100 dias

Lula elogia Haddad e arcabouço fiscal, e volta a criticar juros: ‘Brincando com o país’

Presidente defende o projeto de arcabouço fiscal publicamente, apresentado no dia 30 de março. “Garante a volta do pobre ao orçamento e recursos ao desenvolvimento”

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
“Nunca achei a Petrobras uma empresa de petróleo. Sempre foi mais do que isso"

São Paulo – Em longo discurso no dia em que seu governo completa 100 dias, nesta segunda-feira (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um balanço do que a gestão realizou até aqui. Desse modo, reafirmou estar otimista sobre o país e o desenvolvimento e traçou um cenário do que espera de alguns setores do Estado que passaram por muitas dificuldades no período do governo anterior. Ele citou os bancos públicos e a Petrobras.

Pela primeira vez em público, Lula defendeu o projeto de arcabouço fiscal, apresentado oficialmente no dia 30 de março pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo o presidente, a proposta “traz soluções realistas e seguras para o equilíbrio das contas”. Mais do que elogiar o projeto, Lula fez um afago no ministro, criticado na semana passada pelo deputado Lindbergh Faria (PT-RJ), segundo o qual o arcabouço fiscal lembra um “pacto com o Diabo”.

Dirigindo-se diretamente a Haddad, o presidente afirmou que o ministro “ouve algumas críticas”. “Tenho que elogiar você e a equipe, porque em se tratando de economia e política tributária a gente nunca vai ter 100% de solidariedade.” Assim, Lula não citou nomes, mas disse em seguida que leu “um artigo muito ruim” que pensou em responder. Mas o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, “achou que não valia a pena, porque a compreensão da sociedade vale mais do que a crítica de uma pessoa”.

Para Lula, a proposta coordenada por Haddad, que precisará ser aprovada no Congresso, “garante a volta do pobre ao orçamento e possibilita recursos ao desenvolvimento”. Por isso, ele não deixou também de alfinetar o Banco Central e o patamar dos juros.

“Tenho certeza que (o arcabouço fiscal) vai ser aprovado (no Congresso) e vamos colher os frutos da nossa proposta. Embora eu continue achando que 13,75% é muito alto de taxa de juros. Estão brincando com o país.”

Reforma tributária, Petrobras e bancos

Além disso, o presidente ressaltou que a proposta de reforma tributária – a etapa seguinte ao marco fiscal das reformas econômicas – deve corrigir distorções históricas e o sistema regressivo para criar um “ambiente dinâmico e descomplicado ao setor empresarial”.

A Petrobras financiará pesquisa para “combustíveis renováveis”, disse, assim como  retomará papel de “protagonista” nos investimentos, ampliando a frota de navios da Transpetro, o que criará empregos nos estaleiros. “Nunca achei a Petrobras uma empresa de petróleo. Sempre foi mais do que isso. É uma empresa de energia, a empresa que historicamente mais investiu em  pesquisa e inovação no país”, afirmou. A descoberta do pré-sal, segundo ele, só foi possível devido aos investimentos nessa área.

Lula também falou sobre os bancos públicos e aludiu ao papel dessas instituições como indutoras do crescimento. Porém, não esqueceu de falar da responsabilidade fiscal. “Dinheiro bom não é dinheiro guardado em cofre, dinheiro bom é dinheiro gerando obra, desenvolvimento e emprego”, disse. “Obviamente com responsabilidade, porque não pode gastar de forma desenfreada, desorientada. Responsabilidade eu tenho de berço.”

Vacina obrigatória e 8 de janeiro

À ministra da Saúde, ele pediu ajuda para implementar a obrigatoriedade de todos os funcionários federais se vacinarem. “Nesse palácio não trabalhará ninguém que não tenha cartão de vacina. Para entrar, as pessoas terão que ter, inclusive nas audiências (com visitantes externos). Para as pessoas aprenderem, se não se respeitam, a respeitar os outros.”

Em seu balanço, Lula não mencionou o nome do antecessor, mas comparou a posse do último 1° de janeiro com a de 2003, quando recebeu a faixa de Fernando Henrique Cardoso. “Um presidente democrata, um companheiro que tinha história de luta pela democracia e pelos direitos humanos, e tinha sobretudo uma marca de civilidade que esse que eu substituí agora não tem.”

Após o 8 de janeiro, acrescentou, “a sociedade viu as instituições se juntarem  para defender a democracia”. “No dia seguinte à barbárie, os três poderes marcharam juntos do Palácio do Planalto ao Supremo Tribunal Federal, passando pelo Congresso, para dizer ‘não’ ao fascismo e ‘sim’ à democracia.”

Uma das tarefas mais importantes que seu governo tem pela frente é pacificar o país, defendeu o presidente. “Precisamos tirar o ódio da cabeça da pessoas. As pessoas precisam voltar a crer que não ser violento é bom para a relação humana. Temos a tarefa a mais de trazer o país de volta `as civilidade.”

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