'Inferno perpétuo'

Israel corta comunicações de Gaza, enquanto intensifica ações militares

Exército de Israel provoca apagão de comunicações na Faixa de Gaza, enquanto ONU aprova resolução de paz. Antes disso, Lula conseguiu falar com brasileiros

MOHAMMED SABER/EFE
MOHAMMED SABER/EFE
“Israel está transformando Gaza em um inferno perpétuo na Terra. O trauma vai perseguir gerações inteiras”

São Paulo – A investida militar israelense na Faixa de Gaza segue com a escalada na violência do Estado sionista. Hoje (27) o exército de Israel anunciou a expansão dos ataques por terra, que chegam ao segundo dia, enquanto seguem bombardeios por todo o território palestino. Por outro lado, a grande maioria da comunidade internacional pressiona pelo fim do massacre.

A Assembleia Geral da ONU aprovou nesta tarde uma resolução da Jordânia que cobrou uma “trégua humanitária”. Foram 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções. Do lado brasileiro, que defende o fim do massacre, o Itamaraty afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou ontem com brasileiros em Gaza, mas que caíram, hoje, todas as comunicações com o território.

“Israel está transformando Gaza em um inferno perpétuo na Terra. O trauma vai perseguir gerações inteiras”, disse o ministro das Relações Exteriores da Jordânia. O país, vizinho de Israel e do território palestino da Cisjordânia, representou, durante a reunião extraordinária na ONU, um conjunto de 22 países árabes. A aprovação pede um cessar-fogo imediato. Contudo, não há garantias de que Israel seguirá a indicação comunidade internacional.

Pouco eficaz

Na prática, resoluções sobre guerras dependem mais de acordos no Conselho de Segurança da ONU. Lá, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia possuem poder de vetar arranjos diplomáticos. E os Estados Unidos seguem com sua posição histórica de defesa intransigente do ponto de vista israelense. O país foi responsável por impedir um acordo de paz proposto pelo Brasil, que ocupa temporariamente a presidência do conselho.

Então, mesmo em reunião da Assembleia, os norte-americanos persistem favoráveis aos ataques. Hoje, a delegação diplomática do país criticou a proposta da Jordânia. Eles disseram que “faz falta nessa resolução a palavra reféns”. Contudo, o texto dos países árabes fala expressamente sobre o tema. O documento cobra “a libertação imediata e incondicional de todos os civis que permanecem ilegalmente mantidos em cativeiro”.

Crimes de guerra em Gaza

Mais cedo, o grupo armado Hamas, que promoveu ataques em Israel no dia 7 de outubro, deixando 1.400 mortos e mais de 100 sequestrados, acenou para a libertação de mais reféns. Até o momento, quatro israelenses foram libertos. Para isso, contudo, cobrou o cessar-fogo na região. O grupo argumenta que 50 prisioneiros morreram em bombardeios israelenses. De acordo com a agência internacional Reuters, há intenção de libertar todos os reféns, contudo, o grupo pede “um ambiente calmo”.

Enquanto isso, os mortos do lado palestino ultrapassam 6.500. Entre estes, ao menos 2 mil crianças. Mais de 50 mil mulheres grávidas sofrem na região sem suprimentos básicos como água e alimentação. Israel também cortou a energia em Gaza. Hospitais locais dependem de combustível para manter geradores, mas também estão em falta. O sistema hospitalar no local está em colapso. Israel, inclusive, não poupa ataques a hospitais, escolas e acampamentos de refugiados civis, inclusive matando médicos e profissionais da ONU.

Diante do cenário, a porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani, subiu o tom contra Israel em reunião hoje em Genebra (Suíça). “A punição coletiva do povo de Gaza, a privação de produtos básicos, do acesso a energia e água e o bombardeio de áreas densamente povoadas são crimes de guerra de acordo com a lei humanitária internacional”, disse.

Sem comunicação em Gaza

A mais recente investida israelense em Gaza é o corte das telecomunicações. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, o Itamaraty, afirmou nesta tarde que perdeu o contato com os 30 brasileiros impedidos de sair de Gaza por Israel e também com a embaixada palestina. De acordo com apuração do jornalista Jamil Chade, do Uol, pouco antes de perder totalmente o contato, integrantes do Itamaraty conversaram com um brasileiro. Ele relatou intensos bombardeios durante a última noite, o que seria a causa do apagão nas comunicações.

Ele também relatou um informe da rede de telefonia local. “Lamentamos anunciar a interrupção completa de todas as comunicações e serviços de Internet com a Faixa de Gaza devido à agressão em andamento. Os intensos bombardeios da última hora destruíram as últimas rotas internacionais que ligavam Gaza ao mundo exterior, além das rotas anteriormente destruídas durante a agressão, o que levou à interrupção de todos os serviços das empresas de telecomunicações da amada Faixa de Gaza.”

Ligação do presidente

O governo Lula mantém contato diário com os brasileiros em Gaza. O avião presidencial, inclusive, espera no Egito pela saída deles e repatriação imediata. Eles aguardam no Sul de Gaza, na cidade de Khan Younis. O local fica fora de uma zona de evacuação que Israel obrigou mais de 1 milhão de palestinos de deixar em poucos dias. Contudo, o governo sionista não poupa ataques na região. Ao contrário, informes locais dão conta de que a cidade é maior alvo dos bombardeios mais recentes.

Até onde se sabe, os brasileiros estão vivos. De acordo com o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, a videochamada de Lula ontem foi “muito boa” e “levantou a moral do grupo”. “O presidente transmitiu muita força ao pessoal, muita confiança. Dizendo para eles que não percam a coragem, com a esperança de que vai dar tudo certo. Foi uma conversa muito positiva. Depois, acompanhei a repercussão aqui no grupo de WhatsApp (que o Itamaraty mantém com as famílias em Gaza)”, relatou em entrevista à GloboNews.