Paquistão critica violação de soberania em ação que matou Bin Laden

Sob pressão doméstica e internacional, primeiro-ministro classifica como 'absurda' a acusação de que o governo paquistanês colaborou com a Al Qaeda

São Paulo – O primeiro-ministro do Paquistão, Yousef Raza Gilani, classificou de “absurdas” as suspeitas de que o governo do país tenha mostrado cumplicidade com a Al Qaeda. Apesar de considerar um avanço a morte do líder da Al Qaeda, o primeiro-ministro se queixou de que a operação constituiu uma violação de sua soberania.

A declaração desta segunda-feira (9) foi uma resposta a cobranças mais ou menos veladas feitas pelo governo dos Estados Unidos a respeito da demora paquistanesa para encontrar Osama Bin Laden, escondido no país. Foi ainda uma reação a movimentações políticas internas, já que a oposição aumentou o tom das críticas após o episódio.

Em discurso ao Parlamento, Gilani disse que a missão do governo é eliminar o terrorismo. “Nós não convidamos a Al Qaeda para dentro do Paquistão”, ironizou. O Paquistão saudou a morte de Bin Laden, apontado como autor dos planos de ataques de aviões comerciais nos EUA em 11 de setembro de 2001. 

Bin Laden foi assassinado em 1º de maio, em uma operação de forças especiais dos Estados Unidos em Abbottabad, ao norte do Paquistão. O fundador da Al Qaeda morava em uma mansão localizada perto da sede da Academia Militar paquistanesa havia cinco anos, segundo informações norte-americanas. Essa proximidade levou a acusações de que as agências de segurança paquistanesas ou teriam se mostrado incompetentes ou complacentes com o homem mais procurado do mundo.

“As alegações de cumplicidade ou incompetência são absurdas”, disse Gilani. O primeiro-ministro afirmou ainda que ações unilaterais como a realizada pelos Estados Unidos na semana passada trazem o risco de graves consequências, mas acrescentou que o Paquistão atribui grande importância a suas relações com os Estados Unidos.

Segundo Gilani, o Paquistão reserva para si o direito de proteger a sua soberania. De acordo com ele, o serviço de inteligência paquistanês (ISI), principal alvo das acusações de colaboração com a Al Qaeda, é um “bem nacional” e conta com a confiança do governo do Paquistão.

A respeito da segurança das armas nucleares do país, Gilani disse que qualquer iniciativa contra elas topará com uma “reação à altura”. A possibidade de que o arsenal atômico estivesse vulnerável cresceu a partir da ação militar da semana passada. “(Se isso ocorrer) o Paquistão se reserva o direito de retaliar com força plena”, disse o primeiro-ministro.

Críticas

O principal partido oposicionista do país pediu a renúncia de Gilani e do presidente paquistanês, Asif Ali Zardari, devido à quebra da soberania paquistanesa cometida pelas tropas especiais que voaram desde o Afeganistão em helicópteros para invadir a mansão em que Bin Laden vivia escondido.

“Acho que foi um grande golpe contra a soberania, a independência e o respeito próprio do Paquistão”, disse a jornalistas em Lahore o ex-premiê Nawaz Sharif. “O Paquistão vive uma crise grave e é cercado por grave perigo.”

“Se ele realmente estava vivendo naquela mansão havia cinco anos, por que nossas agências não o encontraram?”, disse a jornalistas o ex-chanceler Khursheed Mehmood Kasuri. “Este fato proporcionou aos elementos antipaquistaneses uma chance de nos ridicularizar.”

No domingo (8) o presidente dos EUA, Barack Obama, pediu que o governo paquistanês investigasse a rede que ajudava Osama Bin Laden e descobrisse se alguma autoridade do país sabia do paradeiro do líder da rede fundamentalista. “Não sabemos se havia pessoas dentro do governo (paquistanês), pessoas de fora do governo, e isto é algo que temos que investigar e, mais apropriadamente, o governo paquistanês precisa investigar”, disse Obama.

As relações entre Paquistão e Estados Unidos já estavam fragilizadas após uma série de disputas diplomáticas em torno de questões que incluem um grande ataque de aviões não tripulados americanos em março e a questão de Raymond Davis, agente “terceirizado” (classificado como “mercenário”) a serviço da CIA que, em janeiro, matou a tiros dois paquistaneses na cidade de Lahore.

Além das acusações de proximidade com a Al Qaeda, o governo também enfrenta críticas domésticas de grupos religiosos. Na manhã desta segunda, um protesto foi organizado contra a morte de Bin Laden. Cerca de 500 manifestantes fizeram uma passeata na cidade de Wana, na província do Waziristão do Norte (no Noroeste do país), carregando cartazes, nos quais havia inscrições com críticas aos Estados Unidos e ao governo paquistanês.

 

Com informações da Agência Brasil e Reuters