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Direita no Peru ‘tenta derrubar’ Pedro Castillo desde seu primeiro dia de governo

De acordo com analista político, abertura do processo de impeachment do presidente peruano reflete uma crise institucional antiga do país e a fragmentação do Congresso, onde o esquerdista não conseguiu formar maioria

Governo do Peru/Divulgação
Governo do Peru/Divulgação
Há pelo menos cinco anos a direita vem se valendo de sua maioria no Congresso para garantir seu poder destituinte

São Paulo – Professor doutor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), André Káysel disse ser “cético” com relação à possibilidade do presidente do Peru, Pedro Castillo, chegar até o final do mandato, em 2026, para o qual foi democraticamente eleito no país. Nesta segunda-feira (14), o Congresso do Peru aprovou a abertura do processo de impeachment contra o líder de esquerda, professor rural, de 52 anos, que assumiu a Presidência da República em 28 de julho de 2021. 

Por 76 votos a 41, os parlamentares conseguiram emplacar as acusações de “conspiração” e de “tráfico de influência” contra Castillo. De acordo com Káysel, em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual, desde o primeiro dia do governo de esquerda “a direita tem tentado atacá-lo e derrubá-lo com a presidenta do Congresso, Maria del Carmen Alva conspirando quase que abertamente com o fujimorismo. Então a vida do presidente é muito difícil”, observa. 

O professor destaca que o presidente tentou fazer concessões à centro-direita para garantir governabilidade, mas que até agora elas não deram resultados. “Não sei que estratégia ele terá para conseguir se manter no cargo desta vez”, lamenta. Pedro Castillo deve falar hoje no Congresso e apresentar sua defesa no processo de impeachment até 28 de março, quando deve ser votado o pedido de destituição.

Precedentes da crise institucional

O processo, ainda segundo Káysel, reflete uma crise institucional anterior, na qual há pelo menos cinco anos a direita vem se valendo de sua maioria no Congresso para garantir seu poder destituinte. O que explica a renúncia do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, em 2018, durante seu processo de impedimento, e o afastamento pelo Congresso em 2020 de Martín Vizcarra. 

Além disso, por trás do pedido de impeachment de Pedro Castillo está também o fato de o presidente não ter conseguido formar maioria no Congresso. O professor também chama atenção para o fato do líder de esquerda ter derrotado a candidata de direita Keiko Fujimori por uma diferença inferior a meio ponto percentual. Uma margem estreita como na eleição de Kuczynski também contra a filha do ex-ditador Alberto Fujimori. “De certa maneira é uma liderança em boa medida improvisada, que ganhou por uma margem estreita, e que tem muita dificuldade. Ele (Castillo) já teve mais de um gabinete rejeitado, vários primeiros-ministros renunciaram”, comenta o especialista. 

“Estamos falando de pelo menos três processos de impeachment nos últimos cinco anos. Sendo que, no caso de Castillo houve uma tentativa infrutífera da oposição de abrir um processo de impeachment em novembro e, agora, eles conseguiram abrir. Eles ainda precisam de 11 deputados. Ao todo, 76 que votaram a favor (do pedido de impeachment), e para de fato afastá-lo precisam de 87. Estão próximos mas ainda não chegaram nesse limite”, acrescenta. 

Eleições na Colômbia

À Rádio Brasil Atual, o professor doutor em Ciência Política também comentou sobre as eleições presidenciais na Colômbia, previstas para 29 de maio. Ele destaca que, pela primeira vez na história do país, um candidato de esquerda desponta como favorito com grandes chance de vitória. As primárias foram realizadas no domingo (13) com três políticos. E o líder do bloco de esquerda Pacto Histórico, Gustavo Petro, obteve a candidatura com mais de 80% dos votos (4.446.970), enquanto na coalizão de direita Equipo Por Colombia Federico Gutiérrez venceu com mais de 54%. O outro bloco que teve destaque nas eleições internas foi a ‘Coalizão Centro Esperanza’, que culminou na vitória de Sergio Fajardo, com mais de 33% dos votos.

“A esquerda nunca teve a possibilidade de disputar a sério uma eleição na Colômbia, mas Petro tem conseguido reunir forças bastante díspares. Já em 2018 contra Iván Duque (atual presidente) teve um desempenho histórico. Ele chegou ao segundo turno e agora, após os protestos de 2021, vem com muita força e pode ganhar essa eleição”, analisa. 

Saiba mais na entrevista

Redação: Clara Assunção