Fórum de Segurança suspeita que a PM alterou ‘cenas do crime’ na Baixada Santista
Dos setes mortos pela polícia, seis chegaram sem identificação ao IML. Segundo perito, PM costuma alegar que o baleado ainda estava vivo para retirar o corpo do local, prejudicando a perícia. E depois diz que a vítima não resistiu
Publicado 07/02/2024 - 20h09
São Paulo – Integrantes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública desconfiam que a Polícia Militar paulista agiu para modificar a “cena do crime” no caso das sete mortes na Baixada Santista neste final de semana. A exemplo da primeira fase da Operação Escudo, entre julho e setembro de 2023, em que a PM matou 28 pessoas após a morte de um agente da Rota, a primeira morte desta segunda fase foi às 2h de sábado (3), oito horas após um soldado da tropa de elite da Rota ser morto em Santos.
Entre o sábado e o domingo, foram sete ao todo, em Santos e São Vicente. Seis chegaram sem identificação ao Instituto Médico Legal (IML). A PM alegou confronto e ter apreendido armas. Ao portal UOL, o perito criminal aposentado Cássio Thyone Rosa, integrante do Fórum, afirmou que, em muitas ocorrências do tipo, a PM costuma alegar que o baleado ainda estava vivo para retirar o corpo do local, prejudicando a perícia. E que depois alegam que a vítima não resistiu aos ferimentos. “Sem cadáver no local, não é possível analisar a posição do corpo e discutir a possível trajetória de disparos”, disse.
Segundo a reportagem, em todas as ocorrências na Baixada Santista no fim de semana, os agentes alegaram ter socorrido os baleados ainda com vida. Porém, a corporação afirmou que os sete suspeitos morreram a caminho do hospital.
PM repete discurso: suspeitos atiraram e carregam drogas
Outra coincidência: segundo a PM, todos os suspeitos atiraram. E em todas as ocorrências, os suspeitos estavam com drogas. “Chama a atenção essa quantidade de casos de letalidade em um curto espaço de tempo”, disse também ao portal Rafael Alcadipani, professor da FGV e também membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A falta de transparência é criticada também por órgãos de defesa dos direitos humanos. Para o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), essa falta de identificação fortalece a versão da PM à opinião pública, “de que se tratavam de bandidos”. O órgão enviou ofícios à corporação pedindo esclarecimentos, que ainda não foram dados.
O conselho deverá recompor o comitê de crise montado em agosto de 2023, que apurou as circunstâncias das 28 mortes na primeira fase da Operação Escudo. “É preciso entender a razão das mortes desses policiais, adotar uma política que previna a morte”, disse o presidente do colegiado Dimitri Sales.
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Redação: Cida de Oliveira