rota de fuga

Sem ação da prefeitura, moradores do Moinho começam a derrubar ‘muro da vergonha’

Comunidade fará ato político-cultural no próximo domingo para concluir a derrubada da barreira construída por Kassab em 2011 após incêndio. Demora da gestão Haddad irritou famílias

CC/facebook/moinhoresiste

Os próprios moradores trabalham na derrubada do muro, construído na Gestão Kassab

São Paulo – Os moradores da favela do Moinho cansaram de esperar a atuação da prefeitura de São Paulo e resolveram derrubar por conta própria o “muro da vergonha” construído pela gestão Gilberto Kassab (PSD), após o primeiro incêndio que atingiu a comunidade, em dezembro de 2011. Segundo o coordenador do projeto Comboio, Caio Castor, que trabalha com arquitetura e urbanismo na comunidade, essa é uma ação emergencial que a população reivindica desde a manifestação do dia 5 de julho. “As conversas têm avançado, mas tem coisas que nós não podemos esperar indefinidamente”, afirmou.

Segundo Castor, os moradores estão realizando a obra por conta própria, em mutirão, com marretas e talhadeiras. “Por ora estamos demarcando e cortando a estrutura. A derrubada mesmo vai ser no próximo domingo (8)”, explicou. Neste dia será realizado um ato político-cultural na favela, que fica sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel, na região de Campos Elíseos, centro da capital, a partir das 12h, com shows de artistas da comunidade e de grupos integrantes do Movimento Hip Hop Organizado (MH2O) para comemorar a abertura da rota de fuga.

A derrubada do muro é esperada desde o dia 12 de julho, quando a comunidade teve uma reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT), que se comprometeu a enviar uma equipe na segunda-feira seguinte (15), para elaborar um plano sobre a derrubada e a constituição de rotas de fuga. A visita ocorreu na terça feira (16), com a presença do secretário-adjunto de Relações Governamentais, José Pivatto, e técnicos do Corpo de Bombeiros e da Subprefeitura da Sé. Porém, os representantes do poder público foram embora sem definir prazos ou ações para remoção do muro.

Apesar da questão do muro, Castor considera que está havendo avanços e reconhece o esforço da prefeitura. “Consideramos que vivemos um momento importante. Nunca houve tantos avanços nesse processo. O grupo de trabalho para discutir a possibilidade de urbanização da comunidade vai ser instalado na próxima segunda-feira”, avalia. Ao mesmo tempo percebe que há setores mais resistentes. “A prefeitura definiu que a Secretaria da Habitação vai coordenar o grupo de trabalho. Mas não havia nenhum membro dela na reunião da última segunda-feira, onde fomos informados disso”, critica.

Na mesma reunião, os representantes da prefeitura pediram prazo até ontem (31) para dar um retorno sobre a derrubada do muro. Castor afirma que não houve contato por parte da prefeitura.

O muro em questão tem cerca de 50 centímetros de espessura na base, 25 centímetros no corpo e é feito de concreto armado. Muitas casas foram construídas apoiadas nele e somente uma área de cerca de 5 metros de largura poderia ser trabalhada sem a necessidade de remover alguma moradia. Do outro lado há uma imensa pilha de entulho, restante do prédio demolido em 2012, que precisaria ser removida. Os moradores pretendem abrir esta área de 5 metros e instalar um portão.

Questionado sobre a avaliação da prefeitura em relação à ação de derrubar a barreira, Castor ponderou que a comunidade foi bastante paciente até o momento. “Nós cumprimos a nossa parte no acordo até aqui. Inclusive sabemos que o prefeito teme a reocupação da área que fica além do muro. Nós não vamos fazer isso agora. Pretendemos reocupar sim, mas de forma ordenada, discutindo isso no grupo de trabalho, apenas para desadensar a comunidade e reduzir o risco de novos incêndios. Agora, o muro é uma coisa que nós não podemos mais esperar”, explica Castor.

A favela do Moinho foi atingida por dois incêndios. O primeiro, em dezembro de 2011, deixou 600 pessoas desabrigadas e destruiu um terço da comunidade. O segundo ocorreu em setembro do ano passado e atingiu 80 barracos. A prefeitura cadastrou 810 famílias e a metade delas está recebendo auxílio-aluguel. No entanto, muitas retornaram para a favela, afirmando que o valor é insuficiente para alugar uma casa no centro da capital.

Desde o início das negociações a administração municipal apresenta a posição de que as famílias devem deixar o local, que seria inapropriado para moradia, por estar sob um viaduto e entre duas linhas de trem. Os moradores querem permanecer no local e que seja realizado um projeto de urbanização. Eles cobram a promessa feita por Haddad na campanha eleitoral de 2012, quando afirmou que trabalharia pela regularização fundiária do local.