hipótese

PF apura provável elo entre assassinato de Marielle e disputa de terras em Jacarepaguá envolvendo Brazão

Em delação, Ronnie Lessa teria afirmado que o mandante do assassinato, apontado como Domingos Brazão, queria regularizar um condomínio de luxo desrespeitando critério de área de interesse social defendido pela vereadora

Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Renan Olaz/Câmara Municipal do Rio de Janeiro
O nome do ex-parlamentar também foi citado na delação do ex-policial militar Élcio de Queiroz, que dirigia o carro usado no crime em março de 2018

São Paulo – Uma das hipóteses da Polícia Federal (PF) para o possível envolvimento do atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e ex-deputado Domingos Brazão no assassinato de Marielle Franco é uma disputa de terras em Jacarepaguá, bairro na zona oeste do Rio. O tema apareceu em delação do ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos contra a vereadora e seu motorista Anderson Gomes, que está preso desde 2019.

Nesta semana, o site Intercept Brasil reportou que Lessa fez acordo de delação premiada para identificar o mandante, que seria Brazão. Mas como o ex-deputado tem foro privilegiado, o acordo precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Mas novas informações publicadas nesta quarta-feira (24) pelo jornal O Globo, embora não citem o nome de Brazão diretamente, dão conta de que Marielle se tornou alvo por defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda na região. Um processo de ocupação que, segundo a vereadora, também deveria ser acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação da Defensoria Pública.

No entanto, o mandante do crime buscava, conforme alegou Lessa, a regularização de um condomínio inteiro na região de Jacarepaguá sem respeitar o critério de área de interesse social. A regra de uso e ocupação do solo estabelece a construção de assentamentos habitacionais para a população mais pobre. Mas o dono, que tinha renda superior à prevista na legislação, buscava obter o título de propriedade para especulação imobiliária.

Ex-deputado seria mandante do assassinato de Marielle: acordo de delação não é confirmado

As suspeitas sobre Brazão

O ex-deputado e conselheiro do TCE já havia sido apontado outras vezes como possível mandante, mas sempre negou a acusação. Em O Globo, ele disse esperar pela conclusão das investigações. “Depois das famílias de Marielle e Anderson, posso garantir que os maiores interessados na elucidação do caso somos eu e minha família”, declarou. Em 2019, Brazão chegou a ser acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de obstruir as investigações. Ele também foi preso, durante a Operação Quinto do Ouro, sob a acusação de receber propina.

O nome do ex-parlamentar também foi citado na delação do ex-policial militar Élcio de Queiroz, que dirigia o carro usado no crime em março de 2018. Os detalhes dessa delação foram a público em julho do ano passado e é a única confirmada pela PF até o momento, conforme destacou a corporação em nota na noite de ontem. “As investigações seguem em sigilo, sem data prevista para seu encerramento. A divulgação e repercussão de informações que não condizem com a realidade comprometem o trabalho investigativo e expõem cidadãos”, advertiu a PF.

Delação

Contudo, sem evidências suficientes, os agentes federais dependiam exclusivamente de Lessa para chegar à pessoa que mandou matar a parlamentar, segundo a diário fluminense. No fim do ano passado, logo após o ex-PM aceitar a colaborar com o caso Marielle, o STJ também teria realizado duas sessões secretas para confirmar qual seria o foro das tratativas iniciais do acordo de delação premiada de Lessa.

Entre os benefícios oferecidos a Lessa estão a proteção integral à mulher e os dois filhos, além do retorno dele para um presídio fluminense. O prazo para que Lessa continue preso em uma penitenciária federal expira em 21 de março. No último dia 17, o Sistema Penitenciário Federal (SPF) se manifestou desfavorável à possibilidade de mandá-lo para uma prisão no Rio.

Perguntado sobre a possibilidade de Lessa ter apontado Brazão como mandante, o ex-deputado respondeu a O Globo que o acusado “deve estar querendo proteger alguém”. Outra hipótese levantada para o possível envolvimento de Brazão é uma rixa com o também ex-deputado Marcelo Freixo, com quem Marielle Franco trabalhou durante 10 anos. Brazão foi citado na CPI das Milícias comandada por Freixo, atualmente presidente da Embratur. O conselheiro e ex-deputado defende, porém, que “a investigação da morte da Marielle e do Anderson prendeu vários milicianos e nenhum está ligado a mim, porque não me misturo a essa gente”, afirmou.

Redação: Clara Assunção