Na base da força

PM truculenta de Tarcísio terá papel fundamental no governo privatista, diz especialista

Presença constante nas ruas para reprimir professores e movimentos populares, a Polícia Militar paulista será parceira do governo contra a resistência à privatização da Sabesp e da educação pública

@professorabebel/apeoesp
@professorabebel/apeoesp
Em julho de 2020, na gestão João Doria, PM impediu carreata de professores contra a volta das aulas durante período crítico da pandemia

São Paulo – Presença constante nas ruas para reprimir professores e movimentos populares, a Polícia Militar (PM) de São Paulo terá papel fundamental no governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Principalmente pelo perfil privatista, segundo destacou o cientista político Eduardo Viveiros de Freitas, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo em entrevista na manhã desta quarta-feira (14) a Rádio Brasil Atual.

“A escolha do Capitão Derrite como secretário da Segurança Pública segue para preservar a tradição tucana da repressão aos movimentos quando houver enfrenamento aos professores e funcionários públicos”, disse.

O cientista político considerou o confronto e a repressão à resistência a partir do encaminhamento da tentativa de privatização da Sabesp. Defendida por Tarcísio em campanha, que chegou a negar devido às repercussões negativas, a privatização da água é um processo fracassado em outros países, a França inclusive. Tanto que diversos deles vêm reestatizando.

PM nas ruas contra a resistênca ao desmonte

Outra política do novo governo paulista que deverá trazer muita resistência nas ruas é a educação, lenbrou Freitas, da PUC. O secretário da Educação, Renato Feder, transferiu para a iniciativa privada a gestão de 27 escolas estaduais no Paraná. E pretende fazer o mesmo em São Paulo. Além disso, defende a distribuição de vouchers para famílias de alunos pagarem escolas particulares, entre outas medidas polêmicas.

“Se houver isso em SP será complicado. Do ponto de vista do confronto, não vai ter vida fácil pra esse tipo de postura. Isso nunca foi visão da escola pública paulista. Alguma modernização que queira implantar, como ensino a distancia, se não tiver boa base pedagógica e administrativa, os estudantes repudiam”, destacou o cientista político.

Há perspectiva de confronto também em relação à defesa das três universidades estaduais paulistas, USP, Unicamp e Unesp. “Cortar o ICMS dessas universidades de excelência é outra faceta do neoliberalismo desse governo. E ninguém vai pro confronto porque quer. Mas porque defende uma educação pública de qualidade. Colocar polícia na rua conta professores é a barbárie. O governo tem de pensar em oferecer mais saúde, educação, esporte e uma vida melhor pra todos”, afirmou.

Tarcísio não deve permitir PM com discurso violento

Para o cientista político, o Capitão Derrite já começa a ser visto como “Derrete”. Isso porque faz um discurso bem mais moderado em relação aos bolsonaristas. E isso não é a toa, segundo ele, que enxerga o afastamento de Tarcísio com seu padrinho político Jair Bolsonaro (PL).

Recentemente, o novo governador paulista afirmou que não é “bolsonarista raiz”. E seu governo vai se firmando como privatista, com os olhos no futuro político. “Ele não vai permitir que auxiliares com discurso violento, defendendo mortes por policiais, preveleçam. Se permitir, terá a repetição do bolsonarismo, que está condenado. O que aconteceu em Brasilia é o atestado de óbito do bolsonarismo do ponto de vista da imagem que vai ficar desses protestos, desse terrorismo, dessa agressividade”.

Redação: Cida de Oliveira