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Guerra na Ucrânia deixará impactos ambientais enormes, afirma Carlos Bocuhy

Ambientalista explica que conflito faz com que áreas sejam contaminadas com radiação e elementos químicos, prejudicando a biodiversidade e comprometendo o uso da água

Sputnik / Konstantin Mikhalchevsky
Sputnik / Konstantin Mikhalchevsky
Segundo presidente do Proam, os impactos sociais e ambientais de uma guerra são múltiplos e não têm sido devidamente dimensionados

São Paulo – A guerra entre Rússia e Ucrânia, que chega ao 19º dia nesta segunda-feira (14), deixará impactos ambientais e sociais enormes, e demandará muito tempo para que seus efeitos sejam revertidos. A afirmação é do ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam). Segundo ele, os impactos de uma guerra são múltiplos e não têm sido devidamente dimensionados. Bocuhy explica que no caso da Ucrânia, por exemplo, o avanço militar com deslocamento de grande número de tanques, blindados e explosivos lançOU poluição, estilhaços, elementos químicos poluentes e toneladas de carbono na atmosfera, com intensa queima de combustíveis fósseis.

O ambientalista cita a Crimeia como um dos exemplos, região que sofre com escassez de água após a contaminação do solo. “Os impactos da devastação de uma guerra são enormes. Por exemplo, o uso de minas terrestres solta elementos químicos e radiativos. Então, há uma poluição do solo e consequentemente também das águas. Há regiões da Crimeia que são impedidas de explorar água porque as áreas subterrâneas estão contaminadas”, explicou ele, em entrevista a Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual.

Biodiversidade

Em artigo publicado no Diplomatique, Carlos Bocuhy aponta que, na Ucrânia, “áreas guardiãs de biodiversidade foram impactadas, especialmente as sensíveis áreas úmidas próximas ao litoral, 33 das quais são consideradas de relevância internacional, abrigando 35% da biodiversidade da Europa, com 70 mil espécies de rara e endêmica flora e fauna”. “O que ocorre no sul da Ucrânia é que ela é depositária de áreas úmidas e é uma região rica em espécies. São áreas protegidas pela Unesco, que reconhece a biodiversidade biológica”, disse ele, durante a entrevista.

O presidente do Proam acrescenta que o ataque à infraestrutura energética pode ter atingido parte dos 15 reatores nucleares das plantas de geração de energia em funcionamento no país, expondo o ambiente à contaminação radiativa. “Colossais incêndios em dutos de gás e óleo foram provocados, lançando na atmosfera material particulado carcinogênico. Algumas estações de tratamento de esgoto foram atingidas e coliformes fecais foram liberados nos rios, provocando riscos epidemiológicos que implicam, inclusive, em contaminação na produção de alimentos”, disse em seu texto.

Outro ponto debatido na guerra da Ucrânia é o embargo econômico aplicado contra os russos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que 8 milhões a 13 milhões de pessoas no mundo poderão sofrer de subnutrição se o bloqueio às exportações de alimentos da Ucrânia e Rússia perdurarem. “Essa guerra tem um componente novo, que é a guerra econômica, com sanções contra a Rússia. E isso vai impllicar numa perda de produção de grãos da Rússia para a Ásia e a África. A FAO disse que teremos uma situação de vulnerabilidade alimentar muito forte nos próximos meses”, alertou Bocuhy.

Confira a íntegra da entrevista: