Um dos ‘cinco cubanos’ condenados nos EUA volta para casa

em condicional

São Paulo – René González, um dos cinco cubanos condenados nos Estados Unidos por espionagem e que está atualmente em liberdade condicional após 13 anos de prisão, poderá cumprir o resto de seu período de liberdade condicional em seu país. A decisão foi emitida nesta sexta-feira (3) pela juíza Joan Lenard, de Miami.

René, de 56 anos, recebeu autorização e viajou em 22 de abril, para acompanhar o funeral do pai. Para não precisar regressar à prisão, “o acusado ofereceu sua renúncia à cidadania americana diante do escritório consular americano (em Havana)”, conforme afirmam documentos judiciais a que teve acesso à agência EFE.

O agente já havia obtido permissão judicial, no ano passado, para ir à ilha visitar um irmão que estava em estado terminal. René é casado e tem duas filhas em Cuba. Foi detido em 1998, junto a Gerardo Hernández, Ramón Labaniño, Fernando González e Antonio Guerrero, quando o FBI desmantelou a chamada Rede Vespa, que atuava no sul do estado americano com objetivo de obter informações sobre atentados planejados por opositores ao regime de Fidel Castro.

Gerardo Hernández, líder do grupo, está condenado a prisão perpétua. “Os cinco heróis cubanos”, como são conhecidos em seu país, admitiram que eram agentes do governo, mas que não espionavam Washington e sim grupos terroristas que conspiravam contra o ex-presidente Fidel Castro.

Últimos soldados da guerra fria

René Gonzáles foi o primeiro a entrar na Flórida, em 1990. Saiu de Havana simulando ser um traidor da revolução cooptado pelo sonho americano. Nos dois anos seguintes, seria seguido por outros 13 companheiros, entre eles duas mulheres. A Rede Vespa estava pronta, com a missão de infiltrar-se entre organizações de direita que jamais digeriram a revolução de 1959.

Com apoio de empresários e políticos norte-americanos, essas organizações contratavam mercenários para sabotagens como lançar pragas contra as lavouras e interferir nas comunicações do aeroporto de Havana. No início dos anos 1990, passaram a privilegiar o terror à indústria do turismo, base da economia da Ilha depois da derrocada da União Soviética.

As ações incluíam de rajadas de metralhadoras contra turistas em praias cubanas a atentados a bomba em hotéis. As reclamações diplomaticamente dirigidas ao governo americano eram ignoradas.

Distante apenas 160 quilômetros do maior império militar do mundo, restava ao governo cubano, para defender-se, a inteligência. Os agentes da Rede Vespa, disfarçados em profissões inusitadas como instrutor de salsa em Key West ou personal trainer de milionários de Miami, conseguiram proteger seu país de centenas dessas operações.

Em 1998, uma ofensiva do FBI levou à captura dos agentes. Quatro escaparam. Outros cinco negociaram a liberdade em troca de informações. Restaram René, Fernando, Guerrero, Ramón e Gerardo. Fiéis à sua causa, desde aquela época estão encarcerados em diferentes presídios de segurança máxima.

O assunto é tema do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais, publicado em 2011 e vencedor do Prêmio Brasília de Literatura na categoria reportagem. Leia aqui o relato do escritor à Revista do Brasil a respeito da saga dos cinco heróis. E assista abaixo um “trailer” dessa entrevista.