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Acusações de traição contra Crivella e Pedro Paulo marcam debate em TV no Rio

Apesar de o Supremo Tribunal Federal autorizar a participação de Freixo (Psol), TV Bandeirantes manteve o formato firmado pelos partidos e o deixou de fora

Brazil Photo Press/Folhapress

Candidato da situação, Pedro Paulo Carvalho (PMDB) foi o principal alvo de questionamento dos adversários

Rio de Janeiro – Marcado pela polêmica que culminou com a não participação do candidato do Psol, Marcelo Freixo, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de opinião, o primeiro debate na televisão entre os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro, realizado na noite de ontem (25) pela Rede Bandeirantes, foi agitado. O candidato da situação, Pedro Paulo Carvalho (PMDB), foi o principal alvo dos adversários, mas o debate teve também duelos verbais em torno da situação política nacional e do processo de impeachment da presidenta afastada Dilma Rousseff.

O candidato Flávio Bolsonaro (PSC) sentiu-se mal quando se preparava para responder a uma pergunta, teve um início de desmaio e foi obrigado a deixar o debate às pressas para ser atendido em um hospital, fato que gerou novo conflito entre os participantes.

Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter derrubado horas antes a regra que limitava a participação nos debates de candidatos de legendas com menos de nove deputados federais, a Bandeirantes manteve o formato previsto em acordo firmado ao longo da semana pelos partidos e excluiu Freixo. A emissora se justificou alegando ainda não ter sido notificada oficialmente da decisão do STF.

Com isso, a expectativa é que os próximos debates, a serem realizados por outras emissoras, tenham a participação de todos os onze candidatos a prefeito. Ontem, durante o debate na tevê, o candidato do Psol realizou um comício na Cinelândia durante o qual respondeu à distância algumas das questões levantadas pelos adversários.

A candidata do PCdoB, Jandira Feghali, chamou de traidores os candidatos Pedro Paulo e Marcelo Crivella (PRB), que votaram a favor do afastamento de Dilma, e de golpistas os adversários de direita: Eu faço questão de registrar que hoje se inicia a fase final do impeachment de Dilma Rousseff. Eu não poderia deixar de abordar essa questão democrática neste debate, até porque, tirando eu e o candidato Alessandro Molon (Rede), todos os outros partidos aqui representados votaram pelo golpe”, destacou Jandira. “É um golpe institucional e isso aqui é o palco da traição. Os governos Lula e Dilma colocaram no Rio de Janeiro R$ 376 bilhões. Quando falaram na Olimpíada, que foi um êxito, em nenhum momento citaram que ela foi bancada com recurso federal. Isso se chama traição, e traição não é confiável na política nem merece a confiança do povo carioca.

O candidato do PSDB, Carlos Osório, rebateu: “Essa questão me lembra o estelionato eleitoral que foi feito aqui no Brasil pela Dilma e pelo João Santana, que no mês seguinte à eleição levou o Brasil à bancarrota. Não queremos repetir no Rio de Janeiro o que se passou em nível federal quando a Dilma, que começa a ser julgada pelo Senado Federal, enganou o Brasil inteiro e o país explodiu com 12 milhões de desempregados e a Petrobras foi quebrada imediatamente após a eleição da presidente”, disse.

No momento mais quente do debate, Jandira questionou Pedro Paulo sobre a deslealdade em relação à Dilma: “O senhor sabe que R$ 376 bilhões vieram para o Rio de Janeiro e que boa parte da Olimpíada foi garantida com recursos federais, com financiamento federal. No Porto Maravilha, a Caixa Econômica Federal financiou outros R$ 5 bilhões. O senhor votou contra a Dilma e foi ao Congresso somente para isto. Por que a traição ao governo federal que tanto ajudou o Rio de Janeiro?”, disse.

Pedro Paulo reconheceu “o apoio do governo federal para realizarmos uma Olimpíada na qual ninguém acreditava”, mas justificou seu voto pelo impeachment: “O voto que dei como deputado foi o voto de quem não acreditava mais que a presidente reunia condições políticas e econômicas de seguir adiante. Dei esse voto com a convicção de que o Brasil precisa virar esta página para voltar a crescer”, disse – admitindo um voto político pelo afastamento, não calçado pelas supostas “pedaladas” que servem de pretexto para o processo.

