Semeando perigo

Coronavírus: com a menor taxa de isolamento, Mato Grosso do Sul deve ter problemas graves

Médico infectologista diz que estado enfrentará problema a partir de maio, com início do período de queda da temperatura e ar seco

Saul Schramm/GOVMS
Saul Schramm/GOVMS
Método mais eficiente para impedir a proliferação do novo coronavírus, o isolamento social não foi respeitado por 43,4% das pessoas em Mato Grosso do Sul, no último domingo (12)

São Paulo – Enquanto a média nacional de adoção ao isolamento social era de 59,2% no domingo (12), de acordo com o Ministério da Saúde, o estado de Mato Grosso do Sul registrava o pior índice do país: 43,4%, segundo o governo estadual. Para o médico infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, isso pode resultar em problemas graves no futuro.

Rivaldo, que também é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal de Medicina do Mato Grosso do Sul, lembra que as possibilidades de contágio são maiores a partir do mês de maio.

“O período em que ocorre uma baixa na temperatura e um clima mais seco é no começo de maio e o Mato Grosso do Sul ainda vai enfrentar esse período, onde a maior parte das doenças respiratórias acontece. Pagaremos um preço muito caro por esse relaxamento nas medidas de proteção individual e coletiva”, alertou ele, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria na Rádio Brasil Atual.

O especialista alerta que, pela dimensão do país, é esperado que estados sintam a epidemia do coronavírus com intensidades diferentes, mas não significa que os locais com índices de casos mais baixos estejam seguros.

“Muitas regiões estão vivendo o problema de forma intensa, enquanto outras não estão na mesma intensidade. Isso pode levar a uma falsa sensação de que não haverá perigo nesses locais com menos casos. É uma ilusão”, acrescentou ele.

O coronavírus no Amazonas

De acordo com o governo estadual, o Amazonas já possui 90% dos seus leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e respiradores da rede pública ocupados. Enquanto a média nacional é de 111 casos por milhão de habitante, o Amazonas já possui 303 infectados por milhão, a maior proporção entre os estados.

O Ministério da Saúde alerta que o Amazonas é um dos quatro estados com indícios de transição para a fase de aceleração descontrolada de casos, ao lado de Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro.

O número total de casos confirmados no estado chegou a 1.275, com 71 mortes em decorrência da covid-19. Rivaldo Venâncio explica que o problema da região é mais preocupante, já que os casos estão concentrados na região metropolitana de Manaus.

“Nos Amazonas, apesar da grande dimensão territorial, as áreas habitadas são menores. Então, os casos estão focados em Manaus e seu entorno, o que é mais grave, enquanto São Paulo, por exemplo, é distribuído por diversas cidades do interior”, disse.

O governador Wilson Lima (PSC) não descarta a possibilidade de lockdown. “Estamos avaliando os números e, se a gente continuar numa evolução significativa, não vamos ter outra alternativa a não ser colocar todo mundo em quarentena, a aumentar as medidas restritivas”, disse durante coletiva nesta segunda-feira (13).

O especialista da Fiocruz acrescenta que o lockdown, ou seja, bloqueio total de movimentação, é uma possibilidade real para diversos estados do país. “Não temos a total dimensão do problema porque houve uma restrição nos testes de diagnóstico e no processamento das amostras coletadas. Isso significa que há uma realidade a qual ainda não tivemos o devido acesso e vamos nos surpreender, principalmente nas mortes de covid-19.”

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