eleições 2016

Pedro Paulo é alvo de ataques no último debate no Rio

'Você tem uma marca que as mulheres não vão perdoar. É um agressor de mulheres', disse Jandira, que também denunciou apoio da Globo ao golpe. Peemedebista também esteve no foco de Freixo e Crivella

Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press/Folhapress

Jandira atacou a TV Globo. ‘Não poderia deixar de registrar que essa emissora apoiou o golpe contra a democracia’

Rio de Janeiro – Pautado pelas mais recentes pesquisas de intenção de voto, que apontam empate técnico entre cinco nomes na disputa pelo segundo lugar, o último debate antes da eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, realizado na noite de ontem (29) pela TV Globo, foi um momento de marcação de posição dos candidatos, todos ainda com esperança de continuar na disputa.

Ficou nítida a intenção de não agressão entre os três candidatos da esquerda, certamente de olho no voto útil, enquanto o candidato do PMDB, Pedro Paulo Carvalho, que tem o apoio do atual prefeito, Eduardo Paes, foi o alvo preferencial. A questão política nacional também foi, mais uma vez, levantada durante as discussões, fato que provocou até um inusitado “direito de resposta” concedido pela TV Globo a si própria.

Segundo a mais recente pesquisa, divulgada na quarta-feira (28) pelo Ibope, o candidato do PRB, Marcelo Crivella, lidera com 34% das intenções. Em segundo lugar, aparecem empatados Pedro Paulo e o candidato do Psol, Marcelo Freixo, ambos com 10%, seguidos por Índio da Costa (PSD), com 8%; Flávio Bolsonaro (PSC) e Jandira Feghali (PCdoB), ambos com 7%; Carlos Osorio (PSDB), com 4%; e Alessandro Molon (Rede), com 1% das intenções de voto. O resultado coloca Freixo, Pedro Paulo, Indio, Jandira e Bolsonaro empatados dentro da margem de erro.

Logo na primeira intervenção, a candidata do PCdoB, que tem o apoio do PT, ouriçou a plateia presente ao estúdio ao se referir à participação da anfitriã no processo que culminou na saída de Dilma Rousseff da Presidência da República. “Nós estamos aqui na TV Globo e eu não poderia deixar de registrar que essa emissora apoiou o golpe contra a democracia, o golpe contra uma mulher eleita que foi cassada sem (ter cometido) qualquer crime. Esse golpe interrompeu o governo que melhorou a vida de todos vocês, que investiu muito nesta cidade”, disse Jandira.

A surpreendente declaração desconcertou a mediadora do debate, a jornalista Ana Paula Araújo, que minutos mais tarde leu uma nota a pedido da direção da emissora. “A TV Globo foi citada pela candidata Jandira e queremos esclarecer, em respeito a você, telespectador, que a Globo não é obrigada a realizar debates. Se a emissora faz isso, é exatamente por apreço à democracia, inclusive se expondo a receber críticas aqui, ao vivo, dos candidatos que foram convidados a participar desse debate. Quero lembrar também que não é a TV Globo que está sendo avaliada aqui, são os candidatos. Estamos aqui para ver as propostas, comparar as ideias e ver quem tem mais compostura e competência para ser prefeito do Rio de Janeiro”, disse.

Já Pedro Paulo preferiu atacar os dois adversários que aparecem à sua frente nas pesquisas. “Nesta eleição, de um lado temos uma candidatura que mistura política e religião, o atraso que ameaça trazer de volta o Garotinho para essa cidade. De outro, temos a anarquia, o radicalismo, esse modelo de Brasil que não deu certo. A cidade do Rio de Janeiro não quer esse retrocesso”, disse o candidato da situação, antes de ressaltar que foi “chefe da Casa Civil de Eduardo Paes com muita honra”.

Artilharia pesada

O troco, no entanto, veio em forma de artilharia pesada, a começar por Crivella. “Eu não confundo política com religião, Pedro Paulo. Você fala isso o tempo todo na televisão, mas não sobe um ponto e eu não caio um ponto. Você tem mil vereadores te apoiando, dezessete partidos ao teu lado, uma estrutura e uma máquina de campanha enormes. Mas, não tem jeito. Não é me chamando de bispo que você vai conseguir limpar a barra do PMDB no Rio”, disse. O candidato do PRB afirmou que a Igreja Universal e o ex-governador Anthony Garotinho não participarão de seu governo.

Freixo também não deixou Pedro Paulo sem resposta. “A anarquia que ameaça o cidadão do Rio de Janeiro é a incompetência do PMDB”, disse, ao criticar as Organizações Sociais (OS) que hoje administram a rede municipal de saúde. O candidato do Psol prometeu rever os contratos: “Vários desses contratos viraram caso de polícia, e muita gente que ganha dinheiro com as OS’s hoje financia o candidato do PMDB”, disse.

O candidato peemedebista também foi chamado para a briga por Jandira. “Você tem uma marca que as mulheres não vão perdoar. Você é um agressor de mulheres. E, sendo um agressor de mulheres, você não pode comandar uma cidade de maioria feminina como o Rio de Janeiro”, disse, em alusão ao caso, já arquivado pela Justiça, em que Pedro Paulo teria agredido sua então mulher com socos e pontapés.

Após acusar a candidata de “ter um discurso de ódio e fazer acusações falsas”, Pedro Paulo revidou: “Eu fui inocentado, Jandira. Você foi acusada de receber propina da Lava-Jato e o (procurador geral da República) Rodrigo Janot vai atrás de você”. Jandira retrucou: “Você mente, Pedro Paulo. Minha resposta é minha declaração do Imposto de Renda. Sou um mulher ficha limpa”.

Considerações finais

Em suas considerações finais, Molon, Jandira e Freixo buscaram se diferenciar em busca do voto útil dos eleitores de esquerda. Eu estou acostumado a enfrentar desafios que parecem impossíveis. Lutei muito pela cassação do Eduardo Cunha, conseguimos investir contra a anistia ao caixa dois, em uma Câmara esvaziada propositalmente. A eleição está em aberto. O primeiro colocado nas pesquisas já está no segundo turno. O resto depende de você, disse Molon, valorizando sua atuação como deputado e apostando que o voto da maioria dos eleitores ainda pode mudar.

Jandira fez uma última denúncia. “Ainda há uma operação de boca de urna, sustentada pela grande mídia, para fazer com que a segunda fase do golpe se consolide. Querem retirar do jogo, manipulando os dados das pesquisas, as pessoas que nunca vacilaram na defesa da democracia e dos direitos do povo, dos trabalhadores e das mulheres”, disse. “Eu tenho lado e nunca o escondi, como nunca escondi meus aliados. Aliados que promoveram uma mudança na qualidade de vida do povo brasileiro e na vida desta cidade, onde nunca se investiu como nos governos de Lula e Dilma.”

Freixo apostou na mobilização da militância e da juventude, principais armas do Psol para conseguir a arrancada final rumo ao segundo turno. “A militância está nas ruas de forma incansável, fazendo uma das campanhas mais bonitas da história dessa cidade. Com apenas 11 segundos e duas inserções na tevê, a gente está derrotando o PMDB do Eduardo Cunha, do Sérgio Cabral e do Pedro Paulo. O pesadelo pode nascer das urnas se o segundo turno for entre Crivella e Pedro Paulo”, afirmou.