Morte de Bin Laden não elimina ameaça da Al Qaeda aos EUA, diz pesquisadora

Para Maria Aparecida de Aquino, não se pode pensar que cenário mudou por causa da morte de Bin Laden. Ela alerta para substituição de comando na Al Qaeda

Embaixada dos EUA em Londres foi reforçada, por medo de vingança da Al Qaeda (Foto: © Andrew Winning/Reuters)

São Paulo – A morte de Osama Bin Laden, anunciada no domingo (1º) pelo governo dos Estados Unidos, pode representar uma vitória ilusória contra o terrorismo, na opinião da professora de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) Maria Aparecida de Aquino. O sentimento de revanche e comoção criado entre a população dos Estados Unidos não estaria baseado em resultados concretos. O líder da rede Al Qaeda foi assassinado por militares dos Estados Unidos em Abbottabad, a 150 quilômetros de Islamabad, capital do Paquistão.

“Na realidade, temos de pensar que é um objetivo que os Estados Unidos perseguiram durante dez anos e, na visão deles, significa a resolução de um problema”, diz a professora. “Mas não se pode ser inocente de pensar que as coisas mudarão radicalmente a partir daí”, alerta.

A pesquisadora ressalta que, apesar da morte do procurado número um do escritório de inteligência dos Estados Unidos (FBI, na sigla em inglês), o governo norte-americano não deve agir como se estivessem exterminadas todas as demais células terroristas ligadas à Al Qaeda. “As coisas se transformam, mas as pessoas que conhecem a Al Qaeda sabem que eles têm aquele sistema do polvo, têm ramificações no mundo inteiro”, acredita.

Os rumores são de que, após a morte de Bin Laden, Ayman al-Zawahiri e outros ideólogos extremistas tomariam seu lugar na organização. O médico egípcio de 60 anos de idade é popular entre fundamentalistas muçulmanos por discursos contra os EUA, mais recentemente contra as forças da Otan e norte-americanas atuantes na Líbia. Segundo Aquino, “já se fala que ele teria assumido o papel de Osama nas futuras incursões que vierem (a Al Qaeda) a fazer”.

A pesquisadora afirma ainda que o presidente Barack Obama pode se beneficiar eleitoralmente do episódio. “Na retaguarda disso, está a popularidade do presidente Obama, e tudo isso está acontecendo num momento de crise financeira, de baixo apoio popular. O problema que os Estados Unidos enfrentam pode afetar o mundo todo. Eles generalizaram o problema quando trouxeram a Guerra ao Terror.”

Medidas de segurança

Questionada sobre a iminência de retaliações após a morte de Bin Laden, Maria Aparecida acredita que medidas de segurança nos aeroportos e em locais públicos (com grande concentração de pessoas) serão levadas em consideração por líderes mundiais.

“Obviamente, medidas devem ser tomadas no mundo inteiro, (em locais) como aeroportos. Quando viajamos nós podemos ser confundidos com qualquer pessoa”, sustenta. “Quem tem certamente razão para ter temor nesse momento são os Estados Unidos e os países europeus que apoiaram a suposta Guerra ao Terror”, complementa, em referência a nações como Reino Unido, Portugal e Espanha.