São Paulo – A “denúncia” de que a campanha de Jair Bolsonaro (PL) estaria sendo boicotada por emissoras e rádio do Norte e Nordeste expõe o “desespero” e a “incompetência” do presidente da República e sua equipe, de acordo com seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As críticas foram feitas durante entrevista à rádio Rede Clube FM nesta quinta-feira (27), dia em que Lula completa 77 anos. A emissora alcança mais de mil cidades brasileiras.

“Eu não sei o estado psicológico do presidente da República hoje, mas o que tenho percebido é que ele tem perdido um pouco o controle. Porque ele acusa pessoas, coloca coisas que não aconteceram em dúvida. Esse negócio da rádio é uma incompetência da equipe dele, e nós não temos nada a ver com isso. Mas ele tentar criar uma confusão por causa disso é porque ele está do ponto de vista psicológico um pouco desestruturado”, declarou Lula às jornalistas Ana Maria Campos e Denise Rothenburg, do Correio Braziliense.

Lula, que já vinha ressaltando que o país vive uma eleição “anormal”, acrescentou que, a três dias do segundo turno, Bolsonaro mostra “desespero”. Numa referência não apenas à alegada “fraude”, mas também à reunião convocada pelo presidente com os três comandantes das Forças Armadas na noite de ontem (26). 

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Relatório não é “crível”

No encontro foi discutido o relatório da campanha do candidato à reeleição que aponta o suposto boicote à sua propaganda. O documento foi avaliado pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que indeferiu o pedido bolsonarista. De acordo com o ministro, o relatório não tem “base documental crível”e não apresenta “qualquer indício de prova”. “OS erros e inconsistência apresentados nessa pequena amostragem de oito rádios são patentes”, comentou Moraes.

O caso, no entanto, passou a ser explorado pelo chefe do Executivo como um pretexto para acusar o TSE e o PT de cumplicidade. Bolsonaro declarou após o encontro com o comando militar que irá até “às últimas consequências”. Aliados de Bolsonaro já afirmaram que devem usar o relatório inconsistente para questionar a legitimidade das eleições em caso de derrota no próximo domingo (30). Ou até adiar o segundo turno. Lula, porém, destacou aos entrevistadores da Rede Clube – em pool com o Correio Braziliense e TV Brasília – que a hipótese é uma “bobagem”.

“Não pode ser sério alguém falar em adiamento das eleições, que tem que fazer uma PEC, vai ser votado quando? Ano que vem? É um absurdo, a pessoa na verdade não tem o que falar e falou uma bobagem dessa.”

‘Bolsonaro sabe que vai perder’

“Não podemos aceitar essa discussão porque as eleições serão domingo, todo mundo está preparado para votar, o povo já está decidido. Quem vai votar em Bolsonaro vai votar em Bolsonaro. Quem vai votar no Lula, vai votar no Lula. Nós na verdade temos que disputar algumas pessoas que estão indecisas e algumas pessoas que votaram em branco e nulo que temos que convencer a ir votar. No restante é direito de chorar e de espernear de quem está percebendo que vai perder as eleições. Eu acho que o Bolsonaro está ciente de que vai perder as eleições, que o povo já está tomando uma decisão”, prosseguiu o petista. 

De acordo com Lula, a decisão já tomada pela maioria das pessoas é a busca por mudança no domingo. “O povo quer um Brasil mais alegre, com esperança, e com prazer de ser brasileiro. Um país que distribuia livros e não armas e que distribua emprego. Ou seja, nós vivemos hoje um Brasil em que os servidores públicos federais não receberam nenhum reajuste de salário desde 2017. É uma coisa absurda, então o povo quer mudar e o presidente Bolsonaro tem o direito de espernear, de recorrer, de processar e vamos tocar porque a vida segue.” 

Futuro Ministério da Economia

A entrevista de Lula à rádio Rede Clube desta quinta também marcou os 20 anos da primeira eleição de Lula como presidente da República – vencida no dia de seu aniversário de, então, 57 anos. Em 2002, ele derrotou José Serra (PSDB). 

O candidato do PT também foi questionado sobre o perfil que buscará para o Ministério da Economia. Ao que Lula respondeu que o futuro chefe da pasta terá que ter o perfil com “muita inteligência política” e com “compromisso social”. 

“Será uma pessoa que tenha que pensar na responsabilidade fiscal, mas que tenha que pensar também na responsabilidade social. Cada vez que a gente tem que segurar o dinheiro tem que pensar que tem gente passando fome, dormindo embaixo da ponte, criança abandonada. Temos que pensar que tem milhões de crianças que voltará pra escola com dois anos de atraso porque passaram dois anos sem estudar.” 

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