Baby, baby

Gracinha, Fa-tal, suave e transgressora, Gal Costa foi a voz de todas as gerações desde os anos 1960

Cantora morreu aos 77 anos. Havia passado por cirurgia recentemente

Júlia Rodrigues/Divulgação
Júlia Rodrigues/Divulgação

São Paulo – Maria da Graça Costa Penna Burgos era uma vendedora de loja de discos conhecida como Gracinha, nascida em setembro de 1945, em Salvador. A partir de 1964, quando dividiu o palco do Teatro Vila Velha com contemporâneos, foi se tornando uma das grandes vozes brasileiras em todos os tempos. Gal Costa, como se tornou conhecida, morreu na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos. A causa não foi divulgada. Recentemente, Gal passou por cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita. Com isso, havia suspendido a temporada do show As várias pontas de uma estrela.

Gal foi a resistência, por exemplo, quando os amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil estavam exilados em Londres, forçados pela ditadura. Em 1971, o show Fa-tal – Gal a todo vapor se tornaria um de seus álbuns mais celebrados. Estão lá faixas como Sua estupidez, Vapor barato, Antonico, Como 2 e 2, Luz do sol. No auge da contracultura, a interpretação de London London, de Caetano, em 1970, se tornaria inesquecível. Assim como Vapor barato (Waly Salomão/Jards Macalé), que tempos depois faria parte inseparável do filme Terra Estrangeira.

Divino, Maravilhoso

Em seu primeiro single, de 1965, ela ainda assinava Maria da Graça. Por sugestão do produtor Guilherme Araújo, tornou-se Gal no álbum Domingo, de 1967, lançado em parceria com Caetano. O canto suave reverberou no disco coletivo Tropicália ou Panis et Circensis, no ano seguinte, com Baby. E impressionou no festival da Record daquele ano com Divino, Maravilhoso (Caetano-Gil).

Ao longo dos anos, Gal interpretou e deu visibilidade a cantores que depois se tornariam conhecidos nacionalmente, como Luiz Melodia (Pérola negra) e Zeca Baleiro, que fez uma canção em homenagem a Vapor Barato. Cantou Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues, Tom Jobim, Ary Barroso, integrou os Doces Bárbaros, foi chamada de musa. “Cristal de timbre único no universo pop, a voz laminada de Gal Costa mapeia desde 1964 os caminhos seguidos pela música popular do Brasil”, escreveu o crítico Mauro Ferreira. O governo da Bahia já decretou luto oficial de três dias. A cantora lançou mais de 40 discos. O último foi Nenhuma dor, em 2021.

Romantismo tropical

“Morri hoje com ⁦@GalCosta⁩, voz da minha juventude, transgressores anos 70. Foi-se o romantismo tropical, cantando Caetano, Gil, Caymmi, garganta de colibri. Baby, baby, peito, pernas e barriga de fora, cabelos corajosamente crespos. Amor da cabeça aos pés, beijo seus pés”, escreveu a jornalista Hildegard Angel.

“Ah, Brasil…que vazio. Sem Gal Costa, que tristeza sem fim”, disse a também cantora Zélia Duncan. “Desolada! Completamente desolada! Cresci e me formei cantora ouvindo esta voz! Muita luz e todo amor do mundo para Gal Costa!!!”, reagiu Mônica Salmaso. “Sem palavras. Só o silêncio devastador com a partida brusca de Gal, há pouco”, afirmou Leila Pinheiro.

Além das cantoras, o mundo político também presta homenagens à artista. “Gal Costa foi a trilha sonora do meu romance, tem um significado especial pra mim. Com seu talento, colocou sorrisos em muitas caras e seu legado permanecerá fazendo isso. Que Deus console seus familiares e amigos nesse momento tão difícil”, disse a deputada eleita Marina Silva. “Gal Costa foi das maiores cantoras do mundo, das nossas principais artistas a levar o nome e os sons do Brasil para todo o planeta. Seu talento, técnica e ousadia enriqueceu e renovou nossa cultura, embalou e marcou a vida de milhões de brasileiros”, afirmou o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Ouça mais Gal em Vaca profana e Força estranha.

O que os nomes da música do Brasil dizem sobre Gal. Ouça na Rádio Brasil Atual