Violência de Estado

Com operação na Baixada Santista, mortes por policiais crescem 94% sob Tarcísio 

Letalidade policial cresce no primeiro bimestre, com alta puxada pelas mortes cometidas por PMs em serviço. Ouvidor denunciou que agentes têm intimidado moradores a não relatarem abusos

Rede X/@_CESAR_MUNOZ/Reprodução
Rede X/@_CESAR_MUNOZ/Reprodução
"A prova da intimidação que a gente colheu aqui hoje é um vídeo em que os policiais invadem uma cerimônia de sepultamento de uma vítima", afirmou o ouvidor da Polícia

São Paulo – Um mês após o início da Operação Verão, na Baixada Santista, em São Paulo, a letalidade policial cresceu 94% no primeiro bimestre, em comparação com igual período de 2023. Houve um salto de 69 para 134 mortes por policiais no período que marca ainda o segundo ano da gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em fevereiro, 39 delas aconteceram em meio à operação no litoral sul paulista.

Os dados, divulgados nesta segunda-feira (4) pelo portal g1, têm como base um levantamento do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público Estadual. Os números incluem as mortes cometidas por policiais em serviço e na folga em todo o território paulista. A alta nas mortes por intervenção, contudo, foi puxada principalmente pela letalidade policial em serviço. Em 2023, foram 49 casos, com salto de 129%, somando 112 mortes no primeiro bimestre deste ano.

As mortes cometidas por agentes de folga também cresceram 10% no mesmo período. Foram de 20 para 22 casos. De acordo com o Gaesp, a violência policial teve destaque principalmente em fevereiro. Em janeiro, a PM matou 55 pessoas no estado, 49% a mais do que as 37 registradas em janeiro do ano passado. Mas, em fevereiro, ao todo, 79 pessoas foram mortas por policiais. Uma alta de 174% em relação às 32 mortes contabilizadas em igual período de 2023.

Ouvidor denuncia coação

Também foi no mês passado que teve início a nova fase da Operação Verão, deflagrada no dia 2 em resposta à morte do policial militar da Rota Samuel Wesley Cosmo por criminosos da região. A ação é uma segunda fase da Operação Escudo, realizada entre julho e setembro do ano passado, e que deixou 28 mortos em 40 dias, com a mesma motivação: uma reação à morte de um PM. Na ocasião, houve denúncias de violação e abuso de autoridade, que agora também marcam a Operação Verão.

Ontem (3), ao visitar a região, o ouvidor da polícia de São Paulo, Cláudio Aparecido da Silva, denunciou que agentes têm intimidado moradores de comunidades da Baixada Santista para que eles não relatem abusos cometidos pelos PMs. A corporação vem alegando que todas as mortes ocorridas na operação foram de suspeitos que entraram em confronto com a polícia. A versão é corroborada pelo governo na figura do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite. No entanto, de acordo com o ouvidor, há elementos que contestam essa justificativa em vários casos.

De acordo com Silva, os boletins de ocorrência têm sido um “copia e cola” e há suspeita de alteração nos locais dos óbitos. “Nós temos prova da intimidação. A prova da intimidação que a gente colheu aqui hoje é um vídeo em que os policiais invadem uma cerimônia de sepultamento de uma vítima. Isso é uma prova de intimidação concreta e contundente”, afirmou o ouvidor. Silva ainda observou que os moradores estão amedrontados. Em São Vicente, por exemplo, das cinco testemunhas, três desistiram de falar por temerem represálias.

“Operação Vingança” na Baixada

Moradores também protestaram neste domingo com faixas que diziam que “não existe confronto quando só um lado atira”. Na semana passada, um relatório da Ouvidoria de Polícia apontou pelo menos cinco casos de execução sumária pela Polícia Militar, um caso de tentativa de execução, duas invasões ilegais de domicílio pelos militares e seis relatos de abusos policiais durante abordagens da Operação Escudo da PM.

“Depois de atirar, os policiais deram coronhadas e chutes na cabeça do meu irmão. Ele implorou para não ser morto. O que está acontecendo é extermínio. A PM está vindo para matar”, contestou ao portal UOL a irmã de um homem morto pela operação, Juliana Ramos Miranda. A denúncia é compartilhada por especialistas como a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Samira Bueno.

“Há uma preocupação com esse crescimento acentuado de mortes provocadas por intervenções policiais, especialmente em serviço”, diz Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum. O número de mortos na Baixada Santista “mostra um dos efeitos deletérios da Operação Verão e como ela tem se convertido na prática, numa espécie de ‘operação vingança’ por causa do assassinato do soldado Cosmo”, analisa Samira.

Das 134 mortes cometidas pela polícia no estado, a maioria delas – 63 – foram na Baixada Santista. E 29 na capital paulista.

Leia também:

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima