Falso controle

Falta de testes para coronavírus resultará em superlotação de leitos, diz especialista

Brasil tem baixa testagem em relação a outros países com alta incidência da doença: 29,7 testes por 100 mil habitantes

Andréa Rêgo Barros/PCR
Andréa Rêgo Barros/PCR
Para atender toda a população, Lúcia Souto defende a importância do SUS gerir todos os leitos de UTI do país, incluindo da rede particular

São Paulo – O Brasil já ultrapassou os 22 mil casos de coronavírus, neste domingo (13). Apesar do aumento diário, a falta de testagem na população não mostra o número real de infectados, o que prejudica ainda mais o combate à covid-19.

O país tem baixo índice de testagem em relação a outros países com alta incidência da doença: 29,7 testes por 100 mil habitantes. O resultado dessa omissão de diagnóstico é a falsa impressão de que o coronavírus está controlado no país, quando não está. A afirmação é de Lúcia Souto, mestre em Saúde Coletiva, professora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).

“O Brasil é um dos países que menos está testando a população, onde a maioria dos casos não está passando no nosso radar. Não estamos identificando os casos e temos muitas mortes provocadas pela covid-19 que não foram atestadas. Portanto, não temos a capacidade de entender qual o tamanho do problema, o que vai resultar numa superlotação dos serviços de saúde”, afirmou ela, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, na Rádio Brasil Atual.

Com o número de casos ainda abaixo da realidade, o isolamento social caiu em algumas regiões do país. O índice no estado de São Paulo, por exemplo, caiu 12,9% na última semana, conforme levantamento do governo paulista. A especialista aponta que a falta de testes tem um impacto psicológico na população.

“Se as pessoas não sentem o problema por perto, elas menosprezam. Essa não testagem na população cria uma cortina de fumaça, uma aparência de que está tudo bem. Isso contribui para o agravamento da pandemia e uma falsa ilusão de tranquilidade”, alerta.

Financiamento do SUS

A presidenta do Cebes lembra que o Sistema Único de Saúde (SUS) vem sendo sucateado desde 2016, depois da Emenda Constitucional 95. Para ela, a revogação dessa emenda é “extremamente importante” e seria necessário um aumento do financiamento da saúde pública em meio à pandemia.

No último dia 1º, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) enviou um ofício ao Ministério da Saúde para aumentar os valores destinados ao enfrentamento à pandemia de Covid-19.

Em março, a pasta da Saúde remanejou R$ 4,8 bilhões dos programas Atenção Básica e Atenção Hospitalar e Ambulatorial para o SUS. Porém, o estudo feito pela Comissão Intersetorial de Orçamento e Financiamento (Cofin) do CNS aponta que a necessidade real seria de R$ 42,5 bilhões investidos.

“É uma crise que tem o desfinanciamento da saúde, a precarização dos profissionais e uma série de problemas nas condições de saúde. Nós temos inúmeras denúncias de falta de equipamentos de proteção individual”, afirma Lúcia.

A especialista em saúde também destaca a importância de o SUS gerir todos os leitos de UTI do país, incluindo os da rede particular. “Essa medida precisar ser para ontem. Todos esses leitos precisam estar disponíveis para o SUS, para não aprofundar mais a desigualdade na ocupação dos leitos. A maioria dos leitos de UTI está na área privada, então precisamos garantir o atendimento igualitário”, finalizou.

Confira a íntegra da entrevista


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