Pós-plebiscito

Com nova Constituição, Chile deve eliminar ‘distorções’ do liberalismo econômico

Segundo o professor Williams Gonçalves (UERJ), elaboração de uma nova Carta Magna é resultado da revolta dos chilenos com o modelo de Estado criado na ditadura Pinochet

Reprodução/CCTT
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Estado ausente produziu cisão na sociedade chilena

São Paulo – O professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves destaca que a elaboração de uma nova Constituição no Chile é uma oportunidade histórica para enterrar o legado “desastroso” que combinou autoritarismo e políticas econômicas neoliberais.

O país andino, que foi às urnas neste domingo (25), é o caso paradigmático dessa combinação, que influenciou o continente latino-americano nas últimas cinco décadas.

“Foi um longo trajeto, que culmina agora com a redação de um novo pacto social que possa eliminar essas distorções absurdas do pensamento liberal”, afirmou, nesta segunda-feira (26) em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

O resultado do desenho de sociedade implementado desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1991), segundo ele, foi a completa cisão da sociedade: de um lado, aqueles que podiam pagar por serviços privados de educação e saúde. Do outro, “os demais, que nada podem”.

Ele lembrou que a votação que resultou na convocação de uma nova assembleia constituinte, exclusiva e com paridade de gênero, foi resultado de um ano de intensas mobilizações, nas quais as mulheres tiveram papel fundamental.

Anteriormente, foram os estudantes secundaristas chilenos, em 2006, que deram as primeiras demonstrações da insatisfação latente com o modelo de Estado neoliberal. Posteriormente, o movimento voltou a eclodir com força em 2011 e 2012, com protestos contra a privatização completa do ensino superior no país. “Eles viram que todas as portas e caminhos estavam fechados”, destacou.

Constituição e aposentadorias no Chile

Além disso, a ditadura Pinochet também deixou como legado a destruição do sistema previdenciário do país, outro fator que explica a revolta popular. Com o modelo de capitalização, a maioria dos aposentados chilenos passou a receber menos do que o salário mínimo. Quase metade deles vive abaixo da linha de pobreza. Recentemente, o governo foi obrigado a fazer aportes financeiros para complementar as aposentadorias pagas pelos fundos privados.

No entanto, Foi esse modelo que produziu a miséria no Chile que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou importar para o Brasil. Tal proposta só não foi adiante, durante os debates sobre a reforma da Previdência, porque foi barrada pelos parlamentares.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria