Mubarak contraria expectativa e diz permanecer no cargo até setembro

Mubarak anunciou transferência de poderes a seu vice, Omar Suleiman (Foto: Reprodução) São Paulo – Hosni Mubarak contrariou as expectativas de renúncia e anunciou que permanece no cargo de presidente […]

Mubarak anunciou transferência de poderes a seu vice, Omar Suleiman (Foto: Reprodução)

São Paulo – Hosni Mubarak contrariou as expectativas de renúncia e anunciou que permanece no cargo de presidente do Egito até setembro, quando haverá eleições. Em pronunciamento na TV na noite desta quinta-feira (10), ele reiterou a promessa de não se candidatar no futuro pleito e de transferir o poder a quem quer que seja sagrado vencedor do processo.

Mubarak afirmou que pretende delegar mais poderes a seu vice, Omar Suleiman, como forma de indicar que as reivindicações dos manifestantes serão consideradas por meio do diálogo. Em nenhum momento, porém, chegou a especificar quais funções seriam transferidas.

O vice é uma figura menos desgastada politicamente do que o presidente, por estar no cargo há menos tempo, além de contar com apoio dos enviados dos Estados Unidos ao país. O cargo, aliás, foi criado no dia 29 de janeiro, como forma de contornar as pressões internas por mudanças.

Na praça Tahir, durante o discurso, os manifestantes acampados ficaram insatisfeitos com o teor das declarações. Com gritos de “Fora, fora”, eles agitavam sapatos no ar, segundo informaram agências de notícia internacional. Um telão improvisado foi armado para a transmissão na praça, o principal centro de protestos.

Mubarak mantém-se no poder há 30 anos, em uma ditadura repleta de denúncias de violações de direitos humanos. Há 17 dias, ele enfrenta manifestações diárias de milhares de pessoas insatisfeitas com a crise econômica e a falta de democracia no país. Diversas fontes ligadas ao governo declararam, nesta quinta-feira, que o presidente renunciaria em favor de Suleiman.

Antes mesmo da promessa de pronunciamento do presidente, os manifestantes prometiam uma megamanifestação para esta sexta-feira (11). Após a fala de Mubarak, há expectativa de protestos ainda mais intensos.

Discurso

O presidente falou, por diversas vezes, na necessidade de superar a crise no país, dizendo que “todos os egípcios estão do mesmo lado”. Ele citou ainda a comissão de negociação, comandada por Suleiman e integrada por membros de partidos da oposição, como início das mudanças constitucionais aspiradas pelos manifestantes.

O pronunciamento foi, segundo ele, uma resposta necessária à população que reivindica mudanças políticas e econômicas. Referiu-se ainda com “pezar” pela morte de “mártires” nas manifestações. Segundo ONGs internacionais e a Organização das Nações Unidas (ONU), foram 300 pessoas mortas, e 5 mil feridos.

“Tenho confiança de que as mudanças que começamos não serão freadas. O Egito está em uma situação muito difícil neste momento e não podemos fazer nada que possa causar perdas, dia após dia, à nossa economia”, ponderou. “A prioridade agora é voltar a confiança entre os próprios egípcios e na economia”, pediu.

“Nunca sucumbi a nenhuma pressão internacional, preservei a dignidade e a paz no Egito”, disse. Em pelo menos dois momentos, ele falou em não aceitar pressão internacional sobre seu governo. “Não vou aceitar nenhuma intervenção estrangeiras nem ordens, não importa de onde venham”, disse.

Nesta quinta, o presidente dos Estados Unidos declarou, em discurso, que o mundo assiste à história no Egito, defendendo mudanças no sistema político. Seu vice, Joe Biden, vem mantendo contato constante com Suleiman, cobrando uma transição de poder. A postura contrasta com o apoio oferecido pela potência ocidental durante as três décadas do mandato de Mubarak. Lideranças da União Europeia também manifestaram-se sobre a necessidade de mudanças.