Irã: o alvo de Netanyahu é a Casa Branca

(whitehouse.gov) Para os falcões israelenses, o alvo de um ataque israelense ao Irã pode ser as instalações nucleares deste país. Mas para o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, o alvo claro é a […]

(whitehouse.gov)

Para os falcões israelenses, o alvo de um ataque israelense ao Irã pode ser as instalações nucleares deste país. Mas para o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, o alvo claro é a Casa Branca, em Washington, nos Estados Unidos.

A retórica tem crescido, de todos os lados dessa faca de muitos gumes. Cada vez fica mais clara a disposição israelense de atacar o Irã. Do lado deste, fica muito clara a disposição do aiatolá Ali Khamenei, patriarca dos aiatolás, de contribuir para os ataques a Israel. Do seu lado, o primeiro ministro Ahmadinejad continua atacando a imagem do Holocausto.

Já nos Estados Unidos, os pré-candidatos republicanos (com a exceção de um deles, mas sem chance, Ron Paul, deixam claro que sustentarão Israel em suas eventuais aventuras belicosas). E isso deixa claro qual é o principal alvo de Netanyahu.

O premiê israelense foi, alguns meses atrás, falar diretamente ao Congresso norte-americano. Ou melhor, foi falar diretamente ao lobby israelense, aos republicanos, e à Fox News, que é o que de mais reacionário existe na mídia norte-americana.

Ninguém pode, de sã consciência, negar a antipatia mútua entre Netanyahu e Barack Obama. Sobre este ainda pesa a proto-acusação de ser um muçulmano disfarçado. Aquele, para este, como ele confessou numa conversa vazada com Sarkozy, é uma “pulga na camisola”, como se dizia antigamente.

E o problema, para Netanyahu, é que, se nada de novo acontecer, Obama será reeleito em novembro próximo. Os índices de emprego estão subindo nos EUA, modestamente, mas estão. A opinião pública norte-americana, segundo as últimas pesquisas, mostra-se ou satisfeita com a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão e do Iraque, ou acha que ela deveria ser mais rápida. Enfim, o clima não está para falcões, apesar dos esforços dos republicanos.

Para complicar, o governo de Washington vem dando sinais de que não quer, pelo menos de momento, atacar o Irã. James R. Clapper, um dos diretores da Inteligência norte-americana, em depoimento ao Congresso, deixou claro que na avaliação do governo (e sua) Teerã quer, de momento, dar-se o direito de ter todos os elementos para construir uma arma nuclear, mas que ainda não encetou passos concretos nessa direção.

Portanto, para Netanyahu, não resta outra saída senão a de provocar uma situação – pela retórica ou pelas armas – em que uma retaliação desastrada de Teerã force os Estados Unidos a atacar. Até porque, dizem muitos analistas militares nos EUA, Israel, de momento, não tem poder aéreo suficiente para prejudicar seriamente as instalações nucleares iranianas. Só os EUA têm. Ou a Rússia, mas não é o caso.

Nos Estados Unidos a situação é contraditória. Pesquisas de opinião mostram que se Washington atacasse, teria o apoio da maioria. A mesma que está contente porque as tropas de seu país estão deixando o Iraque e o Afeganistão, e duas guerras que custaram a vida de 6.300 norte-americanos, além de 46 mil feridos e 3 três trilhões de dólares, sem falar nas vítimas locais, que vão às centenas de milhares. Ombudsmen na mídia – do Washington Post e do NY Times – vêm denunciando que seus jornais estão superestimando nas matérias os dados sobre a capacidade militar e nuclear do Irã.

Para completar esse quadro complexo, o próprio governo israelense está dividido, e tem conflitos internos, como o iraniano. Ahmadinejad e Khamenei estão em disputa retórica? Sim. Pois bem, Netanyahu e Ehud Barak também. Este fica oscilando entre falcão e pomba (*). No momento, está pomba, dizendo que as sanções econômicas estão sendo efetivas e que deve-se dar tempo ao tempo.

Ou seja, somando tudo, estamos nas mãos de políticas instáveis, manejadas por políticos instáveis, que podem deflagrar um conflito de proporções inimagináveis por causa de sua necessidade de pendurarem-se ao poder.

*Em tempo: Falcão e Pomba. Esta é uma terminologia que remonta aos tempos dos conflitos entre EUA e Grã-Bretanha por causa da independência daquele. Os falcões eram favoráveis ao conflito aberto, enquanto os pombas, à contemporização. Depois, a teminologia foi reavivada na Guerra Fria, caracterizando os que favoreciam o confronto e os do apaziguamento.