Só piora

Assessor de Tarcísio que mandou apagar vídeo do tiroteio é agente licenciado da Abin

Fabrício Cardoso de Paiva, preocupado com as imagens, se licenciou para trabalhar no governo Bolsonaro. Para Grupo Tortura Nunca Mais houve “execução” durante visita de Tarcício na favela

Alan Santos /PR
Alan Santos /PR
O agente da Abin licenciado foi nomeado para trabalhar com Tarcísio no Ministério. O ex-ministro chegou a indicá-lo para receber medalha, que foi entregue por Bolsonaro

São Paulo – O assessor do candidato Tarcísio de Freitas, que mandou apagar vídeo de tiroteio em Paraisópolis, é o agente licenciado da Abin Fabrício Cardoso de Paiva, nomeado no governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo o The Intercept Brasil, uma fonte que trabalha no governo confirmou o nome do agente que se licenciou da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, para assessorar o bolsonarista que concorre ao segundo turno do governo paulista pelo Republicanos. A agência é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional, comandada pelo general da reserva Augusto Heleno, um dos mais radicais militares bolsonaristas.

Paiva é o dono da voz que manda o cinegrafista da Jovem Pan, aliada de Bolsonaro, apagar imagens de um tiroteio semana passada, em Paraisópolis, conforme áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira (25). Segundo o jornal, o assessor de Tarcísio (agora sabe-se que é Fabrício de Paiva) perguntou ao cinegrafista: “Você filmou os policiais atirando?”. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM para cima dos caras”, respondeu o profissional. “Você tem que apagar”, ordenou Paiva.

Na ocasião, uma equipe de Tarcísio de Freitas esteve na favela de Paraisópolis, zona sul da capital paulista, onde ocorreu o tiroteio que deixou uma pessoa morta. Com isso, a atividade da campanha eleitoral do candidato foi interrompida.

Falta esclarecer tiroteio na hora da visita de Tarcísio

As circunstâncias da troca de tiros e os autores dos disparos ainda não foram esclarecidas. As campanhas de Tarcísio e Bolsonaro após o ocorrido adotaram a narrativa de um atentado contra o candidato a governador, mas logo voltaram atrás. A Abin confirmou que um agente estava em licença não remunerada, acompanhando Tarcísio. Mas nega que “o policial citado nas reportagens [da Folha] sobre o caso de Paraisópolis, apontado como autor dos disparos, integre seu quadro de pessoal”.

Segundo currículo apresentado pelo agente licenciado, sua formação militar foi na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). E atuou como oficial de artilharia do Exército de 1996 a 2009, ano em que se tornou servidor na Abin. Em junho de 2019, porém, foi nomeado gerente de projetos da Subsecretaria de Governança e Integridade do Ministério da Infraestrutura por Tarcísio.

Pode ter sido execução, considera Tortura Nunca Mais

Em dezembro de 2021, recebeu a Medalha do Mérito Mauá, do governo federal, em “reconhecimento à contribuição ao desenvolvimento e progresso do setor de transportes”. A indicação foi do próprio Tarcísio.

Segundo a Ponte Jornalismo, o grupo Tortura Nunca Mais São Paulo trabalha com a hipótese de que Felipe Silva de Lima, 27 anos, foi executado em Paraisópolis no dia 17, momento da visita de Tarcísio, quando houve o tiroteio. Ontem (25), a entidade de defesa dos direitos humanos enviou ofício à ouvidoria da Polícia Civil, cobrando o andamento das investigações. Para o presidente do grupo, Ariel de Castro Alves, falta transparência por parte da polícia sobre o que de fato ocorreu no dia da visita do candidato Tarcísio ao local.

“O que precisa se esclarecer é se foi planejado antes pela coordenação de campanha que foram na comunidade que qualquer suspeito que aparecesse, deveriam atirar contra, para apresentar uma versão de atentado contra o candidato, ou se foi uma execução cometida por policiais. O que temos até agora é um crime comum. O homicídio do rapaz, sem confronto e desarmado. E o crime político, da tentativa de criar uma farsa de um atentado inexistente”, disse o presidente do Tortura Nunca Mais.