Memória e justiça

‘Seis anos sem resposta é tempo demais’, lamentam atos por Marielle e Anderson

Nos seis anos dos assassinatos da vereadora e do motorista, familiares, partidos políticos e movimentos sociais se uniram em atos em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, entre outros, para exigir justiça e perguntar “quem mandou matar Marielle e Anderson?”

Tomaz Silva/ABr
Tomaz Silva/ABr
"Além da tristeza, ainda permanece a indignação de chegar ao marco de seis anos de um assassinato como esse sem essa resposta", afirmou a viúva de Marielle

São Paulo – Em um ato na escadaria da Câmara dos Vereadores, no centro do Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira (14), familiares e amigos de Marielle Franco e Anderson Gomes, parlamentares e movimentos sociais cobraram justiça diante da pergunta que ecoa no mundo desde a noite de 14 de março de 2018: quem mandou matar e por que a vereadora e o motorista? “Seis anos sem resposta é tempo demais”, contesta a organização Anistia Internacional.

O ato foi convocado pela vereadora Mônica Benício (Psol), viúva de Marielle, e foi marcado por girassóis levados pelos manifestantes para lembrar a parlamentar. De acordo com Mônica, a busca por justiça é o que tem dado força às famílias de Marielle e Anderson, que não conseguem viver plenamente o luto pela falta de uma resposta sobre o mandante do crime.

“Além da tristeza, ainda permanece a indignação de chegar ao marco de seis anos de um assassinato como esse sem essa resposta. É dizer que esse tipo de violência ainda é aceito na nossa sociedade com outras Marielles. Hoje é um dia de dor. Eu preferia estar na minha cama, chorando, com a minha saudade, mas a gente precisa levantar para produzir atos que não só lembrem a sociedade, mas que reivindiquem às autoridades a Justiça”, afirmou a vereadora em entrevista à Agência Brasil.

O que se sabe sobre o crime

Até o momento, quatro pessoas estão presos suspeitas de terem executado o crime. Os dois primeiros foram detidos em março de 2019. São eles os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz. Lessa é suspeito de ter fuzilado o carro onde estava a vereadora no bairro do Estácio, no centro do Rio. Já Queiroz é apontado como o condutor do carro usado no assassinato. Além deles, a polícia deteve no ano passado o ex-bombeiro Maxwell Simões Correia, o Suel. Ele foi preso após delação premiada de Queiroz, que o apontou como o responsável por monitorar as movimentações de Marielle.

O quarto homem foi preso em janeiro pelo crime. Ele é Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha, suspeito de ajudar a se desfazer do Cobalt prata, o carro usado pelos assassinos. Amigo de Marielle, o deputado federal pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) comentou que a bancada do partido busca uma reunião com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para receber atualizações sobre as investigações.

“Desde o ano passado, com o (então ministro da Justiça) Flávio Dino, sentimos mais confiança no processo de investigação. Nos últimos meses, percebemos alguns avanços importantes, o que aumenta nossa confiança de que vamos saber quem e por quê”, disse Vieira no ato. Mônica observou contudo que, apesar dos avanços significativos, segundo ela, especialmente com a delação de Élcio Queiroz, sua expectativa “era de que a gente não chegasse ao marco de seis anos sem essas respostas”, lamentou.

Protesto contra violência policial

A ativista Jurema Pinto Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional, também cobrou diretrizes para que crimes como o de Marielle e Anderson não se arrastem ou não sejam arquivados. “São 6 anos sem repostas. A Anistia Internacional apontou erros das autoridades na investigação e propôs no documento recomendações para que a morosidade não aconteça mais. Indicamos protocolos e ações para que não tenha mais demora no caso e que tenha justiça por Marielle e Anderson”, destacou ao g1.

A família também cobrou que os acusados presos sejam levados a júri popular. O ato nas escadarias foi seguido por uma missa na Igreja Nossa Senhora do Parto, na região central, perto do Buraco do Lume, onde está instalada uma estátua da vereadora. Durante a celebração também foi homenageada a memória das vítima da violência do braço armado do Estado.

Ato em SP e Recife

Em São Paulo, por exemplo, durante o ato na Escadaria Marielle Franco, em Pinheiros, na zona oeste da cidade, parlamentares também contestaram a Operação Verão, desdobramento da Operação Escudo, que já matou 43 pessoas em pouco mais de um mês na Baixada Santista.

Um ato por Marielle e Anderson também foi realizado nas escadarias da Assembleia Legislativa de Pernambuco. “Já são 6 anos de luta e saudade. Este é o momento de somar nossas vozes para um grito por justiça. São seis anos que a família de Marielle sofre com as sua ausência, após um assassinato político, frio e calculado, que também nos tirou a vida do Anderson. Assim como Mari, ele era um filho muito querido e um pai exemplar. Sua esposa Ágatha e seu filho Arthur convivem até hoje com a dor da saudade e da ausência de respostas concretas”, declarou a deputada estadual Dani Portela (Psol), que convocou a manifestação.

Os protestos por justiça pela vereadora e o motorista seguem ao longo de todo o dia pelo país. Nas redes sociais, a vereadora também vem sendo lembrada com homenagens por autoridades.

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