eleições presidenciais

Honduras: justiça declara resultado eleitoral ‘irreversível’ e irrita oposição

Dois principais candidatos à presidência do país continuam se dizendo vencedores; suspeitas de fraude aumentam

©gustavo amador/libre

Partidária do Libre protesta contra resultado eleitoral

São Paulo – O impasse eleitoral em Honduras continua. Dois dias depois do pleito presidencial, realizado no domingo (24), ainda não há acordo entre os dois principais candidatos sobre quem recebeu o maior número de votos.

Tanto o conservador Juan Orlando Hernández, do Partido Liberal, quanto a candidata de esquerda Xiomara Castro, do Liberdade e Refundação (Libre), saíram das urnas se declarando vencedores – e continuam com a mesma postura.

Até agora, 67% das urnas foram apuradas. Hernández permanece na liderança que havia conquistado desde a divulgação dos primeiros resultados parciais pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) na noite do próprio domingo. Tem 34,1% dos votos. Xiomara aparece logo atrás, com 28,8%.

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Entre ontem e hoje (26), com o avanço da apuração, a vantagem foi reduzida em cerca de 1 ponto percentual. Ainda assim, o TSE hondurenho veio a público nesta madrugada para anunciar, em cadeia nacional de rádio e televisão, que os atuais resultados revelam uma tendência que é “irreversível”.

“Os números não sofrerão alterações”, afirmou o presidente do órgão eleitoral, David Matamoros, de acordo com Opera Mundi. Contudo, o órgão eleitoral se recusou a declarar oficialmente qual candidato venceu a contenda. O presidente da República, Porfírio Lobo, não teve a mesma cautela e parabenizou publicamente Hernández pela vitória. O candidato liberal é seu preferido na disputa.

A situação tem causado revolta nos partidários de Xiomara Castro. Para reagir à orquestração dos poderes estabelecidos, o coordenador do Libre, Manuel Zelaya, ex-presidente derrubado pelo golpe de 2009, convocou uma conferência de imprensa para denunciar supostas fraudes que estão sendo cometidas pelo TSE e pelo governo.

O Partido Anticorrupção (PAC), que também se apresentou ao pleito, endossa as denúncias. As duas siglas afirmam que não reconhecerão os resultados eleitorais caso as autoridades não comprovem, voto por voto, urna por urna, o nome do ganhador.

“Não estão contabilizando cerca de 1.900 atas. Quer dizer, quase 400 mil votos que, em sua maioria, são de zonas onde o Libre ganhou amplamente”, explicou o candidato a vice pela chapa de Xiomara, Enrique Reyna, ao Opera Mundi. “Além disso”, continuou, “muitas atas foram retidas por membros do Partido Nacional e nunca foram contabilizadas.”

De acordo com o membro do Libre, à medida que passam as horas, se torna pública a enorme quantidade de irregularidades que seriam parte de um plano bem estruturado para forjar a fraude eleitoral. Observadores internacionais rechaçam as acusações, mas a missão eleitoral formada por centrais sindicais latino-americanas e pela Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CSA) divulgou nota em que levanta uma série de irregularidades no pleito hondurenho.

“Durante todo o dia recebemos denúncias de diversas formas de manipulação e compra de votos, ameaças e outros atos de violência contra as testemunhas e os eleitores do Libre”, disseram os sindicalistas. “A missão de observação recebeu informações sobre estes atos e alguns deles foram testemunhados por seus representantes, assim como pelas várias organizações internacionais aqui vindas para observar as eleições.”

Por isso, Manuel Zelaya reiterou: “Vamos defender o triunfo que tivemos nas urnas junto ao tribunal e, se for necessário, iremos às ruas.”

Encabeçado pelo ex-presidente, o Libre reúne membros de seu antigo grupo político, o Partido Liberal, e empresários progressistas, além de lideranças sindicais, movimentos sociais e setores da esquerda que se opôs ao golpe de Estado de 2009, e que integram a Frente Nacional de Resistência Popular, formada logo após a queda de Zelaya.

É um partido com considerável capacidade de mobilização: em pouco mais de um ano de sua fundação, já se transformou na principal – ou na segunda maior, dependendo dos resultados eleitorais – força política de Honduras.

Enquanto isso, pelo menos mais dois governos latino-americanos reconheceram a vitória de Juan Orlando Hernández: a presidenta da Costa Rica, Laura Chinchilla, e o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, telefonaram para o candidato conservador e lhe deram os parabéns.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, expressou seu repúdio à intervenção dos Estados Unidos no país centro-americano. Para o líder chavista, Washington está influenciando os resultados do pleito. De acordo com Opera Mundi, Maduro contestou as declarações do TSE hondurenho.

Ainda segundo o Opera Mundi, PT e o Foro de São Paulo divulgaram notas ontem em que se dizem preocupados com a decisão da justiça eleitoral de Honduras de suspender a apuração e não incorporar 20% das urnas à totalização dos votos. O TSE diz que problemas com atas levaram à suspensão.

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