REVELAÇÃO DO RAP

Kyan, o fenômeno que se transformou em ‘Deus’ dentro do rap nacional

Em pouco mais de 18 meses de carreira, rapper do litoral paulista vive ascensão meteórica e acumula milhões de ouvintes

FELIPE MASCARI
FELIPE MASCARI
Kyan: "Há um ano e meio eu só não queria dar trabalho e gasto pra minha família. Depois que perdi minha mãe, que era um pilar da família, ficou um vazio. Hoje, sinto que é meu dever preencher esse espaço, estar junto dos meus familiares e ajuda-los"

São Paulo – “Quando meu mundo quase acabou, eu fui o Deus que voltou pra minha casa“, é assim que Renan Mesquita, o rapper Kyan, retrata sua trajetória de apenas um ano e meio no rap nacional. Aos 23 anos, o artista da Praia Grande, no litoral paulista, trocou o funk pelo rap e se tornou uma das maiores revelações do gênero, após uma ascensão meteórica.

Em pouco mais de 18 meses, tudo mudou na vida de Kyan. Antes mesmo de ter o pseudônimo artístico, ele era conhecido como Renan MC. Desde os 14 anos, o funk foi seu guia musical, inspirando-se em funkeiros da sua região, como Felipe Boladão, MC Daleste e Neguinho do Kaxeta. O sonho em rimar nas batidas do funk durou até os 21 anos. “Eu sempre quis ser um MC de funk, porque cresci escutando e é um gênero forte na Baixada Santista. Mas decidi sair do funk e mudar pro rap quando vi que não daria certo”, explicou.

Em novembro de 2019, Kyan virou a chave do funk para o rap e lançou seu primeiro single “Mandrake”. Um mês depois, soltou a segunda música, “Pente de 100”. Em poucas semanas, já acumulou milhões de visualizações e sua estreia chacoalhou as estruturas da cena, ao apresentar uma forte intersecção entre rap e o funk.

Sua bagagem como funkeiro, segundo ele, foi o fator principal para atrair os holofotes do público. “Foi importante para manter uma própria personalidade. Se eu começasse do zero, acabaria me influenciando por alguém e poderia ser um genérico de outro artista. Um amigo me apresentou o trap, tentei fazer e criei algo diferente do que tinha na cena”, afirmou.

A ascensão de Kyan

Com o apetite para se tornar a principal revelação do rap nacional, Kyan iniciou o ano seguinte com lançamentos mensais. Os números só cresceram e gravou com artistas que escutava enquanto ainda era só um fã. Hoje, Renan soma 87 milhões de plays no YouTube e 1 milhão de ouvintes mensais em outra plataforma de streaming.

Essa ascensão foi retratada na introdução da música “Nós é Ruim e o Cabelo Ajuda”. No começo da canção, é exibido um áudio de sua mãe, Patrícia, que morreu em abril de 2020, surpresa com os números alcançados pelo filho. “Nossa, mas parece que as pessoas tão olhando, olhando, olhando… Porque eu olhei e tava 94 (mil visualizações), e o pior é que quando olho tá outro número”, diz ela na gravação.

A rápida repercussão foi uma “virada de chave” na cabeça do jovem rapper. Se o rap foi uma última cartada antes de desistir da música, o breve sucesso trouxe uma pressão para não deixar a poeira baixar. “Quando meu primeiro som bateu 1 milhão, vi que precisava fazer uma próxima música mais profissional. Porém, não tinha dinheiro, nem experiência. Foi uma pressão grande para virar um profissional da música, porque sabia que não poderia errar”, conta ele.

Menino virou Deus

Apesar da ascensão, Kyan ainda é um “fenômeno digital”. Ao estourar no começo de 2020, nunca organizou uma agenda de shows, por conta da pandemia de covid-19. Só neste ano, o rapper apresentou um projeto mais sólido, através da mixtape Bandido Fi di Crente.

O disco possui colaboração de seu irmão, que também é rapper, Kayin, e retrata a criação a infância dos dois, dividida entre a influência da igreja evangélica dentro de casa com a vivência das ruas da Praia Grande. Para o artista de 23 anos, construir a obra ao lado do irmão mais velho possui um simbolismo ainda maior.

“Meu irmão foi MC antes de mim. Ele cantava funk e eu queria ser igual a ele. O Kayn sempre foi uma referência pra mim, portanto não existia alguém melhor para estar no projeto além dele. É muito daora estar no estúdio junto ao lado dele, com menos insegurança e mais intimidade”, disse Renan.

Na música “O menino que virou Deus” – título inspirado no álbum O Menino que Queria Ser Deus, de Djonga –, Kyan retrata a responsabilidade adquirida um ano após a ascensão na carreira, precisando ser um pular principal para sua família, após a morte da mãe. “Eu paguei as contas de dentro de casa, segurei as pontas dе dentro de casa / Desdе o dia que a mãe se foi, tenho o papel de honrar nossa casa“, rima.

Segundo ele, carregar essa peso aos 23 anos cria uma pressão enorme para sua carreira. Há um ano e meio atrás eu só não queria dar trabalho e gasto pra minha família. Depois que perdi minha mãe, que era um pilar da família, ficou um vazio nesse sentido. Hoje, sinto que é meu dever preencher esse espaço, estar junto dos meus familiares e ajuda-los. Meu foco é fazer tudo por eles para evitar que algo se desestabilize”, finaliza.