Eleições 2016

Pesquisas no Rio mostram cinco empatados em segundo lugar

Jandira Feghali leva questão nacional ao debate: 'PMDB de Temer e Cunha, que deu o golpe no Brasil com seus aliados, vários aqui presentes, faliu o estado e aumentou a desigualdade na cidade'

Marcelo Freixo/Facebook

Freixo está com 11%; Na sexta-feira (9), o candidato participou pela primeira vez do debate eleitoral na TV

Rio de Janeiro – A 20 dias de uma votação cujo resultado permanece imprevisível, os candidatos à prefeitura do Rio de Janeiro já traçaram suas estratégias para a reta final da campanha eleitoral. Com as mais recentes pesquisas apontando o senador Marcelo Crivella como virtualmente confirmado no segundo turno, além de uma situação de empate técnico entre outros cinco candidatos, a luta agora é para conquistar os votos que possam garantir presença na disputa final contra o candidato do PRB.

Pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada na sexta-feira (9) mostrou Crivella com 29% das intenções de voto dos eleitores cariocas. Em segundo lugar aparece o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) com 11%, seguido por Jandira Feghali (PCdoB) e Pedro Paulo Carvalho (PMDB), ambos com 8%, e Indio da Costa (PSD) e Flávio Bolsonaro (PSC), ambos com 6%.

Como a metodologia utilizada pelo Datafolha admite uma margem de erro de 3 pontos percentuais mais ou para menos, Freixo, Jandira, Pedro Paulo, Indio e Bolsonaro se encontram em situação de empate técnico. Completam a pesquisa os candidatos Carlos Osorio (PSDB), com 4%, e Alessandro Molon (Rede), com 1% das intenções de voto. Os candidatos Cyro Garcia (PSTU), Telma Bastos (PCO) e Carmen Migueles (Novo) não pontuaram.

Embora não tenha decolado nas pesquisas como esperava o prefeito Eduardo Paes, o candidato da situação, Pedro Paulo, se encontra na posição de adversário a ser batido. Talvez temendo o uso da máquina da prefeitura em favor do peemedebista nesta reta final da campanha, tanto tradicionais adversários quanto antigos aliados tiveram Pedro Paulo como principal alvo nos últimos programas de propaganda eleitoral na televisão e também no debate realizado pela RedeTV! na noite de sexta-feira (9).

Paralelamente, o contexto político nacional também se faz presente na campanha carioca, e tem na deputada federal Jandira Feghali a principal voz a denunciar o golpe que tirou Dilma Rousseff da Presidência da República. Convidado a entrar no PSDB por Aécio Neves somente para ser candidato a prefeito no Rio, o neotucano Carlos Osorio, ex-secretário de Paes e do governador Luiz Fernando Pezão, assumiu nos dois debates já realizados na tevê a tarefa de se contrapor a Jandira sempre que o golpe ou Michel Temer fossem citados.

Uma terceira estratégia presente na reta final da campanha eleitoral no Rio é a parceria interna entre os candidatos dos campos da esquerda e da direita para ocupar lugar no segundo turno. Acordados em torno do apoio a aquele dos três que conseguir avançar na disputa, Molon, Freixo e Jandira trabalham em regime de quase parceria nas ruas, programas e debates.

A mesma intenção de não agressão é perceptível entre Indio, Osorio e Bolsonaro. Todos sabem que, para além das ambições políticas pessoais, é importante colocar seu campo ideológico à frente de uma disputa com ecos nacionais: “A esquerda terá seu lugar no segundo turno. Mais para frente, se a disputa continuar acirrada como está, provavelmente teremos uma onda de voto útil entre os eleitores de esquerda”, aposta Marcelo Freixo.

Todos contra PP

No debate da RedeTV!, Pedro Paulo prometeu construir 123 quilômetros de BRT e levar a Transbrasil até Deodoro e Santa Cruz, criando um anel de transporte. Também prometeu estender o VLT do Aeroporto Santos Dumont até o bairro da Gávea e dar continuidade a projetos criados por Paes, como a Clínica da Família e a Escola do Amanhã, de tempo integral. A Olimpíada, no entanto segue como carro chefe na tentativa de ganhar o voto dos cariocas: “A Prefeitura se superou na Olimpíada. Muita gente não acreditava, mas chegamos lá. Esses que me criticam aqui nesse debate são os mesmos que diziam que a Olimpíada não iria dar certo”, disse o candidato peemedebista.

