CONFLITO

Guerra na Ucrânia será divisor de águas para a história, diz historiador Andrea Graziosi

Historiador italiano afirma que confronto armado é desafio maior do que o fim da União Soviética

Jernej Furman/Flickr
Jernej Furman/Flickr
Segundo autor italiano, o conflito é um choque de realidade, fazendo a sociedade ocidental "sair da bolha em que várias décadas de bem-estar e de paz"

São Paulo – A guerra entre Rússia e Ucrânia será um divisor de águas para a história e mostra a necessidade de reinvenção por parte do Ocidente. Para o historiador italiano Andrea Graziosi, a dimensão do conflito no leste europeu terá consequências globais equiparáveis ao fim da União Soviética, em 1991.

Em entrevista ao jornal italiano La Repubblica e traduzido pelo Instituto Humanitas Unisinos, o autor de livros sobre a história soviética diz que a guerra da Ucrânia será um ponto de virada. Segundo ele, o conflito é um choque de realidade, fazendo a sociedade ocidental “sair da bolha em várias décadas de bem-estar e de paz“.

Na avaliação do autor, a guerra ucraniana representa hoje um desafio maior do que em 1991. “Naquela época, parecia que havia um Ocidente sólido: bastava estar do lado certo do mundo para resolver todos os problemas. Mas hoje não existe mais um modelo confiável: nos Estados Unidos havia Trump, na Europa sopram os ventos soberanistas. Hoje temos que reconhecer que o Ocidente nascido em 1945 a partir de uma Europa pequena e do gigante americano não existe mais: é um objeto histórico deteriorado. Então, é preciso inventar um novo Ocidente. Esta guerra nos dá a oportunidade para repensá-lo”, afirmou.

Guerra na Ucrânia

O historiador afirma também que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, há anos teoriza para a reconstrução de uma grande potência dominada pela Rússia, baseada na ordem, hierarquia, ideologia iliberal e desprezo pelo Ocidente. Para ele, a guerra na Ucrânia é baseada em um discurso que remonta ao nacionalismo grão-russo, da época do Império Russo, somado à retórica da humilhação que povo russo sofreu após o colapso da União Soviética.

“A agressão da Ucrânia nasce dentro desse “discurso” de czar refundador. Desde 2014, Putin tenta conquistar um país ao qual não reconhece a autonomia: para ele, os ucranianos são russos liderados por um governo ilegal construído pelos ocidentais após a expulsão do seu emissário Yanukovych. A resistência à agressão colocou a Ucrânia de volta no mapa mental da Europa e além”, analisou Graziosi.

Andrea Graziosi dedicou-se aos estudos da história soviética, desde 1980, fundando e dirigindo o Seminário Europeu de História Russa e Soviética, entre 1989 e 2001. Entre os 11 livros que lançou ao longo da vida, sete obras se debruçam sobre a história soviética, entre elas, A URSS do triunfo à degradação. História da União Soviética, publicado em 2008.


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