União Europeia: um ‘outro país’ dentro da Europa?

Nesta semana houve um protesto em um certo lugar da Europa contra um possível “plano de austeridade” a ser aplicado por lá. Tudo seria normal, caso este lugar fosse um […]

Nesta semana houve um protesto em um certo lugar da Europa contra um possível “plano de austeridade” a ser aplicado por lá. Tudo seria normal, caso este lugar fosse um país qualquer, como já é o caso de Portugal, da Grécia, Espanha e outros.

Acontece que esse “lugar” era nada mais nada menos do que Bruxelas, a sede da Comissão Europeia (CE). O protesto assumiu o formato de um “momento de reflexão”, ou algo parecido, na hora do almoço, por parte de funcionários que compõem a burocracia da CE e da União Europeia (UE).

O seu motivo era a possibilidade da UE, cuja reunião de cúpula começa nesta hoje (22), adotar cortes em seu orçamento até 2020 – o tema está na pauta do encontro. O mais encarniçado defensor destes cortes é David Cameron, o primeiro ministro do Reino Unido, que traz propostas dignas de Margareth Thatcher em matéria de poupança no orçamento.

O fato é que, crescentemente, em meio a um oceano encapelado de recessão, restrição orçamentária, redução dos direitos dos trabalhadores, pensionistas, aposentados, a burocracia da UE é vista como uma ilha de feliz prosperidade.

Os salários são muito altos, e as aposentadorias também, não raro integrais. O tempo de aposentadoria é também mais curto: 63 anos, quando há uma tendência a elevar sua média para 67 (caso alemão) ou pelo menos 65. Uma das razões pelas quais o governo francês está sob fogo cerrado da ortodoxia econômica é sua recusa em elevar mais o tempo de aposentadoria (na Europa, quase invariavelmente, por idade).

Os salários indiretos também são generosos: os que vivem fora de suas pátrias de origem recebem generosas ajudas de custo, além de que seus filhos estudam gratuitamente (para os pais) em caras escolas particulares de Bruxelas ou outras cidades: Estrasburgo, sede do Parlamento Europeu e Frankfurt, sede do Banco Central Europeu.

Mas os cortes que estarão em discussão (num orçamento de quase um trilhão de euros para o período 2014-2020) não se prendem apenas às questões de salários dos funcionários. Também haverá discussões – provavelmente encarniçadas – sobre a questão dos subsídios que a UE dá à agricultura, além de outros setores econômicos.

Enquanto isso, é verdade que os problemas mais de fundo permanecem de pé, como o que fazer com a dívida grega (ouça boletim sobre o tema na Rádio Brasil Atual) e qual será o próximo passo da ineludível queda de braço entre François Hollande e Angela Merkel em torno do candente tema investimento x austeridade.

PS – Amanhã, sexta-feira, estarei de viagem para Barcelona, onde, neste fim de semana, se realizam eleições para o parlamento local, que podem levar a Catalunha a um plebiscito sobre a separação da Espanha.