Obama, Europa, Israel, China, Rússia… E um problema chamado Irã

Durante o fim de semana, num encontro rápido, o presidente Barack Obama voltou a insistir com seus colegas mandatários da Rússia (Dmitry Medvedev) e da China (Hu Jintao) para que […]

Durante o fim de semana, num encontro rápido, o presidente Barack Obama voltou a insistir com seus colegas mandatários da Rússia (Dmitry Medvedev) e da China (Hu Jintao) para que concordem com sanções mais pesadas ao Irã, por causa do programa nuclear deste país, agora acusado frontalmente pela Agência Internacional de Energia Nuclear, da ONU, de conter uma programação bélica.

Medvedev deu uma resposta diplomática: disse que se preocupava, e que iria pensar no assunto. Jintao deu uma resposta “chinésica”: olhou para cima, para baixo, para os lados e fez que não era com ele.

Entende-se o comportamento dos três. A Rússia tem interesses diretos no programa nuclear iraniano, tenha este intenções bélicas ou não. A China está penetrando em todos os espaços possíveis, e não vai comprar uma briga com os aiatolás e com Ahmadinejad ao mesmo tempo em Teerã, e no momento em que estes últimos estão brigando entre si. Ali Khamenei, o aiataolá dos aiatolás está disputando espaço com Ahmadinejad no controle político do futuro iraniano; o futuro deste depende do programa nuclear, porque ele é o interlocutor com Vladimir Putin (quem, de quebra, Medvedev deve consultar antes de dar qualquer resposta a Obama ou a alguém mais). A China não vai meter a mão nessa cumbuca. Além do mais, a China não tem que afagar Israel por razões eleitorais.

Obama tem. Israel e seu governante são hostis a Obama. Por isso, o presidente norte-americano tem de afagar a AIPAC – o lobby israelense junto, entre outras instâncias, ao Congresso norte-americano – que também, pelo menos na Câmara de Deputados, é hostil a Obama. Enfim, o presidente norte-americano está numa embrulhada, tentando sair pelo lado da pressão internacional sobre o Irã, enquanto os falcões israelenses agitam a bandeira de um ataque aéreo contra as instalações nucleares daquele país e os pré-candidatos republicanos prometem apoio incondicional a essa temeridade.

A pressão internacional também é complicada. Por exemplo, Alemanha, Itália, França, Bélgica e Holanda estão entre os principais exportadores europeus para o Irã, numa série de negócios que superam os dez milhões de euros anuais. É pouco? Em tempo de políticas recessivas para amortecer os juros da dívida pública europeia nada é pouco. Tudo é muito. A Alemanha vendeu tanques para a Arábia Saudita em plena primavera árabe. Fundamento? Em tempos bicudos qualquer coisa serve.

Para que os países europeus arrochem seus negócios com o Irã, Israel tem de provar (e está se esforçando: vem aí uma nova missão diplomática com esse fim) que os produtos vendidos podem ser utilizados para a produção bélica. Recentemente isso aconteceu com caminhões pesados: Israel argumentou que estes poderiam ser transformados em rampas de lançamento para foguetes. O argumento deu certo. Os caminhões foram incorporados à lista de exportações proibidas para o Irã.

Enquanto isso, o cenário total engrossa o caldo. No fim de semana uma explosão num transporte de munições matou 17 guardas revolucionários no Irã, entre eles o Major General Hasan Moghaddann, considerado um dos principais responsáveis pelo setor de armamentos. O governo de Teerã disse que foi um acidente. Entretanto o jornal israelense Haaretz publicou, citando uma fonte “de Serviço de Inteligência do Ocidente” (sic), que a explosão foi conseqüência de uma ação do Mossad, o Serviço Secreto de Israel. Se foi ou se não foi, ainda está por confirmar. Mas o quadro se tornou mais complexo ainda.

Obama tem com que se preocupar.