Atitude suspeita

Campanha de Tarcísio ordenou cinegrafista da Jovem Pan a apagar imagens de tiroteio em Paraisópolis

Áudio revela intimidação. Imagens podem ter registrado possível crime cometido por policial à paisana que fazia a segurança do candidato. Emissora nega

Cleiby Trevisan/Divulgação
Cleiby Trevisan/Divulgação
Uma das propostas mais desastradas é a rejeição dos livros didáticos, barrada pela Justiça. O material que os substituiria, porém, está repleto de erros segundo especialistas

São Paulo – Um membro da campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ordenou a um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio que em 17 de outubro interrompeu uma agenda do candidato na comunidade de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista. A motivação para a ordem pode ter sido apagar a prova de um crime de homicídio cometido por um policial à paisana que fazia a segurança do indicado por Jair Bolsonaro para disputar o governo de São Paulo. A ocorrência terminou com um homem morto.

As informações são do jornal Folha de S.Paulo, que obteve áudio gravado logo após o tiroteio. O profissional da emissora, que pediu para não ser identificado, foi abordado por um integrante da equipe de Tarcísio, que por sua vez estava na sede de um projeto social de Paraisópolis.

Segundo o jornal, o cinegrafista e outros profissionais de imprensa foram levados para um carro de apoio da campanha. Ao chegar ao local, o profissional foi questionado sobre o que havia sido filmado. Em seguida, ele recebeu a ordem para que apagasse as imagens. “Você filmou os policiais atirando?”, questiona o cabo eleitoral de Tarcísio. O profissional, então responde:

“Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”, responde o cinegrafista.

Após uma segunda pergunta, se o funcionário da emissora havia feito imagens das pessoas que estavam no local onde o evento com Tarcísio foi realizado, ele dá a ordem. “Você tem que apagar.”

Razão obscura

A Folha informa que “enviou a transcrição do áudio obtido à assessoria de Tarcísio e questionou se a ordem do integrante da campanha não consistiria em apagar uma prova do caso, que ainda está sob investigação pela Polícia Civil do estado de São Paulo.”

Ainda citando o jornal, a equipe do candidato respondeu que “um integrante da equipe perguntou ao cinegrafista se ele havia filmado aqueles que estavam no local e se seria possível não enviar essa parte para não expor quem estava lá”.

Propaganda de Bolsonaro cita ‘ataque’ a tiros em Paraisópolis descartado pela polícia e até por Tarcísio

O próprio Jair Bolsonaro, além de Tarcísio se utilizaram do episódio em seus horários eleitorais. “O candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e sua equipe foram atacados por criminosos em Paraisópolis”, afirma o locutor das peças de TV e rádio que foram ao ar no mesmo dia da ocorrência.

Mais tarde, o candidato a governador de São Paulo postou que o episódio não teria motivação política, mas que se tratava de disputa territorial.

Leia a transcrição da gravação:

Campanha: “Você filmou [inaudível] que mostram policiais atirando? Quando a gente estava… chegou lá pra ver o que estava acontecendo. (…) Você estava ali embaixo filmando? Você filmou então o pessoal trocando tiro?”

Cinegrafista: “Não, trocando tiro, efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras. A hora que você chega, que você me barra…”

Campanha: “Você só filmou lá no canto?”

Cinegrafista: “Só. Na hora que você chega ali, eu já tô voltando.”

Campanha: “O pessoal que ‘tava’ na ONG ali, no Belezinha, você não filmou?”

Cinegrafista: “Não.”

Campanha: “Não filmou?”

Cinegrafista: “Do segurança de colete…”

Campanha: “Você tem que apagar. Essa imagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não.”

O áudio contradiz nota da emissora, que em nota enviada à Folha negou que parte das imagens registradas no tiroteio tenham sido apagadas: “A Jovem Pan exibiu todas as imagens feitas durante o tiroteio. O trabalho do cinegrafista permitiu que a emissora fosse a primeira a noticiar o ocorrido no local. Não houve contato da campanha do candidato Tarcísio com a direção da emissora com o intuito de restringir a exibição das imagens e, por consequência, o trabalho jornalístico”.

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), aliado de Tarcísio no segundo turno contra Fernando Haddad (PT), disse que determinou “imediata investigação” sobre o caso.

Com Folha de S. Paulo, CartaCapital e Fórum