CRISE

Falsa desistência de Doria mostra dificuldade de tucano manter a própria candidatura

Desde que venceu as prévias do PSDB, Doria não deslancha como nome capaz de liderar a chamada “terceira via”

Sergio Andrade/Governo do Estado de São Paulo
Sergio Andrade/Governo do Estado de São Paulo
Durante a manhã de ontem, Doria chegou a anunciar a aliados que desistiria da candidatura ao Palácio do Planalto. Inclusive, aventou a hipótese de se desfiliar do PSDB. Doria, no entanto, foi pressionado pelo partido a se manter na disputa nacional

São Paulo – O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), após reunião com tucanos no Palácio dos Bandeirantes, na última quinta-feira (31), desistiu de sua desistência da pré-candidatura à presidência da República. Depois de anunciar à imprensa que não concorreria ao cargo federal, voltou atrás e renunciou à cadeira estadual. Para o cientista político Wagner Romão, a estratégia do tucano expõe a fragilidade de sua candidatura e a dificuldade de mantê-la, diante da crise do PSDB.

“Ontem, foi exposta dificuldade de ele conseguir compor com o próprio partido. A população percebeu que ele joga com o marketing político. A renúncia dele foi uma prova disso. Eu acho que Doria terá dificuldade de manter a candidatura, porque será pífia e frágil”, afirmou Romão, também professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

Durante a manhã de ontem, Doria chegou a anunciar a aliados que desistiria da candidatura ao Palácio do Planalto. Inclusive, aventou a hipótese de se desfiliar do PSDB. Doria, no entanto, foi pressionado pelo partido a se manter na disputa nacional. A avaliação é que a novela do dia envolvendo Doria se trata de uma tentativa dos tucanos para tentar alavancar sua candidatura.

PSDB fragilizado

Desde que venceu as prévias do PSDB, Doria não deslancha como nome capaz de liderar a chamada “terceira via”. Nas pesquisas de opinião, ele figura entre 2% e 3% das intenções de voto. Além disso, sofre com elevada taxa de rejeição. Pesquisa Ipespe divulgada na semana passada indica que 58% rejeitam seu nome como candidato a presidente. Ele só perde para Jair Bolsonaro, que tem 63% de rejeição.

Além disso, desde que entrou para o PSDB, Doria enfrenta diversos problemas políticos na legenda. Nas prévias para prefeito, em 2011, foi acusado de comprar votos para ser o então candidato. Ao longo dos anos, atacou nomes históricos da sigla e deixou de ser um candidato agregador. Em 2018, o empresário deixou de apoiar Geraldo Alckmin para presidente e assumiu o “BolsoDoria”, criando um constrangimento no partido.

Na leitura de Wagner Romão, o PSDB acabou nacionalmente. “Aquele partido que teve um papel importante na constituinte, teve Mario Covas e uma consolidação nacional, não existe mais. Quando Bolsonaro puxou a extrema-direita, nomes tucanos tentaram surfar na onda, o que criou uma crise de identidade no partido. Então, hoje, é uma sigla que não agrega”, disse.

Confira a entrevista