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Kayblack, um representante da intersecção entre rap e funk

Rapper, que estreou em 2020, já soma 97 milhões de plays. E mudou a vida de sua família

FELIPE MASCARI
FELIPE MASCARI
Kaique Menezes, o Kayblack, começou sua trajetória no funk, aos 12 anos. Aos 20, foi considerado uma das revelações do rap nacional

São Paulo – O rapper Kaique Menezes, o Kayblack, 21 anos, é um dos representantes da intersecção entre o rap e o funk. Desentrelaçados artisticamente, os dois gêneros que possuem a mesma raiz, os extremos periféricos do Brasil, agora correm mais do que juntos. Em sua arte, Kayblack é capaz de unir os dois mundos, dando fôlego ao chamado “trapfunk”.

Hoje rapper, Kaique começou sua trajetória no funk, aos 12 anos. Inspirado em artistas como Felipe Boladão e Neguinho do Kaxeta, já escrevia seus versos e projetava seu sonho de viver da música. Somente aos 20 anos deu vida à música, já nas batidas do trap. Em 2020, lançou seu primeiro single, Bandido Mau, que soma 5 milhões de reproduções no YouTube.

Sua estreia foi um sucesso. Em pouco tempo, já foi considerado uma das principais revelações do rap nacional. Hoje, com apenas 12 músicas lançadas em seu canal, já soma 97 milhões de plays. Segundo ele, foram cerca de dois anos lapidando sua arte, com o objetivo de fazer sua carreira dar certo desde o começo.

“Eu vim do funk, fazia música desde pequeno, então sempre tentei viver da música”, explica. “Eu já tinha minha linguagem, que era mais voltada ao funk, mas eu filtrei e coloquei uma estética mais voltada ao rap. Ao mesmo tempo, nunca deixei minha essência morrer. Eu ainda tinha um pouco de medo e receio de colocar uma letra de funk inteira num trap, porque ainda havia um olho virado. Portanto, aos poucos eu fui colocando minha estética na música”, acrescenta.

Aprendizado com o irmão

Para entender a trajetória de Kayblack, é preciso apresentar seu irmão, Kauê, de 13 anos, conhecido como MC Caverinha. Fenômeno do trap, Caverinha explodiu entre 2018 e 2019. Diante do sucesso repentino e da pouca idade, precisou do suporte dentro de casa, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Kayblack, então, tomou a frente e foi seu produtor musical.

O rapper conta que a experiência auxiliando Caverinha foi crucial. “Tudo o que sei aprendi com ele. Agora, dentro do trap, ele me ensinou muito. A maneira que me posiciono no palco, e até nas entrevistas, vem tudo do Caverinha. Eu brinco com ele que quero ser como ele quando crescer. Nossas ideias sempre batem, parece que temos a mesma idade, por isso escuto muito ele”, diz.

Nas primeiras músicas lançadas, ainda pela influência de seu irmão, Kayblack apresentava uma estética musical mais próxima ao trap norte-americano. Ao adquirir bagagem e holofotes do público, viu que seria possível imprimir sua linguagem, e a intersecção com o funk tornou-se realidade.

“Eu tinha receio de mostrar toda minha cultura de uma vez. Então, no começo, ainda tinha uma estética totalmente voltada ao trap. Depois, alcançado milhões de visualizações, senti confiança para ser quem eu era. A partir disso, comecei a mostrar minha quebrada, meus amigos e minha identidade”, comemora.

A base de Kayblack

Antes do sucesso, Kayblack e MC Caverinha gravavam vídeos amadores no quintal de casa. Kaique celebra o fato de tirar a família da pobreza e relembra das dificuldades do passado. Em 2017, seus pais trocaram um carro pela entrada de uma casa própria. Porém, foram vítimas de um golpe e acabaram despejados, pois o terreno pertencia a outra pessoa.

“Nós éramos oito pessoas: meus pais e seis filhos. Fomos morar na garagem de un bar por um tempo. Imagina isso. Então, a gente deu uma reviravolta enorme. Eu falei pra Caverinha que era a hora de fazer a carreira virar. Hoje, em dia, graças a Deus minha mãe tem a casa dela e todo mundo está sorrindo”, celebra o rapper.

Sua vitória também inspira seus amigos, que andam junto com o artista antes dos milhões de ouvintes. “A gente nunca imagina que alguém próximo da gente pode estourar ou fazer sucesso. Poder viver esse sonho de perto inspira outras pessoas, mostra que é possível. O que víamos antes pela internet se tornou realidade. Então, sempre que possível vou levar a molecada da quebrada comigo, colocá-los no estúdio e dar oportunidade.”

Rimando autoestima, usando as marcas de grife que sonhava no passado e, agora sim, dando uma casa própria para os pais, Kayblack afirma que a frase “o rap salva vidas” nunca fez tanto sentido. “O trap, o rap e o funk salvam vidas. Eu sou uma prova viva disso. Sem a música, só Deus sabe onde eu estaria. Pensa só: eu era jovem, com cinco irmãos mais novos e com o pai preso. Se não fosse a música, só Deus sabe onde estaria agora.”