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‘Bailarina’ de Brecheret volta ao seu lugar na Câmara após terrorismo bolsonarista. No Planalto, prejuízos são incalculáveis

O conjunto do acervo da sede do governo, com danos irreparáveis, representa todos os presidentes que passaram pelo Palácio

Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
A escultura de Brecheret foi separada da base e jogada no chão, mas já se encontra em perfeito estado

São Paulo – Diante da trágica soma de perdas simbólicas e materiais decorrentes do ataque ao Palácio do Planalto, STF e Congresso Nacional no último domingo (8), há algumas boas notícias relacionadas a objetos de arte. Segundo a Câmara dos Deputados, a escultura Bailarina, do escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret de 1920, foi restaurada e recolocada no local onde estava durante a invasão, segundo informou a Casa do Legislativo brasileiro nesta quarta-feira (11).

Bailarina foi recuperada

A peça pode ser vista no saguão de entrada da Câmara, sob a escada que leva ao Salão Verde, por todos os que entram pela Chapelaria. “A escultura foi separada da base e jogada no chão, mas já se encontra em perfeito estado”, diz a Agência Câmara.

A casa também informou que 21 móveis projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer e sua filha Anna Maria Niemeyer, de “valor histórico incalculável”, foram salvos da destruição provocada pela invasão de 8 de janeiro. Por estarem em áreas de grande circulação de pessoas, haviam sido recolhidos ao depósito para abrir espaço para a posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 1°.

O mobiliário fica em dois dos principais salões do Congresso Nacional: o Salão Branco, também chamado de Chapelaria, que é a entrada principal do prédio; e o Salão Negro, no piso superior do Salão Branco, que é um espaço de eventos e a entrada em dia de grandes eventos, quando a rampa do Congresso é usada.

Prejuízos incalculáveis

Entretanto, entre as obras de arte ou peças de mobiliário, os danos causados pelo terrorismo bolsonarista em Brasília são praticamente incalculáveis. Os que provocam mais tristeza em funcionários, amantes das artes e da cultura, estão no Palácio do Planalto, devido à magnitude dos danos. O mais emblemático do ódio talvez tenha sido o ataque ao quadro As mulatas, de Di Cavalcanti, no Salão Nobre da sede do governo. A pintura, de valor estimado em R$ 8 milhões, foi atingida e rasgada em sete lugares com uma pedra provavelmente pontiaguda.

O Planalto divulgou uma nota elencando os prejuízos. Fora o quadro de Di, a escultura em bronze O Flautista, de Bruno Giorgi, no terceiro andar, avaliada em R$ 250 mil, “foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão”, segundo o comunicado.

 Uma escultura de parede, em madeira, de Frans Krajcberg, foi quebrada várias vezes. Vale cerca de R$ 300 mil.

A mesa de trabalho do ex-presidente Juscelino Kubitscheck foi usada como barricada pelos criminosos. Uma avaliação do estado geral “ainda será feita”, diz a Presidência.

Relógio: valor “fora de padrão”

O relógio de pêndulo do século 17, de Balthazar Martinot – presente da Corte Francesa para Dom João VI – é talvez a principal perda. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. Um está exposto no Palácio de Versailles, mas tem a metade do tamanho da peça que estava no Planalto, que foi completamente destruída pelos terroristas. Segundo a nota da Presidência, “o valor desta peça é considerado fora de padrão”. Sua recuperação é praticamente impossível.

O diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, diz que será possível realizar a recuperação da maioria das obras vandalizadas pelo terrorismo de domingo em Brasília, mas estima como “muito difícil” a restauração do relógio.

“O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK. É este o seu valor histórico”, disse Carvalho. “O Planalto certamente reúne um dos mais importantes acervos do país, especialmente do Modernismo Brasileiro.”

O quadro As Mulatas, de Di Cavalcanti, perfurado por pedras: