Ingerência

EUA contrariam o mundo e dificultam vacinação ao manter bloqueio a Cuba

Pela 29ª vez, Assembleia Geral da ONU vota pelo fim do bloqueio contra Cuba. Foram 184 países contrários

Estudio Revolución-Cuba-Granma
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"JOs bloqueadores estão sem argumentos. Os solidários reforçam o apoio", disse o presidente de Cuba Miguel Díaz-Canel

São Paulo – A Assembleia Geral da ONU se posicionou, novamente nesta quarta-feira (23), contra o bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos. Foram 184 votos pelo fim do embargo, contra apenas dois votos contrários, Estados Unidos e Israel, além das abstenções de Emirados Árabes Unidos, Ucrânia e Colômbia. O reforço da comunidade internacional sobre a ilegalidade do bloqueio é mais uma vitória de valor político para o governo cubano. Na prática, porém, os norte-americanos não levantarão as sanções, à revelia da decisão da ONU. O embargo total às exportações é imposto desde 1962 e a hostilidade dos Estados Unidos ao povo da ilha é contestada nas Nações Unidas pelos menos há 29 anos.

Durante essas quase três décadas, apenas Israel votou com os norte-americanos. Em 2019, primeiro ano de governo Bolsonaro, o Brasil votou a favor dos americanos, em decisão inédita, decorrente do alinhamento automático de Bolsonaro a Donald Trump.

A persistência do bloqueio a Cuba em tempos de pandemia, a exemplo do que ocorre com a Venezuela, dificulta a integração desses países com o mundo, inclusive ante a necessidade de aquisição de vacinas.

Rechaço

“Foram 184 votos a favor, dois contra e três abstenções. Assim o mundo reage à demanda cubana. Já são 28 anos de rechaço mundial ao bloqueio. Os bloqueadores estão sem argumentos. Os solidários reforçam o apoio”, disse o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel. “Voltamos e voltaremos à Assembleia Geral das Nações Unidas enquanto o bloqueio existir, porque respeitamos a comunidade internacional, tanto como ela desconhece e rejeita o império”, completou.

Posicionamento

Havia pequena expectativa de que o sucessor de Donald Trump, Joe Biden, mudasse de posicionamento, mas ela não se concretizou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manifestou antes da votação, na esperança de um gesto de Biden. “Hoje os países que defendem a soberania e a autodeterminação dos povos têm a oportunidade de votar pelo fim do inexplicável bloqueio que os EUA mantêm contra Cuba há 60 anos, aprofundado na era Trump. Espero que Biden demonstre uma postura realmente diferente em sua gestão”, disse Lula.

O PT, em nota, também se solidarizou com Cuba. “São prejuízos, injustiças cometidas e, em última instância, crimes contra a humanidade. A preços correntes, os prejuízos acumulados em seis décadas alcançam a cifra de US$ 1 bilhão. O bloqueio é ainda mais prejudicial neste momento de pandemia, que afeta a região do Caribe”, observou em nota a legenda.

“Essas medidas devem terminar o quanto antes. É lamentável que o bloqueio contra Cuba, no lugar de acabar, tenha sido reforçado nos últimos anos. O bloqueio viola os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas”, afirmou a representação da China.

A União Europeia, representada por Portugal durante a assembleia, deixou clara a posição do bloco contra as imposições unilaterais norte-americanas. “A União Europeia sinaliza pelo fim ao bloqueio para facilitar a abertura da economia cubana. Somos opositores às medidas desse tipo e suas aplicações extraterritoriais, bem como seus efeitos na Europa, que defende de forma comum o comércio internacional.”

Pandemia

Cuba possui uma saúde pública conceituada internacionalmente, baixos índices de violência e alto nível de educação, resultados conquistados pelo governo socialista mesmo com todos os obstáculos. Durante a pandemia de covid-19, Cuba controlou bem os casos e possui três vacinas em fase final de testagem. Além disso, a principal característica da política externa cubana é a solidariedade.

Assim foi durante o pico da pandemia na Itália, quando grupos de médicos cubanos foram voluntariamente para o país europeu ajudar no enfrentamento da doença. Como forma de gratidão, o governo da Lombardia, região mais afetada da Itália, defendeu a indicação dos médicos cubanos ao Prêmio Nobel da Paz.

A próxima etapa da colaboração cubana com a comunidade internacional se dará na questão das vacinas. O país afirma ja ter doses para toda sua população, e seguirá com grande produção para doar para países com economias frágeis. “Nossas vacinas estarão à disposição da nossa América e do mundo”, disse o presidente Miguel Díaz-Canel.

“A humanidade precisa de mais vacinas e não mais de bloqueios dos Estados Unidos. Hoje votamos pela independência de Cuba contra o sistema de medidas coercitivas unilaterais mais injusto, severo e prolongado contra um país na história moderna”, destacou o governo venezuelano.

Ilegal

A Venezuela também sofre com sanções dos Estados Unidos que impedem o país de ter acesso às vacinas. No início do mês, o governo denunciou bloqueio ilegal de mais de US$ 10 milhões que os venezuelanos enviaram para o consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS), Covax Facility, para receber vacinas.

“Tivemos recursos bloqueados pelo poder hegemônico, fomos excluídos do sistema financeiro internacional, e agoram violam o direito internacional e a carta das Nações Unidas. Não temos defesa e não temos a quem acudir”, disse a vice-presidenta da Venezuela, Delcy Rodríguez. Os valores foram bloqueados pelo banco suíço UBS, o que já provoca atrasos na entrega de vacinas. Em seis anos de embargo contra o país, os venezuelanos somam cerca de US$ 130 bilhões em prejuízos, sendo que boa parte do dinheiro da nação está retido em bancos europeus e norte-americanos.

Com informações dos jornais Brasil de Fato e Granma