Contra o fascismo

Prisão de Sara Winter é o primeiro passo da reação, afirma Wadih Damous

“Do ponto de vista político, simbólico, institucional, a prisão vai ter significado quando chegar aos peixes graúdos”, afirma ex-presidente da OAB-RJ

Divulgação
Divulgação
“Isso nunca aconteceu antes”, afirma Damous sobre ataque com fogos ao STF

São Paulo – Para o ex- deputado federal e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, os desdobramentos da prisão da ativista de extrema direita Sara Winter nesta segunda-feira (15) serão relevantes se forem além dos chamados “peixes pequenos”. “Essa mulher é uma ameaça à ordem pública, ela e a gangue dela tinham que ser presas”, diz. “Do ponto de vista político, simbólico, institucional, vai ter significado quando chegar nos peixes graúdos. A prisão é o primeiro passo.”

No sábado, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de ataques de um grupo bolsonarista com fogos de artifício, o que tem um grave significado simbólico. “Isso nunca aconteceu antes”, observa Damous.

Sara Geromini, nome verdadeiro de Sarah Winter, foi presa pela Polícia Federal (PF) junto com cinco outros extremistas por ordem do ministro Alexandre de Moraes do STF, no âmbito no inquérito sobre fake news. O ministro tem sido objeto de ameaças de grupos os quais Sara supostamente comanda ou de que é integrante.

Outro que tem sido alvo de ameaças, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo, é relator do inquérito que apura alegadas interferências políticas de Jair Bolsonaro na PF. “Essa mulher já tinha chamado Alexandre para a briga física, ameaçou um ministro do Supremo, participou de uma série de atos de baderna. Só foi presa depois de jogarem fogos de artifício na direção do Supremo”, avalia o ex-deputado.

Graúdos extremistas

Para Damous, ambos os ministros estão conduzindo os casos no STF de maneira correta, “mas, se vai ter rigor ou não, vamos ver daqui para a frente.”

Na opinião do advogado, “peixes graúdos” seriam, por exemplo, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o ministro da Educação, Abraham Weintraub.  “A prisão dessa mulher pode ser um primeiro passo nesse sentido, mas não pode parar por aí.”

Embora esteja cada vez mais enfraquecido e na iminência de cair do cargo, Weintraub continua desafiando a lei e protocolos científicos de combate à covid-19. Neste domingo (14), ele voltou a se encontrar com manifestantes bolsonaristas em Brasília, em ato promovido mesmo com decreto do governo do Distrito Federal proibindo protestos na Esplanada dos Ministérios. 

Em conversas com o bolsonaristas, o ministro repetiu o termo “vagabundos” com que xingou os ministros do Supremo Tribunal Federal na reunião da cúpula do Executivo, de 22 de abril. Weintraub disse: “eu já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos”. Em abril, ele havia dito: “por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.

“Ele está caindo, mas reiterou no domingo o que disse antes. E Carlos Bolsonaro é o coordenador do ‘gabinete do ódio’”, afirma Damous. “Se o filho do Bolsonaro é cassado, se se prende ou processa Weintraub por injúria e difamação, isso sinalizaria aos fascistas que há uma reação.”

“Eu não chamaria Sara Winter de ‘ativista’, mas de ‘extremista’. É o nome que se dá aos militantes da extrema-direita”, escreveu, no Twitter, o ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia Marcelo Semer.

Repercussão

Pelas redes sociais, deputados se manifestaram sobre a prisão preventiva da bolsonarista pela PF. Os atentados contra o STF e o Congresso não mais se repetirão “se a ação for rechaçada à altura”, e também com a responsabilização “de quem (os) apoia financeira e logisticamente”, apontou o líder do PT na Câmara, Enio Verri (PT-PR).

Para o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), “são muitos os crimes de Sara Winter”. Ele cita “formação de milícia política, atos violentos contra as instituições democráticas, disseminação de fake news.” Mas, para o parlamentar, “nenhum deles é mais grave” do que os cometidos Bolsonaro e filhos.

O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pediu a prisão preventiva de Weintraub. “Temos que começar a chamar pelo nome correto: isso é uma milícia.” O líder do MDB na casa, Eduardo Braga (AM), afirmou ser “inaceitável” o ato contra o STF, que para ele é um “ataque”.

Ex-presidentes

Significativamente, seis ex-presidentes da República manifestaram repúdio aos ataques de sábado ao STF. José Sarney classificou a agressão como “inqualificável e criminosa”. Para Fernando Collor, “tentar amedrontar a Justiça com manifestações de ódio é intolerável!”

“Gritemos: não ao golpismo! Os militares são cidadãos: devem obediência à Constituição”, pronunciou-se Fernando Henrique Cardoso. “É inadmissível a irresponsabilidade dessa manifestação agressiva contra o STF”, disse Luiz Inácio Lula da Silva.

Na opinião de Dilma Rousseff, “ataques ao STF e ao Congresso precisam ser respondidos nos termos da lei”. Já para Michel Temer, “a agressão física à Suprema Corte revela o desconhecimento de suas elevadas funções”.


Leia também


Últimas notícias