Acusações

A candidata do PCdoB, que tem o apoio do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, retrucou e trouxe à tona o caso em que Pedro Paulo é acusado de agredir a ex-mulher com socos e pontapés: “O senhor traiu uma mulher presidenta sem nenhum crime. Traiu por oportunismo eleitoral, em função de sua baixa popularidade. O senhor traiu a soberania do voto popular. Quem trai o voto popular trai o povo. Eu não consigo confiar em quem trai na política e em quem bate em mulher. Não é possível confiar em quem tem esse tipo de desqualificação em seu comportamento pessoal”.

O peemedebista respondeu dizendo ser “muito triste receber esse tipo de acusação” por parte de Jandira: “Eu tenho uma filha de 11 anos, eu tenho uma família que em nenhum momento duvidou da minha honestidade. Meu processo julgado pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, que decidiram que eu sou inocente”, disse.

Mal-estar

O candidato Flávio Bolsonaro, que pareceu nervoso desde o início do programa, protagonizou outro momento de mal-estar entre os candidatos ao passar mal, em uma aparente crise de hipoglicemia, quando se preparava para responder a uma pergunta formulada por um telespectador sobre a relação da capital com os outros municípios fluminenses. Aconselhado pelos médicos, o candidato do PSC não voltou ao debate e foi encaminhado a um hospital. Na volta do intervalo, no entanto, o assunto continuou a render e gerou novo bate-boca, com direito a xingamentos e vaias vindos da plateia.

Quase teve briga entre apoiadores de Jandira e integrantes da comitiva do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pai de Flávio, depois de a candidata do PCdoB fazer uma denúncia: “O candidato Flávio Bolsonaro passou mal e eu, como médica, me apresentei para atendê-lo. Mas, o pai dele disse que ele não precisava dos meus cuidados. Isso significa que a solidariedade não faz parte desse grupo fascista”, disse.

Alvo da plateia e dos gritos do deputado, Jandira voltou à carga: “Quem protege torturador não me representa. Para quem apoiou a ditadura e os torturadores, desrespeita familiares de mortos políticos e é réu por estupro no STF, não é surpresa a atitude que teve”, disse, dirigindo-se a Jair Bolsonaro.

Críticas a Paes

Além das acusações diretas que sofreu, Pedro Paulo Carvalho teve também que arcar com as críticas à administração do prefeito Eduardo Paes. Trunfo dos peemedebistas, nem mesmo a Olimpíada foi poupada: “Não há transparência nas contas da Prefeitura no que diz respeito à realização dos Jogos. Ninguém sabe quanto a Olimpíada custou aos cofres públicos. Ninguém sabe o que fica como legado urbano”, disse Alessandro Molon.

O candidato da Rede também criticou o projeto de revitalização da zona portuária da cidade: “Para revitalizar o centro da cidade de verdade, ele tem que virar um bairro residencial. Bairro só existe quando tem gente morando. Vocês da prefeitura só pensaram na parte comercial, empresarial”.

Molon também criticou a falta de transparência na gestão dos transportes públicos: “Como se definem os preços das passagens, que são os mais altos do Brasil? Quem definiu a redistribuição das linhas, que serviu aos interesses das empresas de ônibus, que mandam no Rio de Janeiro, e não da população?”, indagou.

Carlos Osorio fez críticas à queda na qualidade dos serviços públicos em saúde e educação e citou a diminuição da receita municipal em 16%. Jandira Feghali criticou a política habitacional de Paes: “A especulação imobiliária pegou tudo no Porto e na Barra. Não há moradias populares, falta povo”, disse. Marcelo Crivella, que criticou até mesmo os “pardais traiçoeiros que multam os cariocas”, resumiu seu pensamento sobre a atual gestão municipal: “Os quatro primeiros anos do governo de Eduardo Paes foram exitosos, mas os últimos quatro anos foram trágicos”.

Pedro Paulo usou a Olimpíada como principal escudo: “Foi um momento sonhado por muitos anos. Quero agradecer ao carioca pela paciência. Eu me orgulho de ter estado ao lado do prefeito Eduardo Paes nessa jornada. Diziam que a Olimpíada não iria dar certo. Deixamos a cidade pronta para um novo ciclo de investimentos”, disse.

O candidato do PMDB também prometeu novas obras de saneamento e mobilidade urbana, mas teve que ouvir novamente as críticas dos adversários: “O Pedro Paulo está me lembrando o governador Luiz Fernando Pezão. Ele também prometia tudo nos debates, e deu no que deu”, disse Crivella, fazendo alusão à crise econômica que fez o Rio de Janeiro decretar estado de calamidade pública.