cultura da violência

Deputados cobram Tarcísio, que vetou psicólogos nas escolas apesar dos ataques em alta

Para deputados do PT, PCdoB e PV, o cuidado com a saúde mental na comunidade escolar é fundamental para evitar o bullying e a escalada de desfechos trágicos no país. Só neste ano já foram 11 casos, segundo levantamento

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Relatos de bullying estão associados aos casos crescentes de ataques a escolas no Brasil

São Paulo – A direção estadual do PT e deputados estaduais da Federação PT/PCdoB/PV cobraram do governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), medidas para evitar o bullying e seus desfechos trágicos nas escolas. Na manhã desta segunda-feira (23), um aluno de 16 anos entrou armado na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste da capital. Matou uma colega de 17 anos e feriu outras três. Segundo relatos de estudantes, o atirador, que foi detido por policiais, sofria bullying e teria avisado há duas semanas sobre o ataque que faria.

Há pouco menos de um mês, o governador bolsonarista vetou projeto que garante psicólogos e assistentes sociais nas escolas estaduais. De autoria dos deputados Paulo Fiorilo (PT) e Mônica Seixas (Psol), a proposta aprovada na Assembleia Legislativa partiu do consenso de que esses profissionais podem atuar contra crises de ansiedade, depressão, automutilação, falta de concentração, violência e até de suicídios nas escolas – problemas cada vez mais comuns, assim como alunos disparando contra os colegas.

O governador usou o falso argumento de que já existe um programa na área. No entanto, essa política conta apenas com 368 profissionais para atender 3,5 milhões de alunos e milhares de professores em todo o estado.

Cuidado com a saúde mental e a prevenção de tragédias

“O cuidado com a saúde mental na comunidade escolar é fundamental para impedir que tragédias como esta continuem a ocorrer nas escolas. Já passou da hora do governo do Estado garantir políticas efetivas para ampliar, de fato, a rede de psicólogos e assistentes sociais nas unidades escolares, entre outras medidas de acolhimento, mediação de conflitos e capacitação da comunidade escolar”, dizem os parlamentares em trecho da nota.

E lembram que recursos existem. “Falta ao governador Tarcísio de Freitas sensibilidade para priorizar a educação em toda sua complexidade. De nada adianta novas tecnologias se não garantirmos a saúde mental dos estudantes, professores e comunidade”.

O ataque à escola de Sapopemba é o segundo somente na capital paulista neste ano. No final de março, um aluno de 13 anos matou a facadas uma professora na Vila Sônia, na zona oeste. No último dia 10, um adolescente de 14 anos matou a facadas um estudante da mesma idade na Escola Profissional Dom Bosco, em Poços de Caldas, sul mineiro. E feriu dois alunos, de 13 e 17 anos. O autor do ataque afirmou que foi transferido da escola em 2021 após ser vítima de bullying e que queria se vingar.

Ao todo, o Brasil contabiliza 36 ataques a escolas desde o primeiro caso, em 2001, em Macaúbas, na Bahia. No entanto, esses casos dispararam a partir de fevereiro de 2022, com a reabertura das escolas após um fechamento de quase dois anos em algumas regiões. Desde então foram 21 ataques com 11 mortes. Isso representa 58,3% de toda a história dessa violência no país. Em 2022 foram 10 ataques. Em 2023 já aconteceram 11, segundo relatório de pesquisadores da Unicamp e da Unesp.

Escalada dos ataques a escolas desde o fim da pandemia

Giovanna Bezerra, da escola de Sapopemba, é a 35ª vítima, uma conta que exclui cinco agressores que se suicidaram. Ao todo, 12 meninos, 17 meninas, quatro professoras, uma coordenadora e uma inspetora. No total, esses 36 casos tiveram 38 autores, aponta o levantamento. Destes, sete tinham 13 anos no momento do ataque, a idade mais comum. Há ainda dois casos de agressores com 12 anos e um de 10.

A maioria dos 38 agressores é de alunos das escolas. Foram 22 estudantes, o que torna ainda mais complexa uma solução policial para esse tipo de violência, segundo os pesquisadores. Além disso, 17 são ex-alunos e sete deles haviam abandonado a escola.

A maioria das escolas atacadas é públicas, sendo 17 estaduais, 13 municipais e 7 particulares – uma estatística que acompanha a proporção dessas escolas conforme as redes. Mas a maioria delas não está em áreas vulneráveis. Entre todos os casos, em 17 foram usadas armas de fogo e em 15, facas. Das vítimas fatais, 35 foram atingidas por armas de fogo e duas por facas. Dos agressores, sete tinham armas em casa, seis compraram de terceiros e em três casos a origem era desconhecida.

Confira íntegra da nota ao governador

NOTA DO PT ESTADUAL E DA BANCADA DE DEPUTADOS ESTADUAIS SOBRE A TRAGÉDIA NA ESCOLA ESTADUAL SAPOPEMBA

O Partido dos Trabalhadores no estado de São Paulo e a Bancada das deputadas e deputados estaduais da Federação PT/PCdoB/PV na Assembleia Legislativa de São Paulo manifestam profundo pesar e solidariedade aos familiares das estudantes vítimas de violência por arma de fogo, ocorrida na E. E. Sapopemba, localizada na zona leste da capital.

A ação violenta desta manhã partiu de outro aluno da escola, levando a óbito a jovem Giovanna Bezerra da Silva, de 17 anos, e ferindo outros três alunos, sem risco de morte. Segundo os relatos apurados até o momento o atirador seria vítima frequente de bullying e agressões de outros estudantes.

O fato é que recentemente o governador vetou projeto de lei aprovado pela Assembleia Legislativa que beneficiaria toda a comunidade escolar, em especial nossas crianças e adolescentes, garantindo psicólogos e assistentes sociais nas escolas da rede pública.

O cuidado com a saúde mental na comunidade escolar é fundamental para impedir que tragédias como esta continuem a ocorrer nas escolas. Já passou da hora do governo do Estado garantir políticas efetivas para ampliar, de fato, a rede de psicólogos e assistentes sociais nas unidades escolares, entre outras medidas de acolhimento, mediação de conflitos e capacitação da comunidade escolar.

Recursos existem, falta ao governador Tarcísio de Freitas sensibilidade para priorizar a educação em toda sua complexidade. De nada adianta novas tecnologias se não garantirmos a saúde mental dos estudantes, professores e comunidade.


Kiko Celeguim
Presidente do PT no estado de São Paulo
Paulo Fiorilo
Líder da Bancada de Deputadas e Deputados Estaduais da Federação PT/PCdoB/PV na Assembleia Legislativa de São Paulo

Redação: Cida de Oliveira