Bituca

Das Geraes para o mundo, Milton Nascimento chega aos 80. E Três Pontas faz festa na Praça Travessia

Cidade mineira vai comemorar nesta quarta-feira o aniversário do cantor, que está se despedindo dos palcos. Da música, nunca

Reprodução/Montagem RBA
Reprodução/Montagem RBA

São Paulo – A tranquila Três Pontas, no sul de Minas, 55 mil habitantes, a 300 quilômetros de Belo Horizonte, terá um dia agitado nesta quarta-feira (26). Um de seus filhos, Milton Nascimento, embora não tenha nascido exatamente lá, completa 80 anos e, mesmo ausente, ganhará festa na praça que não por acaso tem o nome de Travessia. Nascido no bairro da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro, o menino Milton Silva Campos do Nascimento chegou a Três Pontas aos 2 anos, em 1944, pelas mãos, literalmente, de dona Lília e seu Josino, o Zino, que o adotaram. A partir dos anos 1970, tornou-se um nome internacional da música. Sou do mundo, sou Minas Gerais.

A partir das 18h de hoje, e até umas 22h, artistas trespontanos vão se apresentar na Praça Travessia. Para marcar o início da apresentação, os sinos da Igreja Matriz vai tocar 80 vezes. Serão 15 bandas para tocar em torno de 30 músicas do repertório do cantor e compositor, cujas irmãs estarão presentes. Na Praça Travessia fica a casa onde moravam seus pais. Vários dos artistas já tocaram com Milton, especialmente no disco E a gente sonhando, lançado em 2011. O evento é promovido pela Associação Cultural de Três Pontas e Adjacências (ACTA), com apoio da prefeitura.

Na noite e nos festivais

Com quase 7 anos, o menino ganhou uma gaita e uma sanfoninha de quatro baixos. O violão veio aos 13. Mas o garoto não pensava em compor, só tocar. Isso só mudou depois que, já em Belo Horizonte, tocando na noite, foi ao cinema com o amigo Márcio Borges, assistir Jules e Jim, de François Truffaut. Passaram o dia vendo e revendo o longa. Naquela madrugada, saíram as três primeiras composições.

Com 24 anos, em 1966, o jovem Milton defendeu um samba de Baden Powell e Lula Freire, Cidade Vazia, no II Festival Nacional de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Excelsior. Participou da segunda eliminatória, em 6 de maio, em Porto Alegre. E chegou à final, um mês depois, no auditório da Excelsior em São Paulo. Cidade Vazia ficou em quarto lugar. A vencedora foi Porta-estandarte, de Geraldo Vandré e Fernando Lona, com Airto Moreira e Tuca.

O estouro veio no ano seguinte, quando Milton estava morando em São Paulo e tocando em boates. Sem que ele soubesse, o maestro Agostinho dos Santos inscreveu três canções no II Festival Internacional da Canção Popular, da TV Globo. Duas chegaram à final: Morro Velho ficou em sétimo e Travessia, parceria de Milton Nascimento com Fernando Brant, em segundo. Quem ganhou foi Margarida, de Gutemberg Guarabira, que depois iria tocar rocks rurais com Sá e Zé Rodrix.

Turnê de despedida

Vestindo um smoking que comprou fiado, Milton, premiado como melhor intérprete, arrebatou a plateia com Travessia. E Morro Velho, a história de dois meninos que cresceram juntos em uma fazenda, nunca mais deixaria de compor seu repertório. Ambas foram gravadas por uma amiga que se tornou irmã eterna: Elis Regina. A terceira música daquele festival foi Maria, minha fé, com Agostinho.

Travessia logo virou internacional, assim como seu autor. Com contrato assinado, Milton foi gravar nos Estados Unidos. Lançou o LP Courage, com arranjos de Eumir Deodato. E nunca mais parou. Ou está parando agora. Não de cantar, mas de fazer shows. Milton Nascimento está percorrendo o mundo em turnê de despedida. A última sessão está marcada para 13 de novembro, no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte. Amigos e fãs têm uma série de eventos programados para os dias que antecedem a despedida.

Mas esta quarta será dia de lembrar o chamado show do Paraíso, de 1977, que juntou Milton, Gonzaguinha, Clementina de Jesus, Beto Guedes e Chico Buarque, entre outros, em Três Pontas. De recordar o Clube da Esquina. De cantar as canções e sonoridades que Bituca deixou para o mundo. Das Geraes, do Milagre dos Peixes. Com seu coração civil e a alma repleta de chão.

 

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