Tiro no pé

‘Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão’, diz Rodrigo Pacheco a Romeu Zema

Sem considerar dívida histórica, governador de MG reclama de supostos privilégios que beneficiariam Norte/Nordeste em detrimento do Sul-Sudeste e pede união da direita

Roque de Sá/Agência Senado – Imprensa/MG
Roque de Sá/Agência Senado – Imprensa/MG
"Ao valoroso povo do Norte e Nordeste, dedico meu apreço e respeito. Somos um só país", postou Pacheco

São Paulo – Em busca de protagonismo político na cena política brasileira, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, parece acreditar que será o sucessor de Jair Bolsonaro, declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sua manifestação em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, na qual anuncia a formação de um bloco do Sul e Sudeste e união da direita nas eleições de 2026, foi considerada um tiro no pé.

Mais do que isso, a fala seria um incentivo ao preconceito contra nordestinos e até afronta ao pacto federativo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que Minas não tem uma cultura de exclusão. “Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão. JK (Juscelino Kubitschek), o mais ilustre dos mineiros, ao interiorizar e integrar o Brasil, promoveu a lógica da união nacional. Fiquemos com seu exemplo. Ao valoroso povo do Norte e Nordeste, dedico meu apreço e respeito. Somos um só país”, postou o senador no Twitter nesta segunda-feira (7).

Na entrevista, quando fala de reforma tributária, Zema reclama de supostos privilégios que beneficiariam o Norte e Nordeste, e pede união do Sul e Sudeste. “Está sendo criado um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade”, ironizou.

“Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década. Senão você vai cair naquela história do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito”, continuou.

“Extrema direita fomenta divisão

Ex-governador do Maranhão, o ministro da Justiça, Flávio Dino, usou o Twitter para dizer que “é absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais”. “Está na Constituição, no art 19, que é proibido ‘criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si’”. Dino citou um dos mais importantes líderes políticos da história brasileira e feroz adversário da ditadura militar (1964-1985): “Traidor da Constituição é traidor da Pátria, disse Ulysses Guimarães”.

“Nós queremos é que o Brasil pare de avançar no sentido que avançou nos últimos anos – que é necessário, mas tem um limite – de só julgar que o Sul e o Sudeste são ricos e só eles têm que contribuir sem poder receber nada”, disse Zema ao Estadão. “Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”, declarou ainda.

Consórcio do Nordeste reage

No domingo (6), o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), publicou nota em nome do Consórcio do Nordeste, do qual é presidente e no qual os governadores da região afirmam que não têm intenção de criar “guerra” com os estados das demais regiões do país, mas lutar contra “desigualdades”.

“A união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento”, diz o documento.

“Já passou da hora do Brasil enxergar o Nordeste como uma região capaz de ser parte ativa do alavancamento do crescimento econômico do país e, assim, contribuir ativamente com a redução das desigualdades regionais, econômicas e sociais”, acrescenta a nota.

Segundo o advogado Walfrido Warde, que também se define como escritor e empreendedor, “a fala de Romeu Zema é uma afronta ao pacto federativo”, o que é contemplado na Lei de Impeachment.