Sob o governo Bolsonaro

PF prende PMs, CACs e empresários acusados de esquema ilegal de venda de armas para facções

De acordo com as investigações, organizações criminosas desviaram grandes quantidades de munições e armamentos para a Bahia, Pernambuco e Alagoas por meio de um esquema fraudulento de inserção de informações falsas nos sistemas oficiais de controle e fiscalização

Polícia Federal/Divulgação
Polícia Federal/Divulgação
São cumpridos 20 mandados de prisão preventiva e 33 de busca e apreensão nos três estados

São Paulo – Uma força tarefa da Polícia Federal (PF) cumpre nesta quarta-feira (21) mandados de busca, apreensão e prisão contra policiais militares da Bahia, Pernambuco e Alagoas, além de colecionadores, atiradores e caçadores (os chamados CACs) e lojistas de armas de fogo, munições e acessórios bélicos. O grupo é suspeito de desviar para facções criminosas dos três estados uma grande quantidades de munições e armamentos.

De acordo com a PF, os criminosos faziam o desvio por meio de um esquema fraudulento de inserção de informações falsas nos sistemas oficiais de controle e fiscalização. A fraude ocorreu entre os anos de 2021 e 2023, sob a vigência de mais de 40 decretos editados pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). As normas facilitaram o acesso da população às armas. No último ano de seu governo, em 2022, um relatório do Instituto Sou da Paz mostrou que, após a flexibilização, cerca de 1,3 mil armas eram compradas por dia por brasileiros.

Sendo que em 2018, um ano antes de Bolsonaro ser eleito, havia 350 mil armas registradas em nome dos CACs. O número, porém, triplicou e chegou a 1 milhão em julho de 2022. Sem controle, especialistas em segurança pública alertaram que as armas estariam indo parar nas mãos de criminosos, numa ameaça crescente ao país. A partir da conta de PMs, a PF descobriu um esquema multimilionário de venda ilegal de armas e munições para as maiores facções criminosas da Bahia, Pernambuco e Alagoas.

Desvio de armas para o crime

Ao todo, são cumpridos 20 mandados de prisão preventiva e 33 de busca e apreensão nas unidades federativas. Até o fechamento desta nota, pelo menos 18 pessoas haviam sido presas. A operação deflagrada nesta quarta é denominada como “Fogo Amigo”. Uma alusão ao fato de que os policiais integrantes desviam armas para criminosos que acabam sendo utilizadas contra os próprios órgãos de segurança pública.

Em um dos casos, a Polícia Federal identificou um esquema em Petrolina, em Pernambuco, comandado por um sargento da PM. Ele chegava a vender cerca de 20 armas de fogo por mês. Segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o militar movimentou aproximadamente R$ 2,1 milhões em um período de pouco mais de seis meses entre 2021 e 2023. O valor é considerado pelo órgão de fiscalização “totalmente incompatível com seus rendimentos de sargento”.

Ainda segundo as investigações, as armas desviadas eram utilizadas frequentemente em assaltos a carros fortes e instituições financeiras. Elas também eram empregadas nos ataques em que quadrilhas rendem as forças policiais e dominam cidades inteiras de pequeno a médio porte. Como ocorrido em Araçatuba, no interior de São Paulo, em 2021.

Lojas envolvidas

Na decisão judicial que autorizou a operação nesta quarta, também está determinado o sequestro de bens e bloqueio de valores de até R$ 10 milhões dos investigados. Assim como suspensão da atividade econômica de três lojas que comercializavam material bélico de forma irregular. É o caso de um proprietário da loja Taurus, em Arapiraca, em Alagoas. O suspeito, que não teve o nome revelado, recebeu cerca de R$ 700 mil em um ano de um dos investigados por tráfico de armas. O empresário também é acusado de comprar munição ilegal há pelo menos três anos.

A segunda loja é a Universo Militar, em Juazeiro, na Bahia. Os proprietários também foram apontados como comerciantes ilegais. Eles orientavam como driblar a fiscalização do Exército, conforme detalhou a PF. Se comprovadas as denúncias, os investigados poderão responder pelos crimes de organização criminosa, comercialização ilegal de armas e munições, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. As penas somadas podem chegar a 35 anos de reclusão.

Participam da operação mais de 300 policiais federais e os grupos táticos da Polícia Militar da Bahia, Polícia Militar de Pernambuco, promotores do Gaeco dos dois estados e integrantes do Exército.

Redação: Clara Assunção