"Molecagem"

Milei usa ‘mentiras bolsonaristas’ para atacar Lula, diz Gleisi

Presidente da Argentina usou as redes sociais para compartilhar mensagens em apoio à manifestação bolsonarista com ataques a Lula. “Falar em ditadura no Brasil é total irresponsabilidade”, reagiu a petista

Reprodução/Instragram
Reprodução/Instragram
Mensagens reproduzidas por Milei fazem alusão a suposta "ditadura" no Brasil que estaria perseguindo Bolsonaro

São Paulo – A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), classificou como “molecagem” as postagens do presidente da Argentina, Javier Milei, por divulgar “mentiras bolsonaristas” para atacar seu homônimo brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos dois últimos dias, o ultradireitista argentino compartilhou no X (ex-Twitter) diversas mensagens em apoio ao ato que o ex-presidente Jair Bolsonaro realizou ontem (25), reunindo milhares de apoiadores na na Avenida Paulista.

“Javier Milei faz molecagem nas redes sociais divulgando mentiras de bolsonaristas sobre Lula. Falar em ditadura no Brasil é total irresponsabilidade, mais grave ainda se é reproduzida pelo presidente do país vizinho, amigo e parceiro comercial”, escreveu Gleisi.

Para a líder petista, Milei deveria “cuidar primeiro de resolver os graves problemas do povo da Argentina”. “Foi eleito para isso, mas prefere ofender Lula e perseguir estudantes brasileiros em seu país”, acrescentou. Nesse sentido, ela citou o caso dos brasileiros que estudam no país vizinho e que estão sendo barrados sob a acusação de serem “falsos turistas”.

Além de enaltecer Bolsonaro, investigado por participação em tentativa de golpe de Estado contra a democracia brasileira, Milei compartilhou mensagens com ataques diretos a Lula. Uma das mais violentas dizia que a manifestação bolsonarista representaria a “resistência contra a ditadura de Lula da Silva”. Outra dizia que Lula é “pró Hamas”, enquanto Bolsonaro é “pró Israel”.

Milei compartilhou também publicação do líder do Vox (sigla da extrema direita espanhola), Santiago Abascal, que destacou a mobilização bolsonarista como resposta a um suposto “autoritarismo de Lula” e “perseguição à oposição”. Uma última mensagem descrevia o ato como “massivo protesto anti-Lula” e mostrava vídeo em que Bolsonaro balançava uma bandeira de Israel.

Golpismo encurralado

Mais do que uma manifestação “anti-Lula”, como sugerem as postagens de Milei, Bolsonaro mobilizou seus apoiadores para tentar escapar da prisão. Ele, no entanto, acabou produzindo mais provas contra si. Isso porque citou, no discurso, o documento encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres em janeiro de 2023, que ficou conhecido como “minuta do golpe”. “O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil”, disse Bolsonaro no ato.

Desse modo, ele negou que o documento representasse um plano antidemocrático. “Por que continuam me acusando de golpe? Porque agora tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Apesar de não ser golpe o estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos.”

Ainda assim, acuado com a possibilidade cada vez mais concreta de prisão, Bolsonaro clamou por “pacificação” e sugeriu “passar uma borracha no passado”. Nesse sentido, com o destino praticamente selado na Justiça, o ex-presidente sugeriu ao Congresso Nacional anistiar “os pobres coitados que estão presos em Brasília” devido à participação na tentativa de golpe em 8 de janeiro do ano passado.

Nas entrelinhas, o perdão aos bolsonaristas que destruíram as sedes dos três poderes, em Brasília, abriria precedente para livrar a própria cara, já que Bolsonaro e seu entorno são suspeitos de serem os autores intelectuais e instigadores da intentona golpista.