenas

Entre os povos originários, a mediana é de 25 anos. Enquanto que entre todos os brasileiros, a idade é 35 anos. Quando se considera apenas os residentes em TI certificadas, a mediana cai para 19. O dado mostra um perfil populacional ainda mais jovem. O índice de envelhecimento é, contudo, menor entre a população indígena. No geral, a taxa é de 80 para indicar quantos idosos com 60 anos ou mais existem para cada grupo de 100 pessoas de 0 a 14 anos. Mas entre os povos originários, ela cai para 35,5. E é ainda menor em territórios demarcados, com 14,52.

As estatísticas indicam ainda que essa população é mais masculina na comparação com o total de brasileiros. Isso ocorre sobretudo dentro das terras indígenas, onde todas as faixas etárias até os 69 anos registram predomínio de homens. O Brasil possui 94,25 homens para cada 100 mulheres. Mas, quando se observa o recorte apenas da população indígena, há 97,07 homens para cada 100 mulheres. Considerando apenas os residentes em TIs, esse proporção aumenta ainda mais. São 104,9 homens para cada 100 mulheres.

A situação apenas se inverte no recorte com indígenas que vivem fora de áreas demarcadas. Entre eles, há 92,79 homens para cada 100 mulheres. Além disso, nesta população, há predomínio masculino apenas nas faixas etárias até os 14 anos.

Perfil dos quilombolas

As populações quilombolas, que também possuem perfil mais jovem do que a população total, têm, em sua maioria (48,44%), 29 anos ou menos. Outros 38,53% ocupam a faixa etária de 30 e 59 anos. E os idosos com 60 anos ou mais representam 13,03%. A idade mediana dessa população tradicional é de 31 anos. E, assim como os indígenas, fica ainda menor quando se considera apenas os residentes em territórios quilombolas delimitados, que é de 28 anos.

De modo semelhante, o índice de envelhecimento também é menor, mas mais alto do que na população indígena. Entre os quilombolas, a taxa é de 54,98, ante 35,5 dos povos originários e 80 da população total. Segundo o IBGE, os indices de envelhecimento são mais baixos em toda a calha do Rio Amazonas e toda a região do semiárido entre Bahia, Alagoas e Pernambuco. Além disso, quando se observa o recorte apenas da população quilombola, há 100,08 homens para cada 100 mulheres.

Considerando apenas os residentes em territórios quilombolas delimitados, esse proporção aumenta ainda mais: 105,89 homens para cada 100 mulheres. Os pesquisadores levantam algumas hipóteses que explicariam esses dados, destacando porém a necessidade de estudos complementares. Eles citam uma menor mortalidade masculina, o que poderia estar relacionado a uma maior segurança nos territórios delimitados. Outra suspeita é a mortalidade materna nos territórios e uma possível migração de mulheres para outras localidades em número maior.

Base da pirâmide mais curta

Entre indígenas e quilombolas, o Censo 2022 observa que a base da pirâmide etária vem se encurtando. Apesar do perfil mais jovem, no caso dos quilombolas abaixo dos 15 anos, as faixas etárias registram populações decrescentes. Isso indica uma possível queda gradual da fecundidade nos últimos 15 anos.

Nota-se uma redução da base da pirâmide ao longo da última década entre os indígenas. O que também sugere uma ligeira redução da fecundidade dessa população. O pesquisador do IBGE, Fernando Damasco, conclui que é preciso considerar também que há especificidades envolvendo as dinâmicas territoriais de diferentes etnias e também nas variadas regiões.

“As terras indígenas da Região Nordeste têm índices de envelhecimento bastante superiores às das terras indígenas da Amazônia Legal. Isso indica dinâmicas muito próprias dos indígenas do Nordeste. Há maior proximidade com centros urbanos, fluxos mais intensos de saída e circulação para diferentes finalidades da vida cotidiana”, pontua.

Redação: Clara Assunção com informações da Agência Brasil