guerra no leste

Rússia inicia cessar-fogo e abre corredores humanitários

Terceira reunião para encerrar conflito entre países deve ser realizada ainda hoje

Sputnik / Aleksei Mayshev
Sputnik / Aleksei Mayshev
O presidente russo, Moscou: Vladimir Putin discutiu por telefone a situação na Ucrânia com o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel

São Paulo – A guerra entre Rússia e Ucrânia chegou ao 12º dia nesta segunda-feira (7), com o exército russo iniciando um cessar-fogo e abrindo corredores humanitários em algumas cidades ucranianas, como a capital, Kiev. Para hoje, é esperada a terceira rodada de conversas entre as delegações russa e ucraniana em busca de entendimento e chegar a um acordo para o fim do conflito.

O Ministério da Defesa da Rússia disse que suas forças pausaram seus ataques para permitir a evacuação de civis que estão nas nas cidades de Kiev, Kharkiv, Mariupol e Sumy. Entretanto, a saída dos refugados serão para Belarus ou Rússia. Na avaliação do governo ucraniano, a ação pode ser uma estratégia para concentrar forças e fazer uma nova onda de ataques, com uma escalada no conflito, em Kiev, nos próximos dias.

A criação dos corredores humanitários para retirar moradores e permitir a entrada de medicamentos e comida em cidades cercadas havia sido combinada em uma reunião entre representantes ucranianos e russos, na última quinta-feira (3). Porém, o plano não funcionou no último final de semana. Enquanto as autoridades ucranianas afirmaram que os russos desrespeitaram o cessar-fogo temporário, o Kremlin culpou Kiev pelo fracasso da operação.

Ameaças

Um comunicado das forças armadas ucranianas, divulgado hoje, alerta que os militares russos estão se preparando para invadir Kiev, mas antes tentariam assumir total controle das cidades de Irpin e Bucha, que ficam próximas à capital da Ucrânia. Vadym Denysenko, assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, afirmou que “uma grande quantidade de equipamentos militares e soldados russos está concentrada na proximidade de Kiev”.

Ainda hoje, o presidente russo, Vladimir Putin, discutiu por telefone a situação na Ucrânia com o chefe do Conselho Europeu, Charles Michel. De acordo com o líder russo, os militares russos estão tomando todas as medidas possíveis para salvar a vida dos civis na Ucrânia. Ele ainda afirmou a Michel que a principal ameaça na Ucrânia são os nacionalistas, “que estão usando táticas terroristas, escondendo-se atrás da população”.

A Rússia prometeu não ocupar a Ucrânia, mas afirmou que as tropas irão se retirar após cumprir seus objetivos, entre elas, a “desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”. O professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Reginaldo Nasser diz que a demanda russa é impossível de ser conquistada.

“A Rússia, por exemplo, defendia a separação das duas regiões e a não adesão à Otan. A ocupação não está nos planos porque é impossível fazer isso, assim como a desmilitarização do país. A questão também da desnazificação é uma questão retórica. Portanto, é um jogo que não sabemos onde querem chegar. É preciso saber também onde os Estados Unidos e a Otan querem chegar, porque essas sanções atingem a população russa e também o mundo. Então, diante de tanta incerteza sobre os objetivos, é difícil fazer um acordo”, afirmou ele, em entrevista ao repórter Rodrigo Gomes, da Rádio Brasil Atual.

Sanções danosas

Os Estados Unidos e a União Europeia estudam novas sanções contra a Rússia, e um possível embargo ocidental ao setor energético russo provocou a disparada dos preços do petróleo e do gás natural, assim como a queda das Bolsas ao redor do mundo, que temem a desaceleração da economia mundial.

O preço do barril de Brent do Mar do Norte se aproximou de US$ 140 (R$ 710) no domingo (6), muito perto do recorde absoluto de US$ 147,50 (R$ 748) de julho de 2008. Ainda na manhã de hoje, o preço do gás natural voltou a bater um recorde histórico no mercado europeu, com uma alta de mais de 60%, a 345 euros (R$ 1.911).

Nasser diz que as sanções não ajudam a frear a guerra e apenas prejudicam a economia global. Segundo ele, um dos problemas será situação do gás russo na Europa, na qual ainda não se tem dimensão de como a comunidade europeia irá se afetar. “É muito difícil conseguir algo com sanções. As pessoas acham que é uma solução pacífica, mas é uma guerra silenciosa e mata civis. O Iraque, na década de 90, cerca de 500 mil crianças morreram por falta de assistência médica. Quando as sanções acometem uma nação, a população se levanta contra essas medidas”, afirmou o professor.

Confira a entrevista