Paralisação no #8M

Servidores municipais de São Paulo param nesta sexta por reajuste e condições de trabalho

Categoria aguarda resposta de Ricardo Nunes, que recebeu pautas dos trabalhadores no mês passado. Com maioria de mulheres no quadro do funcionalismo paulistano, dia de paralisação se somará às manifestações do 8 de Março

Sindsep São Paulo/Reprodução
Sindsep São Paulo/Reprodução
Gestão Ricardo Nunes "não é comprometida com a vida das mulheres", critica a vice-presidenta do Sindicato dos Servidores

São Paulo – Servidores municipais de São Paulo vão paralisar suas atividades por 24 horas, nesta sexta-feira (8), para cobrar uma resposta do prefeito Ricardo Nunes (MDB) às reivindicações trabalhistas entregues ao poder público no mês passado. Desde janeiro, quando teve início a campanha salarial da categoria por meio do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindsep) e do Fórum das Entidades Sindicais do Funcionalismo Público Municipal, a categoria cobra um conjunto de melhorias em suas condições de trabalho.

Entre elas, a reposição da inflação e reajuste linear de 16%. Assim como a garantia do pleno direito às férias, ameaçadas – segundo as entidades – pelo Decreto 62.555, de 2023. Também estão na pauta o fim do confisco de 14% dos aposentados, melhores condições de trabalho e saúde, o fim das terceirizações e a nomeação de concursos. De acordo com o Sindsep, pelo menos 30 mil pessoas aguardam chamamento na área da saúde, por exemplo – médicos, enfermeiros e auxiliares, fisioterapeutas e psicólogos.

A mobilização repete a mesma estratégia adotada no ano passado, que relaciona as reivindicações do reajuste salarial ao aumento das receitas do município. Desde 2023, a prefeitura vem acumulando um caixa de quase R$ 35 bilhões. O que, de acordo com a representação do funcionalismo, mostra que o município tem condições de arcar com o reajuste e chamar os concursos paralisados. “Melhorar as condições de trabalho em unidades de saúde que operam sob uma grande precarização”, afirma a vice-presidenta do Sindsep, Luciana Melo, a Luba, em entrevista à RBA.

Defesa das mulheres trabalhadoras

A data da greve foi definida em assembleia em 21 de fevereiro, após o governo Nunes pedir prazo até 10 de março para dar uma resposta às pautas dos servidores. As entidades não aceitaram e cobraram uma devolutiva até esta sexta devido ao período mais curto da campanha salarial neste ano, por conta das eleições municipais. Até o momento, administração paulistana não retornou aos questionamentos dos trabalhadores. Com o protesto, os servidores e servidoras também se somarão à manifestação pela vida das mulheres. O ato ocorre neste 8 de março, às 17h, em frente ao Masp, na Avenida Paulista.

O calendário de luta prevê pela manhã atos nos locais de trabalho. E um protesto, seguido de assembleia, para definir os próximos passos da campanha salarial em frente à prefeitura, no Viaduto do Chá, na região central, às 14h. Cumpridas essas etapas, os trabalhadores caminharão até a Paulista para se juntar ao #8M. Segundo Luba, a escolha do dia de paralisação levou em conta a importância da data em todo o mundo.

Isso porque entre os 125 mil servidores ativos, conforme quadro da prefeitura de 2023, ao menos 73% deles são mulheres, aponta o Sindsep. “E quando falamos em políticas públicas de hospitais públicos, creches, escolas, atendimentos e políticas públicas no geral, não temos como não falar da luta das mulheres”, garante a vice-presidenta. Ela observa que a população feminina está nas duas pontas no campo da política pública: tanto do lado do atendimento como de quem precisa dele.

Marca da gestão Nunes

Nesse sentido, a gestão Ricardo Nunes “não é comprometida com a vida das mulheres”, critica Luba. A avaliação é que seu governo, desde 2021, quando assumiu, segue um processo de desmonte dos serviços públicos na esteira das gestões de João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB.

“Estamos vindo numa avalanche de desmantelamento de todas as políticas relacionadas às mulheres. Mais recentemente teve o desmonte do serviço de aborto legal no Hospital Cachoeiriha, na zona norte. Esse serviço está em processo de extinção. Então a marca de Ricardo Nunes, – que é um governo conservador, de direita e está se alinhado (ao ex-presidente Jair) Bolsonaro –, é de ataque às mulheres, à população LGBTQIAPN+ , à população negra de São Paulo. E de ataque às pessoas mais vulneráveis da cidade”, afirma.

Segundo ela, além das reivindicações dos trabalhadores, o ato desta sexta trata da defesa das políticas públicas. “Se a gente faz a defesa do fim das terceirizações é porque a gente quer mais políticas públicas para a população. Então não tem como a gente fazer a defesa do servidor e da servidora sem mencionar a importância de fazer a luta em defesa das politicas publicas também”, conclui.

Em nota à RBA, a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Gestão, afirmou que “mantém diálogo com representantes das entidades sindicais para ouvir suas pautas e todos os pleitos serão respondidos nas mesas de negociação”. E que “a gestão municipal trabalha para diminuir as desigualdades dentro do funcionalismo público municipal, valorizando as carreiras, revisando as gratificações, estimulando atratividade e retendo a evasão”.

Questionado sobre as críticas no atendimento de mulheres, o governo Nunes argumentou que o aborto legal está disponível em quatro hospitais municipais. “São eles: Hospital Municipal Dr. Cármino Caricchio (Tatuapé); Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha (Campo Limpo); Hospital Municipal Tide Setúbal; Hospital Municipal e Maternidade Prof. Mário Degni (Jardim Sarah). O serviço ocorre dentro das premissas de segurança e qualidade como prevê a legislação vigente”, alegou o município.

(Matéria atualizada às 8h30 de 8 de março para inclusão da nota da prefeitura de São Paulo).