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Com 80% das urnas apuradas, TSE declara vitória de conservador em Honduras

Autoridade eleitoral despreza denúncias de fraude levantadas pela oposição e se antecipa à checagem das urnas. Organizações populares devem marchar em Tegucigalpa no sábado

Gustavo Amador/EFE

Manifestantes protestaram hoje contra os resultados. No sábado, marcha é convocada por oposição a Lobo

São Paulo – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de Honduras declarou oficialmente hoje (27) o nome do candidato que assumirá a Presidência do país centro-americano daqui a dois meses. “Juan Orlando Hernández é claramente o vencedor”, afirmou o chefe do TSE, David Matamoros, em cadeia nacional de rádio e televisão.

O nome do conservador, representante do Partido Nacional, aparece em primeiro lugar nos registros oficiais desde o início da apuração, no domingo (24), logo após fechadas as urnas. Cerca de 80% das cédulas já foram contabilizadas. Preferido do governo Porfírio Lobo, instituído na esteira do golpe de Estado de 2009, Hernández tem 35,6% dos votos. Logo atrás, com 29,3%, vem Xiomara Castro, candidata do Liberdade e Refundação (Libre) e esposa de Manuel Zelaya, presidente da República derrubado pelas forças armadas há quatro anos.

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Hernández vem sendo considerado presidente eleito desde segunda-feira (25) por uma série de atores políticos e sociais do país, inclusive pelo presidente da República. O próprio governo hondurenho descartou qualquer cautela e parabenizou seu candidato no dia seguinte ao pleito, quando menos de 40% das urnas haviam sido apuradas. Logo depois, o TSE anunciou que os resultados eram “irreversíveis”, embora naquele momento tenha se recusado a declarar um vencedor – pronunciamento que vem a pública apenas agora.

Poucas horas depois da informação oficial ganhar a imprensa, Xiomara Castro e os principais coordenadores do Libre, entre eles Manuel Zelaya, concederam uma entrevista ao vivo na Rádio Globo para, novamente, desconhecer os resultados. Respaldados por uma série de denúncias que apontam para uma fraude eleitoral, os opositores consideram que Xiomara é a verdadeira ganhadora do pleito.

“Esperemos até sexta-feira, quando poderemos apresentar ao povo, com provas, tudo o que estamos falando. Por isso, peço calma e tranquilidade ao povo. Faremos com que se respeite seu voto”, garantiu a candidata virtualmente derrotada, lembrando que no próximo dia 29 todas as urnas do país chegarão à capital, Tegucigalpa, e poderão ser verificadas. “Estamos revisando as informações. Não somos irresponsáveis. Na sexta-feira, o povo conhecerá a realidade.”

Ao lado de sua esposa, o ex-presidente Manuel Zelaya foi mais incisivo. “Por enquanto, não reconhecemos os resultados, porque houve manipulação e vamos comprovar essa farsa urna por urna”, alfinetou. “Há adulteração de relatórios, falsificação de documentos públicos e usurpação da confiança popular, porque publicaram resultados que não são coerentes com a realidade.”

À Rádio Globo, os líderes do Libre afirmaram ainda que as autoridades hondurenhas estão acabando com a credibilidade das instituições do país. Por isso, Zelaya interpreta que as elites que dominam a política de Honduras podem ter ganhado as eleições, mas não estão com o poder. “Com 35% dos votos, Hernández terá 65% da população contra seu governo”, anotou, lembrando os resultados divulgados pelo TSE. “Como conseguirá governar?”

Após se pronunciarem definitivamente sobre os resultados do pleito presidencial, na sexta-feira, Xiomara, Zelaya e demais lideranças do partido deverão encabeçar uma manifestação que se pretende pacífica no sábado (30). Nascido da mobilização popular que se opôs ao golpe de 2009, o Libre tem raízes no movimento sindical e social hondurenho, que há quatro anos está organizado na Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP). A entidade tem sofrido ameaças, perseguições e violência do governo desde sua criação.

Caso não consiga demonstrar a ocorrência de fraudes, o Libre poderá contar com a importante bancada que conseguiu emplacar no Congresso para frear as medidas “retrógradas” do novo governo. Com uma plataforma eleitoral privatizante e militarista, Hérnandez terá a tarefa de compor maioria no Legislativo para administrar o país. Seu grupo, o Partido Nacional, terá a maior bancada – 47 deputados, apenas oito a mais que o Libre.

“Vamos negociar com a oposição”, adianta Zelaya. A terceira maior bancada do Congresso ficou com o Partido Liberal, sigla que governou o país com o presidente derrubado em 2009. Terão 26 cadeiras. O Partido Anticorrupção (PAC) terá 13 deputados. Encabeçada pelo Libre, a oposição poderá compor com setores do Partido Liberal e com o PAC e conseguir maiorias para dificultar a vida do novo presidente.