Paralisação

Servidores mantêm greve em São Paulo, mesmo sob ataque de Nunes

Após judicialização contra a greve do funcionários públicos municipais, parte deles voltará aos seus postos. Mas o movimento continua

Cecília Figueiredo/Sindsep
Cecília Figueiredo/Sindsep
'Capitais que têm condição financeira muito aquém do que nós temos na cidade de São Paulo estão oferecendo índices muito superiores', disse o presidente do Sindsep

São Paulo – Em greve desde a semana passada, servidores públicos de São Paulo lotaram a Câmara Municipal nesta sexta-feira (22), em audiência pública sobre as condições de trabalho da categoria. A mobilização tem relação com o debate sobre o Projeto de Lei (PL) 155/2024, que trata da revisão salarial dos trabalhadores do serviço público municipal. De autoria do prefeito Ricardo Nunes (MDB), o PL prevê aumento de 2,16%. Os servidores classificam a proposta como desrespeitosa, que sequer repõe a inflação. Contudo, a gestão do prefeito bolsonarista não abriu diálogo.

Além disso, ontem (21) o Executivo municipal entrou na Justiça contra a greve. Diante disso, os sindicatos representantes das categorias dos servidores convocaram assembleia de emergência para esta tarde e a reafirmaram a postura de insistir na negociação. Entre as reivindicações, eles querem 16% de aumento, além de fim do confisco de 14% nas aposentadorias, melhores condições de trabalho e fim das privatizações.

Greve que segue

Dessa forma, apesar da investida judicial de Nunes, a greve segue. Contudo, parte dos servidores retornará a seus postos de trabalho. É o caso dos trabalhadores na saúde, por força de decisão do desembargador Beretta da Silveira, vice-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Está marcada nova assembleia para a próxima terça-feira (26), às 14h, novamente diante na Câmara.

Em contrapartida à postura de Nunes, seu principal adversário no pleito de outubro, o pré-candidato à prefeitura pela chapa composta por PT e Psol, Guilherme Boulos, deixou seu apoio ao movimento. “É necessário valorizar os servidores. Salário digno e respeito são o mínimo, mas a prefeitura tem a indecência de oferecer apenas 2,16% de reajuste salarial e insistir no confisco do dinheiro dos aposentados. Todo meu apoio e solidariedade aos servidores”, afirmou o deputado federal.

Audiência pública

A audiência de hoje foi convocada pela Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara. Lá, representantes sindicais foram unânimes em rechaçar a proposta de Nunes. “Nós estamos acompanhando as negociações coletivas que estão acontecendo em todas as capitais do país. E o que nós estamos vendo é que capitais que têm condição financeira muito aquém do que nós temos na cidade de São Paulo estão oferecendo índices muito superiores”, disse o presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), João Gabriel Buonavita. Ontem, os vereadores aprovaram em primeiro turno a proposta do Executivo.

A ex-vereadora Claudete Alves, presidente do Sindicato dos Educadores da Infância (Sedin), citou uma série de capitais estaduais que aprovaram reajustes superiores ao proposto pelo Executivo paulistano e pediu que os parlamentares revejam a situação. “Os senhores e senhoras têm a chance de não ficar mal com a cidade neste ano eleitoral, porque o prefeito só vai atingir a sua intenção com a colaboração de vocês. Então, eu espero que vocês atendam às nossas reivindicações”, afirmou.

Valorização de fato

vereador Celso Giannazi (Psol) comparou o reajuste de 2,16% proposto para os servidores da cidade de São Paulo com o aumento do funcionalismo público em outros municípios com menor arrecadação e pior situação financeira que a capital paulista. “Temos recurso para fazermos uma valorização e também revogar de vez o confisco das aposentadorias e pensões dos nossos aposentados e pensionistas, que dedicaram 30, 40 anos de suas vidas ao município”, argumentou.

A prefeitura, por sua vez, enviou representantes para a audiência. Entre eles, o líder do governo na Câmara, o tucano Fabio Riva. “Como foi feito, não se furtam de estar aqui presentes, todas as secretarias vieram presencialmente. Poderiam participar de forma virtual, mas estão aqui porque queremos dialogar com vocês. É assim que nós vamos sempre seguir”, garantiu.

Em contrapartida, o líder do PSB, Eliseu Gabriel, rebateu. “Eu não consigo entender essa história, é tão ilógico, é tão irreal essa história de dar um aumento de 2,16%, não passa na cabeça de ninguém. Ainda mais falando ‘não, porque não tem recurso’. A questão, eu já falei outra vez, é uma de opção ideológica, é uma ideia de desmonte do serviço público”, disse.

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