Lava Jato argentina

Ação da Justiça sobre Cristina Kirchner é ‘perseguição’, diz governo argentino

Ex-presidente acusa “pelotão de fuzilamento midiático-judicial” e governo da Argentina diz que nenhum dos atos atribuídos a Cristina foi provado

Twitter/Cristina Kirchner
Twitter/Cristina Kirchner
Jornal Página12 denuncia "dispositivo midiático-judicial-político” contra a ex-presidente argentina

São Paulo – Como se não bastasse a crise econômica que o presidente Alberto Fernández tenta debelar com o ministro da Economia, Sergio Massa, a Argentina parece mergulhar em uma crise semelhante à brasileira no auge da Operação Lava Jato. O Ministério Público do país, por meio do promotor Diego Luciani, pediu 12 anos de prisão e inelegibilidade ou possibilidade de exercer cargos públicos perpétua para a vice-presidente e ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner.

O MP a acusa de associação ilícita e administração fraudulenta, relacionada a licitação de obras do período de seu governo, entre 2007 e 2015. O caso é conhecido como “Causa Vialidad”. CFK, como é conhecida, tem imunidade política pelo cargo que ocupa de vice de Fernández e por ser senadora. “Senhores juízes, este é o momento. É corrupção ou justiça”, afirmou Luciani, em estilo que, não por acaso, lembra o ex-juiz Sergio Moro.

Em nota, o governo de Fernández saiu em defesa da ex-presidente. “O governo nacional condena a perseguição judicial e midiática contra a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner, que ficou expressa hoje, mais uma vez, nas alegações finais e pedido de pena na denominada Causa Vialidad”, diz o texto. “Nenhum dos atos atribuídos à ex-presidente foi provado e toda a acusação feita a ela se refere unicamente à função que exercia naquele período, o que degrada infelizmente os mais elementares princípios do direito penal moderno”, acrescentou a Casa Rosada.

Apesar das divergências entre Fernández e a vice, independentemente de seu cargo, o presidente também se pronunciou em caráter pessoal. “Hoje é um dia muito ingrato para alguém que, como eu, foi criado na família de um juiz, educou-se no mundo do Direito e ensina Direito Penal há mais de três décadas”, declarou em sua conta do Twitter.

“Estratégia de fogos de artifício”

Segundo o jornal Página12, “raramente se viu com tanta clareza como funciona o dispositivo midiático-judicial-político”, como no caso em questão. Segundo o periódico, há uma exibição que pode ser classificada como “estratégia de fogos de artifício” da promotoria. Segundo o jornal, em mais de três anos de audiências não há provas contra Cristina.

A própria Cristina, no Twitter, no estilo dramático próprio aos portenhos, usa o termo “pelotão de fuzilamento” para comentar a perseguição. “Se faltava alguma coisa para confirmar que não estou diante de um tribunal da Constituição, mas de um pelotão de fuzilamento midiático-judicial, é para me impedir de exercer o direito de defesa diante de questionamentos”, postou.

Solidariedade de Dilma a Cristina Kirchner

Na mesma rede social, a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff manifestou “incondicional solidariedade” à colega sul-americana. Para Dilma, Cristina “está sendo acusada pelo MP por supostas irregularidades que teriam ocorrido há mais de 15 anos e que jamais foram provadas”. A brasileira, deposta pelo impeachment de 2016, afirma que o direito de defesa da líder peronista foi violado com “o abusivo acréscimo de acusações que nunca haviam sido feitas”.

“Receba meu apoio e meu carinho, companheira Cristina Kirchner. O povo argentino e o povo latino americano estarão ao seu lado e confio que a corte suprema do seu país não acolherá caso tão escandaloso de abuso judicial”, conclui Dilma Rousseff.