Desafios

Pesquisa mostra que favelas dobraram na última década. ‘PIB’ das comunidades soma R$ 200 bilhões

Se fossem um estado, favelas seriam o terceiro maior do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Sobram vontade e iniciativa, faltam recursos

Arquivo/EBC
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Diante dessas medidas, a expectativa é de que as rádios comunitárias possam ter mais recursos para desenvolver suas atividades e ampliar seu alcance

São Paulo – Iniciada ontem (17), ExpoFavela 2023 busca dar visibilidade para iniciativas que surgem na população periférica. Assim, logo no primeiro dia, a organização divulgou a pesquisa DataFavela, que entre os dados mais relevantes mostra o poder econômico das comunidades pelo país. Se fossem organizadas em um estado, as favelas brasileiras teriam um PIB de R$ 200 bilhões. Isso significa que seria o terceiro estado mais rico do país, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Segundo a pesquisa, o número de favelas dobrou na última década, totalizando 13.151 mapeadas pelo país. Apenas em um ano, as favelas aumentaram seu poder financeiro em R$ 12 bilhões. De acordo com o DataFavela, são estimados 5,8 milhões de domicílios em favelas com 17,9 milhões de moradores. Desse total, 5,2 milhões já empreendem, 6 milhões sonham ter um negócio próprio, e sete em cada dez pretendem abrir o empreendimento dentro da favela. Apesar dos números expressivos, apenas 37% dos empreendimentos são formalizados e têm CNPJ.

Os organizadores realizaram a pesquisa de 6 e 13 de março. Entrevistaram 2.434 moradores de favela distribuídos entre todas as regiões. O crescimento das favelas tem relação com a carestia. Nos últimos anos, o Brasil viu aprofundar a crise econômica e crescer a pobreza. Soma-se a isso a especulação imobiliária que eleva os preços nos bairros centrais.

“A favela é a concentração geográfica das desigualdades sociais, e muitas vezes o morador não encontra no emprego formal a oportunidade para desenvolver toda sua potencialidade. O morador da favela só vai conseguir ganhar mais do que dois salários mínimos se empreender dentro da favela. Assim, pode usar o seu potencial e fazer com que o dinheiro das favelas fique dentro das próprias favelas”, explica o fundador do DataFavela, Renato Meirelles.

Expectativas dos moradores

A pesquisa ainda mostra  que, nos próximos 12 meses, 6,5 milhões de pessoas pretendem comprar um imóvel, e 7,9 milhões têm intenção de comprar móveis para casa. As informações reforçam que o principal sonho dos moradores de favela (34%) é ter uma casa própria. As mulheres (38%) são as que mais almejam a segurança da casa própria, enquanto 29% dos homens têm esse desejo. Na sequência, aparecem como principal sonho ter um negócio próprio (13%) e ter saúde (10%).

Sobre expectativas relacionadas à educação,  7,9 milhões pretendem iniciar um curso profissionalizante e 5,6 milhões, um curso de idiomas. Porém, para 61% dos moradores que participaram da pesquisa, o que falta para realizar as metas é dinheiro.

De acordo com Meirelles, as expetativas revelam que a retomada do crescimento econômico do Brasil começará nas favelas. “Esse evento (concentração demográfica) é muito importante para acabar com os estigmas que existem na favela. Lá, a grande maioria é trabalhadora, são as mulheres que lideram a economia, que cuidam dos filhos, dos outros. Na favela são os negros que formam a maior força econômica.”