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STF suspende votação do ‘marco temporal’ após pedido de vista de Mendonça

Tese contrária ao interesse dos indígenas não tem data para retornar ao Plenário da Corte. Marco temporal também tramita no Legislativo

@walelaps/Apib
@walelaps/Apib
Julgamento do marco temporal será retomado nesta quarta (20) sob a expectativa positiva de povos indígenas de um desfecho favorável

São Paulo – O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), adiou o julgamento que trata da aplicação do “marco temporal” na demarcação de terras indígenas no Brasil. Ele pediu vistas do processo, o que, na prática, significa mais tempo para análise antes de proferir seu voto. Até então, o placar está dois votos a um contra a tese aprovada na Câmara dos Deputados.

Até o momento, o relator do caso, Luiz Edson Fachin, e o ministro Alexandre de Moraes votaram contrários ao marco temporal. O único voto favorável foi do ministro Kassio Nunes Marques. Nunes Marques e Mendonça foram indicados ao Supremo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O político de extrema direita carrega laços com o agronegócio e histórico de desdém por pautas ambientais e indígenas.

O “marco temporal” é um tema polêmico e sua definição pelo STF tem o potencial de ter impacto profundo sobre os direitos e a proteção das comunidades indígenas no país. Agora, resta aguardar a retomada do julgamento para conhecermos o desfecho dessa importante discussão.

Não há data certa para a retomada do julgamento. Enquanto isso, o projeto aprovado na Câmara na última semana segue sua tramitação. A matéria passou em regime de urgência na Casa e agora está nas mãos do Senado Federal. Contudo, esta última Casa legislativa não deve apressar as coisas. O presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já adiantou que o Senado não adotará urgência no regime. Ao contrário, espera-se que Pacheco, inclusive, aguarde posicionamento mais contundente do Supremo sobre o tema.

O marco temporal

Lideranças indígenas, artistas e diversos movimentos sociais e sindicais se reuniram nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, localizado no centro da cidade, hoje, em um protesto contra o marco temporal. A manifestação contou com a presença de renomados artistas, como Daniela Mercury e Zélia Duncan, e ecoou fortemente o apelo para que o STF declare essa tese jurídica como inconstitucional.

O “marco temporal”, que é amplamente defendido por grupos ligados ao agronegócio, estabelece que apenas as terras ocupadas por comunidades indígenas até a data de promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988, podem ser demarcadas. Essa abordagem, na prática, colide com os direitos territoriais dos povos originários e dificulta significativamente o processo de demarcação. Além dos indígenas, artistas e movimentos sociais, o Ministério Público Federal (MPF) já pediu pela inconstitucionalidade da tese, bem como órgãos internacionais ligados à Organização das Nações Unidas (ONU).