Eleições na Rússia

Com 87% dos votos, Putin obteve a maior vitória na história da Rússia pós-soviética

Atual presidente da Rússia foi reeleito nesse domingo (17) sob críticas do Ocidente de que as eleições não foram livres, nem justas. Kremlin rebate

Sergey Bobylev/Sputnik
Sergey Bobylev/Sputnik
Vitória de Putin significa que o país continuará apostando em um mundo multipolar e no fortalecimento do BRICs, diz analista internacional

São Paulo – Reeleito nesse domingo (17) com 87,3% dos votos, ou 76 milhões, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, obteve a maior vitória na história do país desde a dissolução da União Soviética, em 1991. O resultado foi confirmado na manhã desta segunda-feira (18) pela Comissão Eleitoral Central da Rússia (CEC), que apontou ainda para um recorde na participação dos eleitores. A taxa de russos que compareceram às urnas foi de 77%, também a maior da história pós-soviética da Rússia.

Nas eleições anteriores, Putin havia conquistado entre 64% a 68% dos votos. O resultado do pleito o coloca agora à frente do governo até pelo menos 2030, quando ele terá 77 anos. No poder desde 1999, o presidente se tornará o líder mais antigo da Rússia desde o ditador Joseph Stalin e garantirá uma terceira década completa de governo. Putin também poderá ser novamente reeleito e permanecer no cargo até 2036 por conta de uma mudança aprovada na Constituição do país.

Após a confirmação da vitória, o presidente russo agradeceu o apoio dos eleitores e prometeu uma Rússia “ainda mais forte”. O líder do Kremlin foi à sede eleitoral da sua campanha e agradeceu aos voluntários pelo trabalho nesse domingo. Ele observou que a sua vitória mostra que a Rússia estava certa ao escolher o seu caminho. “Somos todos uma equipe”.

Putin fala em Rússia mais forte

“A fonte do poder na Rússia é o povo russo. As eleições não são uma coisa formal, a vontade única do povo é compilada a partir dos votos dos cidadãos russos, e a vontade única dos povos da Federação Russa é compilada a partir da voz de cada cidadão”, declarou Putin.

“Sonhei com uma Rússia forte e independente, espero que os resultados eleitorais nos permitam alcançar isso”, acrescentou. O presidente reeleito também falou sobre os desafios durante o novo mandato, destacando as operações especiais, o fortalecimento das capacidades de defesa e as forças armadas. Nesse sentido, Putin fez comentários sobre a atual situação na guerra com a Ucrânia. De acordo com ele, a “iniciativa na zona da operação militar especial” pertence inteiramente aos militares russos. 

O líder russo ponderou, contudo, que “é a favor de negociações de paz sobre a Ucrânia”, mas apenas se houver vontade de “construir relações sérias entre Estados”. 

Desconfiança internacional

A vitória de Putin acontece em meio a protestos e prisões de opositores ao seu governo e sob a desconfiança de observadores internacionais. O governo dos Estados Unidos afirmou, por exemplo, que as eleições no país “obviamente não foram livres e nem justas”. Ainda pairam sobre o governo reeleito suspeitas sobre as mortes de grandes opositores nos últimos meses. Entre elas, a do chefe mercenário de Wagner, Yevgeny Prigozhin. Ele liderou uma revolta fracassada em junho do ano passado e morreu numa queda de avião dois meses depois.

No mês passado, também morreu em uma prisão Alexey Navalny, que também protestava contra o governo. Nos dois casos, Putin foi acusado pelas mortes. O envolvimento é negado pelo Kremlin que, nesta segunda, também rebateu as críticas dos EUA. De acordo com o porta-voz do governo, Dmitry Peskov, à imprensa, o apoio massivo apontado pelas urnas “é a confirmação mais eloquente do nível de apoio da população do país ao seu presidente e da sua consolidação em torno dele”.

Peskov rebateu que o Ocidente, ao falar em ilegitimidade das eleições russas, sugere que os 87% dos votos dados a Putin são ilegítimos. “Isso é um absurdo”, afirmou. “Discordamos veementemente desta avaliação dos Estados Unidos. Essas avaliações são esperadas e previsíveis, dado que de fato os Estados Unidos são um país profundamente envolvido na guerra na Ucrânia. Este é um país que está, de fato, em guerra conosco. Esta não é uma opinião que estamos prontos para ouvir e que seja até importante para nós”, contestou o porta-voz.

Repercussão da vitória

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, foi um dos primeiros líderes a parabenizar Putin pela sua vitória. “O Presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, em nome do povo venezuelano, felicita o presidente Vladimir Vladimirovich Putin e o seu movimento político na esmagadora vitória eleitoral na sua reeleição como presidente da Federação Russa para o período de 2024 -2030, expressando reconhecimento ao glorioso povo russo pelo seu profundo compromisso com a democracia, expressando a participação excepcional neste dia eleitoral bem sucedido”, diz o texto da mensagem do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Ivan Gil, na rede social X.

Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ao comentar as eleições presidenciais russas, criticou a votação e classificou Putin como um “ditador”. No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não se pronunciou sobre o pleito na Rússia.

A análise, contudo, do cientista político argentino e analista internacional Alejandro Pachilla é de que a vitória de Putin significa que o país continuará apostando em um mundo multipolar e no fortalecimento do BRICs, que conta com o Brasil. “Todas as pessoas no mundo veem isso, embora os países ocidentais queiram escondê-lo. Este é um exemplo para a América Latina, Ásia, África, o mundo árabe”, opinou à Sputnik Brasil.

Redação: Clara Assunção com informações do Brasil de Fato e Reuters