Aposta no conflito

Tarcísio rejeita liberação de catracas e vai à Justiça contra greve unificada nesta terça

Trabalhadores da Sabesp, Metrô, CPTM, Fundação Casa e da educação paralisarão suas atividades em protesto contra o pacote de privatizações e os cortes na educação promovidos pelo governador de São Paulo

Rovena Rosa/Agência Brasil
Rovena Rosa/Agência Brasil
A proposta havia sido feita pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo que defendia a substituição da greve pelas catracas livres para evitar transtornos à população

São Paulo – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se opôs à proposta de liberação de catracas no dia da greve unificada na capital paulista, nesta terça-feira (28). E acionou a Justiça contra a paralisação dos trabalhadores da Sabesp, Metrô, CPTM, Fundação Casa e da educação. A proposta havia sido feita mais uma vez pelo Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que defendia a substituição da greve pelas catracas livres para evitar transtornos à população.

O objetivo do sindicato era permitir que os passageiros viajassem gratuitamente. E, ao mesmo tempo, protestar contra o plano de privatização do transporte sobre trilhos. No entanto, a gestão estadual recusou a proposta, acusando de “irresponsáveis” as entidades que representam os servidores. À Justiça do Trabalho, o estado pediu que 100% dos funcionários trabalhem nos horários de pico. E que pelo menos 80% siga em seus postos no restante do dia.

Tarcísio alega que a paralisação tem “interesse político”, conforme destacou em nota à imprensa. E que “a pauta principal dos sindicatos não está ligada a causas trabalhistas”, acrescentou. Os argumentos foram rebatidos pelos metroviários, que chamaram de “irresponsável” a postura do governador de “insistir no modelo privatizado que, mesmo com mais dinheiro, apresenta maiores falhas, dando prejuízo tanto ao estado quanto à população”, afirmaram os trabalhadores na rede X, antigo Twitter.

Tarcísio aposta no conflito

A liberação das catracas é uma reivindicação antiga dos trabalhadores metroviários e ferroviários em dias de greve. A proposta já havia sido feita em março deste ano, durante uma greve do Metrô por demandas trabalhistas. Na ocasião, Tarcísio chegou a anunciar que as catracas seriam liberadas. Logo depois ele recuou e acionou o judiciário, que acatou o pedido e proibiu a liberação de viagens sem custo para os passageiros.

No início de outubro, na primeira greve geral contra o plano de privatizações, o bolsonarista novamente foi contrário à substituição da paralisação pelas catracas livres. Novamente teve aval do poder judiciário, que supôs “alto risco de tumultos e possíveis acidentes nas estações”. “Apostou no conflito e não no diálogo”, afirmou o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP) à época. A postura de Tarcísio segue sua declaração na última sexta (24), quando disse ser “absolutamente contra” a adoção da tarifa zero no transporte coletivo, ao ser questionado sobre os planos da capital paulista de não cobrar passagem.

Greve mais expressiva do ano

A expectativa dos servidores, no entanto, é que a mobilização desta terça seja uma das maiores da história e mais expressiva do ano. “Estamos mais unidos do que nunca. Em 3 de outubro, tivemos uma greve unificada. Em 20 de outubro, o grito da educação ecoou. Agora unimos forças para fazer do dia 28 de novembro um evento ainda mais marcante”, destacou a presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, na convocação.

A união de forças faz referência a adesão dos servidores da Educação, que contestam a medida de Tarcísio que reduz o patamar de investimentos na área e deve retirar até R$ 9,66 bilhões, já no próximo ano da educação básica, o que afeta a ampliação de vagas em creches de diversos municípios. Já os trabalhadores da Fundação Casa são alvos de planos de terceirização do governador.

Nesta segunda (27), a partir das 16h, as categorias farão assembleia diante da Câmara, no centro de São Paulo, para deliberar o dia de mobilização. Para amanhã, também está previsto ato na Assembleia Legislativa, às 15h. O objetivo é protestar contra o corte de verbas na educação e o projeto de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp), que tramitou em regime de urgência.

Contra as privatizações

Apesar de ser contrária ao interesse público, a proposta de venda da Sabesp avançou rapidamente pelas comissões e está pronta para ser submetida à votação em plenário na Assembleia. Os trabalhadores pressionam, contudo, para que os deputados retirem o PL da pauta de votação. Além de não ter apoio popular, a entrega da Sabesp para o setor privado não respeita os trâmites legais e coloca em risco o abastecimento no estado, segundo a CUT São Paulo.

“Aumento nas contas e piora na qualidade da água! Quem comprar a Sabesp pensará somente no lucro e reduzirá os serviços essenciais. A Enel está aí para provar. Terça, 28, SP vai parar contra a tentativa de Tarcísio de entregar um dos maiores patrimônios do estado”, destaca a entidade. Os trabalhadores do sistema metroferroviário de São Paulo também demandam a reintegração de oito funcionários demitidos em consequência da greve ocorrida em 3 de outubro, além do fim dos processos de privatização das linhas do Metrô e da CPTM.

Entre os demitidos pelo governo Tarcísio está Altino Prazeres, membro da executiva da CSP-Conlutas e ex-presidente do Sindicato dos Metroviários. Em entrevista coletiva, Altino afirmou que as demissões representam uma “tentativa de intimidação aos trabalhadores”.

Redação: Clara Assunção