A artilharia contra Pedro Paulo, no entanto, veio de todo lado. Osorio criticou a “indústria de multas”, Crivella falou sobre as “Clínicas da Família sem médico e enfermeiro”, Indio sobre “escolas sem professores, hospitais sem médicos e 42 mil crianças sem creche”. Molon chegou a arrancar risos da plateia: “Tá muito difícil morar no Rio. Tem problema na saúde, na segurança, na mobilidade. Bom mesmo é morar no planeta Pedro Paulo, aonde tudo vai bem, a educação é boa e o ônibus passa perto de casa”.

Ao responder a uma eleitora que falou sobre a escola de seu filho “sem professor e sem merenda”, Freixo bateu firme: “A escola que você acaba de narrar é a escola do hoje não é a Escola do Amanhã do Pedro Paulo, uma escola que vai chegar e que não chega nunca. É um relato sincero e honesto de uma mulher negra que tem o seu filho em uma escola pública. Os educadores querem autonomia pedagógica, Pedro Paulo. A escola pública não pode ter material didático empurrado goela abaixo por fundações privadas com as quais vocês fazem acordo sabe-se lá de que maneira. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Município, quando vocês assumiram a Prefeitura havia 15% de escolas precárias, hoje são 43%”, disse o candidato do Psol.

“Fora, Temer”

Jandira Feghali trouxe a questão nacional ao debate já em sua primeira fala: “O PMDB de Temer e Cunha, que deu o golpe no Brasil com seus aliados, vários aqui presentes, também faliu o estado e aumentou a desigualdade na cidade do Rio de Janeiro”. Dirigindo-se a Crivella e a Pedro Paulo, disse: “Sempre tive lado e nunca traí o projeto do qual participamos com Lula e Dilma. Sempre estive ao lado dos trabalhadores e da democracia”.

Curiosamente, coube ao candidato do PSDB, o ex-peemedebista Carlos Osorio, defender o governo Temer: “Por conta dos erros da presidente Dilma, temos um milhão de desempregados no Rio de Janeiro. O governo da presidente Dilma faliu o nosso país, criando 12 milhões de desempregados e quebrando a Petrobras para financiar um projeto de perpetuação no poder”, disse o candidato tucano, antes de perguntar à Jandira: “A senhora pretende trazer para o Rio de Janeiro o modelo que quebrou o país?”

A candidata do PCdoB, que tem o apoio do PT, retrucou: “Uso o adesivo ‘fora, Temer!’ e vou para a rua porque golpe de Estado não é aceitável em lugar nenhum no mundo, e muito menos aqui no Brasil, onde já vivemos situações muito difíceis. Espero que a gente consiga tirá-lo (a Temer) ainda este ano, com os movimentos crescendo, com as ruas crescendo. Todo mundo já entendeu o significado desse governo que é apoiado por Pedro Paulo, por Crivella, por Osorio, por Indio”.

Jandira também alertou sobre o impacto da nova orientação política federal na cidade: “O projeto que se instala em nível nacional impacta fortemente as cidades. Na saúde, no ano de 2015 o governo Dilma repassou R$ 2,5 bi para o Rio de Janeiro. Assistiu 1,6 milhão de pessoas em medicamentos para diabetes e hipertensão. Conseguiu colocar com seus programas 786 mil jovens dentro das escolas técnicas e universidades. Tudo isso agora está em risco. É fundamental que a gente resista contra a interrupção de um projeto como esse”, disse, dirigindo-se ao eleitor.

Tensão e risos

No momento mais tenso do debate, Jandira perguntou a Crivella se, quando era ministro da Pesca, pescou “muitas traíras”: “A presidenta Dilma pescou muitas, inclusive o senhor”, disse. Crivella respondeu: “Você me conhece há mais de 20 anos, Jandira, e sabe que eu sou um homem bom. Mas, também sou honesto e não poderia continuar a apoiar o governo diante de tanta roubalheira”.

Houve também momentos de descontração, como quando a RedeTV! cortou o microfone do próprio repórter, Fábio Barreto, que fazia uma pergunta a Crivella: “Posso ceder meu tempo? Ele estava indo muito bem!”, disse o candidato do PRB, para risada geral.

Outro momento que provocou risos na plateia e mesmo entre os candidatos foi quando Flávio Bolsonaro alertou que, se chegasse à Prefeitura, o Psol iria “criar o programa Bolsa-Larica para combater a fome das pessoas que fumam maconha”. Bolsonaro também acusou Freixo de querer “levar o debate da maconha para os 160 municípios do Rio de Janeiro”, no que foi lembrado pelo adversário: “Flávio, nós somos candidatos a prefeito”.